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Nadador internado na UTI iniciaria faculdade e lutava contra epilepsia

Leonardo Assis Coutinho, 19, nadador do Pinheiros, teve hemorragia e foi internado na UTI - Divulgação / Esporte Clube Pinheiros
Leonardo Assis Coutinho, 19, nadador do Pinheiros, teve hemorragia e foi internado na UTI Imagem: Divulgação / Esporte Clube Pinheiros

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

04/01/2014 06h01

Até por ser muito competitivo, Leonardo Assis Coutinho sempre teve a determinação como atributo destacado. A rápida ascensão do nadador de 19 anos, que defende o Esporte Clube Pinheiros desde 2010 e está internado na UTI em São Paulo por conta de uma leucemia, está diretamente relacionada a isso. Em novembro do ano passado, contudo, ele precisou aprender que nem sempre é possível controlar o destino.

Após três ataques epiléticos em um mês, o paulista, recordista nacional dos 200m costas na categoria júnior, teve diagnosticada uma leucemia. Depois, uma hemorragia abdominal o levou para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Cruz Azul, em São Paulo. Prostrado, ele precisou trocar os sonhos de ingressar na faculdade e de fazer sucesso no esporte por um objetivo maior: sobreviver.

Coutinho começou a nadar em Itanhaém, no Litoral Sul de São Paulo, onde vivia com os pais. Quando a família mudou-se para a capital paulista, ele ingressou inicialmente no Espéria. Transferiu-se ao Paulistano quando tinha 12 anos, e em 2010, já como promessa da natação brasileira, trocou o clube pelo Pinheiros.

“No início eu tive um trabalho muito difícil porque era um garoto que não sabia perder. Ele era extremamente aguerrido e não lidava bem com a derrota, mesmo em competições para as quais a gente não o preparava para vencer. A partir do momento em que ele começou a ter algumas derrotas no processo de maturação, aprendeu a lidar melhor com isso. Até 2009, no Paulistano, ele era um dos destaques da equipe. No Pinheiros, vários nadadores estão no nível dele. Ele precisou amadurecer e conviver com as derrotas”, relatou Marcelo Tomazini, técnico da categoria júnior do Pinheiros.

Tomazini, 34, conheceu Coutinho em 2005, no Paulistano, quando o atual técnico ainda era nadador. Os dois migraram para o Pinheiros na mesma temporada. “Se eu tivesse de resumir a personalidade dele, acho que eu usaria a palavra determinação. O Leonardo sempre procurou aproveitar ao máximo as oportunidades”, contou o treinador.

No último ano de Paulistano, Coutinho disputou o Sul-Americano juvenil de natação. Em 2011, já no Pinheiros, ele esteve em mais uma competição internacional: o Meeting de juniores.

O nado costas sempre foi especialidade do paulista, mas Coutinho também disputava provas de medley. “Ele sempre teve os quatro estilos [crawl, costas, peito e borboleta] muito equilibrados”, analisou Tomazini.

Filho de uma nutricionista e de um policial, Coutinho estava matriculado no curso de educação física da Universidade Santana, em São Paulo. Pretendia começar as aulas no primeiro semestre de 2014.

Em novembro, porém, a condição física do nadador interrompeu a ascensão nas piscinas e o sonho acadêmico. Tudo começou porque Coutinho começou a reclamar muito de cansaço.

O nadador, que é epiléptico, também teve uma incidência maior de ataques. “Pelo que a mãe dele nos passava, o Leonardo tinha uma ou duas crises por ano. Só em novembro ele teve três”, disse o técnico.

O terceiro ataque aconteceu no restaurante do hotel que o Pinheiros estava hospedado, antes do Campeonato Brasileiro de natação da categoria júnior. O evento foi realizado na piscina do Botafogo, no Rio de Janeiro, em dezembro do ano passado.

Por causa do problema, Coutinho foi conduzido ao hospital, medicado, e posteriormente cortado do Brasileiro. Isso impediu o nadador de fazer tempo para o Camp Open Correios, realizado entre os dias 18 e 21 de dezembro, em Porto Alegre.

Depois do corte, Coutinho foi para Itanhaém com a família. Nesse período, o cansaço começou a se acentuar. “Houve um dia em que ele não conseguiu sequer sair da cama, e aí ele foi levado ao hospital. O primeiro diagnóstico foi de sintomas parecidos com os da dengue, como cansaço e enjoo, mas o exame deu um resultado muito alterado. A parte epiléptica já tinha a ver com o sistema imunológico, e os glóbulos brancos vinham subindo. Indicaram que ele fosse para São Paulo, e foi aí que ele deu entrada no Cruz Azul”, contou Tomazini.

Coutinho teve hemorragia ocular e hemorragia abdominal, e o segundo problema o levou para a UTI, ambiente em que o nadador pode ser monitorado de forma mais minuciosa.

Na UTI, a hemorragia foi estancada. Coutinho recebeu uma alta dosagem de plaquetas, e na sexta-feira de manhã instalou um primeiro cateter no pescoço. As primeiras sessões de quimioterapia serão aplicadas ainda na unidade de terapia intensiva.

Só depois disso, com o nadador já no quarto, os médicos poderão acompanhar a evolução do tratamento e dizer se ele precisará de um transplante de medula. Por todas essas condicionais, os prazos sobre a recuperação do nadador ainda são incertos.

“Durante um período, mesmo depois de curado, ele não vai poder praticar nenhuma atividade que debilite o sistema imunológico. O primeiro objetivo dele tem de ser vencer a leucemia. Ele vai perder uma janela muito grande: é um garoto de 19 anos, no auge da forma física, e o período de pausa vai atrasar muito a volta. Isso vai interferir muito na carreira dele, mas precisamos pensar primeiro na cura”, finalizou o técnico do nadador.