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CBDA desiste de ir à China, demite técnica e fica sem lugar para treinar

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

18/01/2014 06h00

A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) decidiu rever as principais apostas que havia feito para os saltos ornamentais em 2014. A entidade pretendia levar um grupo de dez atletas da modalidade para um estágio de dez meses na China, sob o comando de uma técnica chinesa, mas desistiu do projeto por causa do alto custo. E quando voltou a pensar em atividades no Brasil, a instituição deparou-se com um a situação dramática para quem sonhava tão alto: a pouco mais de dois anos dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, a equipe nacional não tem um lugar para treinar.

As seleções brasileiras de saltos ornamentais treinavam no parque aquático Júlio Delamare, no Rio de Janeiro. No entanto, o Governo do Estado do Rio de Janeiro decidiu fechar o aparato no ano passado para a construção de um estacionamento que serviria à Copa do Mundo de 2014.

Em novembro, sete meses depois da interdição, o Estado desistiu do estacionamento e reabriu o Júlio Delamare. O ginásio que abrigava os treinos dos saltos ornamentais, porém, já havia sido demolido.

Na época da reinauguração do Júlio Delamare, o presidente da CBDA, Coaracy Nunes, revelou que o Estado tinha um plano para um novo ginásio. O projeto estava orçado em R$ 2 milhões, segundo o dirigente, mas até hoje não saiu do papel.

“O espaço tem uma cama elástica e um trampolim no seco, que tem um cinto de segurança e uma roldana presa ao teto. Assim, o técnico pode segurar o atleta no ar e fazer o movimento que ele precisa repetir na piscina. Um atleta de saltos faz 70% dos treinos nesse ginásio. Ali é que ele vai ganhando confiança para os saltos”, disse Eduardo Falcão, responsável por saltos ornamentais na CBDA.

A entidade trabalha com a ideia de que o novo ginásio estará pronto em 2015. Por enquanto, a CBDA busca um local no Rio de Janeiro para uma instalação temporária. Outra possibilidade é levar as seleções para Brasília.

O prazo para essa definição termina em fevereiro, quando haverá seletiva da seleção brasileira para os Jogos Sul-Americanos. Depois, a ideia da CBDA é que a equipe faça pelo menos um mês de treinos antes da competição.

Independentemente do local escolhido, contudo, isso representará uma revisão de planos para a CBDA. Inicialmente, a ideia da entidade era levar as equipes nacionais para um estágio de dez meses na China, sob comando de Yu Fen, que era vice-head coach da seleção principal do país asiático.

No ano passado, um grupo de dez atletas chegou a fazer dois estágios de três meses na China. As viagens foram viabilizadas por Yu Fen, que já trabalhava como consultora da CBDA.

No entanto, as viagens foram cheias de problemas. No primeiro estágio trimestral, atletas ficaram em um hostel e reclamaram muito das acomodações. Além disso, tiveram problemas com alimentação.

“Detectamos vários problemas. Do primeiro para o segundo estágio, resolvemos a hospedagem e melhoramos a alimentação. Fizemos um projeto, mas sabíamos que ele estava sujeito a alguns riscos”, contou Falcão.

O segundo estágio também não ficou livre de problemas. Um atleta se recusou a participar, um teve diagnóstico de overtraining e mais “um ou dois”, segundo a CBDA, foram reprovados na escola por causa das viagens – a faixa etária do grupo de saltadores que viajou à China variava de 14 a 26 anos.

“Alguns negociaram com as escolas para fazer provas e até enviar trabalhos pela internet, mas um ou dois perderam o ano. Mas eles sabiam desse risco”, argumentou Falcão. “A gente dividiu essa responsabilidade com eles e com os pais, que autorizaram isso”, completou o dirigente.

O atleta com diagnóstico de overtraining, cujo nome não foi revelado pela CBDA, chegou a cogitar abandonar o esporte. Segundo Falcão, ele já retomou as atividades: “Foi psicológico. O treinamento na China é bem forte, diferente do que estamos acostumados aqui. Foram três meses de atividade de domingo a domingo. Ele ficou cansado de praticar a modalidade, mas está voltando aos poucos”.

A despeito dos problemas, a CBDA pretendia fazer uma viagem ainda mais extensa para a China em 2014. O país asiático, uma das principais potências da história dos saltos ornamentais, abrigaria a delegação nacional por dez meses. E Yu Fen, que foi consultora no ano passado, seria promovida a técnica principal.

No fim do ano passado, a CBDA viu que essa conta não fecharia. Diante do alto custo, a entidade desistiu da viagem para a China, dispensou Yu Fen e já iniciou a prospecção de mercado por um novo treinador.

“Não foi uma mudança de opinião, mas o projeto foi caminhando ao longo do tempo. Fizemos uma primeira experiência entre março, abril e maio. Foram dez atletas, ficaram lá nesse tempo e trouxeram de volta algumas coisas que poderiam ser melhoradas. No meio do primeiro estágio, com esse feedback, começamos a montar o segundo. No meio do segundo, começamos a pensar no terceiro, que seria muito maior e envolveria mais custos, como escola e remuneração dos atletas. Construímos um projeto no fim do ano passado, mas verificamos que ficaria muito caro levar todos. E como não podíamos privilegiar um ou dois, achamos que seria inviável”, relatou Falcão.

A CBDA não divulga o custo do “projeto China”. Parte do recurso que a entidade alocaria nessa incursão será destinada à contratação de um técnico de ponta, mas ainda não há prazo limite para o nome desse profissional ser definido.