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Como um bilhete em uma gaveta pode ajudar Brasil no Mundial de natação

Esperança do Brasil no Mundial de esportes aquáticos, Etiene tem gaveta com bilhete para ajudar na dieta - Danilo Verpa/Folhapress
Esperança do Brasil no Mundial de esportes aquáticos, Etiene tem gaveta com bilhete para ajudar na dieta Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

02/08/2015 06h00

Qualquer fator pode fazer enorme diferença no esporte de alto rendimento. Frações de segundos muitas vezes são a diferença entre título e fracasso, e a equipe brasileira de natação que está no Mundial de esportes aquáticos de Kazan é um bom exemplo disso. Uma das maiores esperanças do time nacional deve muito a um bilhete colocado dentro de uma gaveta.

A técnica motivacional é usada por Etiene Medeiros, 24, medalhista de ouro nos 100m costas dos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015, que também já foi campeã mundial nos 50m costas em piscina curta (Doha-2014, com direito a recorde mundial). Ela é dona do menor tempo de inscrição do Brasil em Kazan (27s38 nos 50m costas), algo inédito para o país.

“Minha psicóloga manda. Todo dia tem um bilhetinho, e todo dia eu abro. Tem toda uma rotina. No Brasil eu espalho pela casa – na geladeira, no banheiro e até na gavetinha do chocolate. Ponho que não pode e a porcentagem de gordura”, contou a nadadora.

A técnica de bilhetinhos já foi usada por outros atletas. Cesar Cielo, por exemplo, aderiu a isso na época em que estava na universidade de Auburn, nos Estados Unidos. A rotina começou quando ele recebeu de uma fã um bilhete com uma frase motivacional, e isso acabou virando um costume.

Etiene escreveu tudo que pretende atingir no Mundial de Kazan: “Tempo, quantidade de finais, se eu quero medalha ou não.... Acho que a palavra tem poderes. É como uma reportagem que eu vi em que uma moça pegou três potinhos de arroz e pôs palavras. No pote com o ódio, o arroz ficou murcho e seco”.

Outra estratégia motivacional já usada por Etiene é brincar com os próprios nadadores. Antes do Troféu Maria Lenk deste ano, por exemplo, a nadadora lançou em seu perfil na rede social Instagram uma promoção para distribuir prêmios a quem acertasse os tempos que ela faria.

“Não fiz isso para o Mundial, mas fiquei com vontade. Pode ser que no meio da competição se torne divertido e eu lance isso. A galera está perguntando. Deu uma motivada para mim e foi bem legal”, disse a atleta.

Henrique Rodrigues, dos 200m medley, também tentou usar os bilhetinhos. “Para mim não deu muito certo essa história. Acabei pregando no teto, na parede, na geladeira, no banheiro, mas não deu tempo. Ficava meio bitolado e não saía natural. Não tenho nada anotado”, avisou.

Nicholas Santos resolveu buscar motivação na meditação e no ioga. Dono do melhor tempo do ano nos 50m borboleta, o nadador de 35 anos foi convencido pela mulher a aderir às práticas.

“A parte psicológica eu não tenho acompanhamento com nenhum profissional, mas o que faço bastante é meditação. Ioga eu pratico às vezes com a minha esposa, que vai todo dia e fica me cutucando para fazer. Sou bem ansioso – não para competir, mas para tudo –, e isso me deixa mais no centro”, explicou.

A meditação e o ioga são partes de um processo de mudança de Nicholas. Foi algo que começou em 2011, quando o nadador resolveu se cuidar mais e investir numa alimentação mais saudável: Nunca tinha feito dieta porque nunca tive problema para engordar, mas comecei a entender melhor o meu corpo e saber o que era bom. Mudei muita coisa. Não como glúten, lactose, açúcar...”.