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Início do Mundial já faz brasileiros questionarem preparação e ida ao Pan

Leonardo de Deus fez no Mundial um tempo mais alto do que havia registrado no Pan e ficou fora da decisão - Michael Sohn/AP Photo
Leonardo de Deus fez no Mundial um tempo mais alto do que havia registrado no Pan e ficou fora da decisão Imagem: Michael Sohn/AP Photo

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

05/08/2015 06h00

Medalhista de ouro nos 200m borboleta nos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015, Leonardo de Deus chegou a nadar 1min55s01 no Canadá. O desempenho teria sido suficiente para colocá-lo na decisão da prova no Mundial de esportes aquáticos de Kazan, mas o brasileiro não conseguiu repetir o tempo (com 1min55s83 na eliminatória e 1min56s02 nas semifinais, foi eliminado com a nona marca). Exemplo de involução no espaço entre as duas competições, o sul-mato-grossense simboliza algo que ficou evidente nos primeiros dias de natação na Rússia: alguns representantes da delegação verde-amarela ficaram negativamente surpresos com a preparação.

A natação em Toronto foi realizada entre os dias 14 e 18 de julho. Depois dos Jogos Pan-Americanos, a delegação brasileira voltou ao país de origem e fez uma passagem curta antes de embarcar para a Europa. Depois disso, os atletas realizaram aclimatação em Rio Maior (Portugal) entre 24 e 29 de julho e viajaram a Kazan, onde o calendário da modalidade começou no dia 2 de agosto.

Atletas da delegação brasileira reclamaram muito do esquema montado pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) para Kazan. Toda a operação custou algo em torno de R$ 2 milhões, e a logística de viagem foi afetada pelo custo. A escolha de Rio Maior tem a ver com isso, e a rápida passagem pelo Brasil também.

“Eu vi uma frase que a nossa desculpa não pode ser maior do que o nosso sonho, mas às vezes as coisas acontecem. A viagem em si de Portugal para cá.... Eu descansei apenas dois dias, com a minha força física, para nadar logo no primeiro e depois nadar em todos os dias. Não favoreceu, e eu cansei bastante na semifinal. Vi o vídeo, e nos últimos cinco metros eu perco. Estava para um ritmo de final, mas acontecem essas coisas”, reclamou Felipe França. O brasileiro fez o quarto tempo dos 50m peito e foi à decisão da prova, mas caiu na semifinal dos 100m peito – registrou a 11ª marca.

Nos Jogos Pan-Americanos, França havia conquistado o ouro dos 100m peito com 59s21, recorde da competição e terceira melhor marca do planeta em 2015. Se tivesse repetido isso nas semifinais do Mundial, avançaria como o quarto melhor.

Até pela expectativa gerada em torno deles, Leonardo de Deus e Felipe França foram os casos mais emblemáticos de atletas que caíram do Pan para o Mundial. No entanto, a lista também tem Guilherme Guido (14º no Mundial com 53s88 na semifinal do 100m costas, teria sido sétimo se repetisse os 53s12 do revezamento do Pan), João de Lucca (16º nos 200m livre do Mundial com 1min48s23 na semifinal, teria sido sexto se repetisse os 1min46s42 do Pan) e Etiene Medeiros (nona colocada nos 100m costas do Mundial com 59s97, teria sido a sétima se repetisse os 59s61 do Pan).

Alguns atletas, como Manuella Lyrio e João de Lucca, fizeram um planejamento com previsão de ápice no Pan. Outros – Leonardo de Deus e Felipe França, por exemplo – tentaram ter dois picos de desempenho. O início do Mundial mostra que isso não funcionou.

“São duas competições gigantescas, o Pan-Americano e o Mundial. Você sai do Pan-Americano feliz da vida.... Poxa, recorde pan-americano e uma marca que me colocaria em quinto aí. Vai para um pico de felicidade, e eu fiquei ansioso. Fiquei feliz, e aí explode um pouquinho, extravasa um pouquinho. Aí você já tem de voltar de novo para o foco porque duas semanas depois tem uma competição. Eu estava me preparando psicologicamente para aguentar isso, mas chegou agora na prova e não sei. Não foi a melhor sensação que eu esperei. Alguma coisinha aconteceu”, lamentou Léo de Deus.

Cesar Cielo, por outro lado, preferiu não ir aos Jogos Pan-Americanos e passou a temporada dizendo que havia planejado um ápice para o período de Kazan. Após ter sido destronado nos 50m borboleta, prova em que defendia o bicampeonato, o brasileiro admitiu que está a apenas 70% ou 80% de sua capacidade e reconheceu que o pré-torneio não foi adequado.

Os picos de desempenho têm a ver com questões pessoais e decisões tomadas pelos atletas e seus estafes. O que chama atenção no caso do Brasil, porém, é a quantidade de nadadores que usaram variações de “ainda bem que isso aconteceu agora, e não em 2016” em apenas três dias da modalidade em Kazan.

“A gente já andou conversando e viu que participar de duas competições assim, uma seguida da outra, não foi legal para a gente. A gente não poliu 100% para o Pan-Americano e acabou não dando certo para cá, mas são coisas que acontecem. É voltar a cabeça no lugar e botar a cabeça nos treinos porque tem muita coisa até a Olimpíada do ano que vem”, disse Felipe Lima, que não chegou às finais nos 50m ou nos 100m peito.

O plano da CBDA era atingir pelo menos 12 finais no Mundial de Kazan, ainda que o número de medalhas caia em relação a edições anteriores.