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Nadadora que treinava em piscina no quintal põe Kosovo no mapa do Mundial

Rita Zeqiri fez o 46º tempo nas eliminatórias dos 50m costas no Mundial de esportes aquáticos de Kazan-2015, mas ainda assim marcou história - Guilherme Costa / UOL
Rita Zeqiri fez o 46º tempo nas eliminatórias dos 50m costas no Mundial de esportes aquáticos de Kazan-2015, mas ainda assim marcou história Imagem: Guilherme Costa / UOL

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

05/08/2015 06h04

Para quem já precisou fazer viagens constantes a outro país ou construir uma piscina no quintal de casa somente para treinar, percorrer os 50 metros da piscina de Kazan no Mundial de esportes aquáticos pode parecer tarefa simples. No caso de Rita Zeqiri, 20, não foi bem isso. A nadadora foi apenas a 46ª colocada na seletiva dos 50m costas nesta quarta-feira (05), mas ainda assim fez história. Ela é uma das quatro representantes do Kosovo, país que declarou independência da Sérvia em 2008, foi reconhecido em fevereiro pela Fina (Federação internacional de esportes aquáticos) e é um dos estreantes na Rússia – o outro é o Haiti.

“Eu não acreditei que poderíamos estar aqui. É muito bom saber que estamos aqui na Rússia pela primeira vez com passaportes da República do Kosovo. É um sentimento bom”, relatou Zeqiri.

A despeito de ser o principal nome da natação feminina do Kosovo, a atleta nunca havia participado de torneios europeus e sofreu muito para se preparar até Kazan-2015. Zeqiri começou a nadar porque havia uma piscina perto da empresa em que o pai trabalhava, mas encontrou um problema quando percebeu que era isso que pretendia adotar como carreira: não havia piscinas com tamanho olímpico no país.

“As piscinas que nós tínhamos e que ficavam perto eram de 17 metros. Nós viajávamos até a Albânia ou a Macedônia [países vizinhos] para treinar, e isso era muito difícil. Então, meu pai decidiu construir uma piscina no quintal de casa. Nadei lá por quatro anos”, contou a atleta.

Zeqiri deixou de treinar no quintal em 2013, quando o Kosovo criou um time de nadadores. A equipe conta com mais de 200 atletas atualmente e treina numa recém-inaugurada piscina de 25 metros – metade do tamanho dos aparatos olímpicos.

As dificuldades para treinar, contudo, são apenas parte da história dos atletas do Kosovo. Há um contexto político envolvendo o esporte do país, que ainda não tem independência reconhecida em uma série de lugares – a Rússia, por exemplo.

Em 2014, no Mundial de judô disputado em Chelyabinsk (Rússia), atletas do Kosovo não puderam usar a bandeira de seu país. Eles competiram com estampas da federação internacional da modalidade, o que amplia o contexto da entrada da delegação de lá em Kazan-2015.

“Eu acho que o esporte devia ser dividido de outras coisas, como política. O esporte nos mantém juntos, e era importante para nós estar aqui. Estou muito feliz e orgulhosa por representar Kosovo aqui”, disse Zeqiri, que agora faz planos para levar sua bandeira também aos Jogos Olímpicos de 2016: “Eu preciso melhorar meu tempo. Eu não nadei muito bem hoje [quarta-feira] porque estava muito emocionada por estar aqui. Acho que posso melhorar, e meu objetivo é a Olimpíada. Depois disso eu posso até parar de nadar”.