Joanna Maranhão se refaz após tentar suicídio. Agora, só destrói parede
Joanna Maranhão, 27, já foi além do fundo do poço. “Conheci o subsolo do poço”, contou a nadadora na última quarta-feira (05), em Kazan (Rússia), onde disputa o Mundial de esportes aquáticos. Em entrevista à revista “TPM”, a brasileira admitiu ter tentado suicídio duas vezes (a última em 2013). Hoje, porém, o período conturbado faz parte de um passado que a pernambucana não tenta esconder. Adepta de um estilo de vida completamente diferente, ela só fez uma vítima: uma parede da vila dos atletas.
“Quebrei. Acho que sim [sobre pagar uma multa]. É bom até vocês colocarem isso aí para eu falar ‘mãe, desculpa’. Fui jogar a medicine ball na parede porque não tinha ninguém, mas aí a parede quebrou. A moça olhou feio para mim, e eu tentei falar desculpa em russo, mas não deu certo. Dei meu nome para ela e me ofereci para pagar se fosse preciso, e depois contei o probleminha para o meu técnico”, disse Joanna Maranhão. Medicine ball é uma bola que pode ser feita de diferentes materiais, mas cujo propósito é ser mais pesada do que um artefato cheio de ar. “É uma rotina que eu gosto de fazer para manter força física. Acho que me sinto bem fazendo isso. Mesmo quebrando a parede”, completou a nadadora brasileira.
O acidente aconteceu na última terça-feira (04), véspera dos 200m borboleta. No dia seguinte, Joanna chegou à semifinal da prova e acabou eliminada com o 16º tempo (2min09s69).
“Achei boa a prova. Foi uma prova aceitável. Óbvio que eu queria vir para um 2min08, mas o 200m borboleta é uma prova difícil para nadar de manhã e de tarde forte. Fiz minha prova e acertei mais as viradas que tinha errado de manhã, mas acredito que aquela chegadinha minha foi um pouco ruim. Deve ter custado alguns centésimos. Não que isso fosse me pôr na final, mas como estou buscando sempre melhorar meu tempo, queria um pouquinho mais”, comentou a nadadora.
A despeito de ter sido eliminada, Joanna estava serena depois da semifinal. Foi uma reação bem diferente do que a brasileira teve na eliminatória dos 200m borboleta do Mundial de Barcelona-2013, quando fez o 16º tempo e avançou. Ela disputou aquela prova logo depois de uma crise de pânico: “Eu estava supermal da cabeça”.
Barcelona-2013 aconteceu no auge do segundo período complicado na vida de Joanna. A nadadora teve um primeiro momento na crise por causa da relação com um ex-técnico – ela revelou em 2008 que havia sido vítima de abuso sexual. Depois, desmoronou uma segunda vez quando descobriu que a família havia acumulado R$ 412 mil em dívidas.
“Quando mainha falou que era uma dívida de banco de R$ 412 mil, aquilo eu fiquei.... Pô, a culpa é minha. Não quero mais isso e não quero fazer mais com que eles passem por isso. Acho que foi como eu disse lá: eu não tinha coragem de fato para acabar com a minha vida, mas era um pedido de socorro”, disse Joanna.
A perspectiva da nadadora, contudo, mudou drasticamente. Ela trocou Recife por São Paulo no início de 2015, e para isso montou uma estrutura que possibilitasse a vida sem carro: vive num flat perto do Pinheiros, clube em que a atleta treina, e só se desloca de bicicleta.
Joanna também mudou a alimentação e incutiu ideias saudáveis em seu cardápio. A pernambucana frequenta feiras de produtos orgânicos em São Paulo e tomou gosto pela culinária.
O que mais mudou na rotina dela, no entanto, foi a perspectiva. “Lembro de um dia em Rio Maior, onde a caminhada do lugar que dorme para a piscina era de três minutos. Eu estava escutando música clássica e olhando. ‘Meu Deus, como o sol é lindo. A natureza...”. Há dois anos eu ia falar ‘que saco de treinar de novo’. É muito louco, mas quando você passa por uma coisa muito ruim e descobre sua pior versão para depois reverter isso, quando você fica mal e depois volta, você percebe que é muito bom viver. Viver está nas pequenas coisas. Você começa a valorizar tudo de novo, e é simplesmente maravilhoso”, finalizou a brasileira.
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