MP investiga sumiço de premiação que seria destinada a nadadores do Brasil
O Ministério Público Federal de São Paulo entrou com ação na última terça-feira (21) pedindo bloqueio de bens e afastamento de Coaracy Nunes, presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) desde 1988, por irregularidades em processos licitatórios envolvendo a entidade e dinheiro público federal. No entanto, isso não encerrou as denúncias envolvendo a instituição. Há outras investigações em curso, e uma delas envolve o sumiço de uma premiação que deveria ter sido destinada a nadadores.
O Brasil participou em 2014 de uma competição chamada BHP Billiton Aquatic Super Series, realizada na Austrália. O país sul-americano foi representado por 16 nadadores, e o regulamento do evento previa pagamento de 20 mil dólares australianos (R$ 49.732,00 em valores atualizados) ao grupo. Até agora, segundo dois atletas, ninguém recebeu.
A investigação do MPF tenta entender exatamente o que aconteceu com a premiação. Os organizadores da competição pagaram? Se sim, por que a CBDA não repassou o montante aos atletas? Se não, por que a entidade não reclamou ou acionou judicialmente os responsáveis pelo evento?
O episódio não foi citado na ação inicial do Ministério Público de São Paulo. Segundo a procuradora responsável pelo caso, Thaméa Danelon Valiengo, muitas novas denúncias foram apresentadas depois de o caso ter se tornado público. Há estágios diferentes de apuração para cada uma – a investigação que redundou na peça de terça-feira levou mais de oito meses.
A ação do MPF de São Paulo é decorrência da Operação Águas Claras e identificou desvios de conduta e gestão da cúpula da CBDA em licitações relacionadas a verba pública federal. Os danos ao erário, segundo a procuradoria, passam de R$ 1,5 milhão. A atual cúpula da entidade chamou o processo de eleitoreiro. A denúncia ocorreu em meio a um processo de sucessão de Coaracy Nunes, atual presidente, e será um dos principais assuntos da agenda não oficial de uma assembleia geral extraordinária prevista para a manhã desta quarta-feira (28).
“Não é que existam novas acusações. Adversários políticos fizeram todas as acusações possíveis, e conforme vamos explicando eles vão migrando. Eles querem manter pauta negativa”, disse Marcelo Franklin, do escritório Franklin Advogados, jurista contratado pela atual diretoria da CBDA.
O MPF questiona aspectos como uso de empresas de fachada e direcionamento em licitações. Além disso, há suspeita de superfaturamento.
Um dos dirigentes citados na ação é Sergio Ribeiro Lins de Alvarenga, diretor financeiro da CBDA. Em depoimentos ao MPF, atletas questionaram a gestão dele sobretudo por práticas em viagens, como compra de passagens feita em cima da hora e pagamento de preços superiores a médias de mercado.
Em relatos ao MPF, atletas também questionaram a lógica adotada pela CBDA na montagem do roteiro de viagem. “De todas as competições em que eu voei pela CBDA, de 2000 a 2010, todas foram emitidas através da [empresa] Roxy. Isso pode acontecer, mas havia licitação?”, perguntou Eduardo Fischer, 36, que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 e foi um dos nadadores ouvidos pela procuradoria.
O MPF também investiga o próprio comportamento de Lins de Alvarenga. Ainda de acordo com relatos de atletas, o dirigente usava apenas primeira classe em viagens bancadas com dinheiro público.
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