Crise da CBDA corta salários e põe em xeque aposta milionária da Rio-2016
Pouco mais de um mês depois do término dos Jogos Olímpicos Rio-2016, já é passado uma das maiores apostas feitas pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) no último ciclo. A entidade cortou repasse financeiro feito a atletas da seleção masculina de polo aquático, que recebeu aporte milionário durante a preparação para o megaevento, e isso colocou em xeque a continuidade de alguns dos principais nomes da equipe nacional.
Pensando na possibilidade de brigar por uma medalha na Rio-2016, a CBDA turbinou a seleção masculina de polo aquático com jogadores como Felipe Perrone e Paulo Salemi, brasileiros que defendiam, respectivamente, Espanha e Itália. Também foram contratados o croata Josip Vrlic, o sérvio Slobodan Soro, o espanhol Adrià Delgado e o cubano Yves Gonzáles. No total, o somatório dos salários brutos desses atletas custava R$ 99,4 mil aos cofres da entidade (R$ 28 mil de Perrone e R$ 25,2 mil para Vrlic e Soro, donos dos maiores rendimentos do grupo).
Os valores pagos a Perrone, Vrlic e Soro eram superiores, por exemplo, ao subsídio dado pela CBDA a Cesar Cielo, único campeão olímpico da natação brasileira, que recebia R$ 20 mil mensais da entidade durante a fase de preparação. O polo aquático nacional ainda contou com o croata Ratko Rudic, técnico mais vitorioso da história da modalidade, que trabalhou no Brasil para a Rio-2016 e foi bancado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil).
Rudic, contudo, deixou a seleção assim que acabou a participação do Brasil na Rio-2016 – a despeito do investimento, a equipe nacional foi eliminada nas quartas de final. A CBDA cortou valores repassados a atletas e comissão técnica, mas manteve o salário de Ricardo Cabral, gerente responsável pelo polo aquático (R$ 24 mil brutos por mês, valor que a entidade nega).
“Contratos de todos os jogadores terminaram após os Jogos Olímpicos e qualquer renovação está ligada à renovação de contratos com Correios e demais patrocinadores”, disse Ricardo de Moura, diretor-executivo da CBDA, em resposta por e-mail ao UOL Esporte.
Patrocinadores da entidade esportiva desde 1991, os Correios são a principal fonte de renda da CBDA. A estatal investiu R$ 95 milhões na instituição durante o último ciclo olímpico, mas teve R$ 2,1 bilhões de prejuízo apenas em 2015. Isso criou um empecilho para a renovação de contrato – o acordo é bianual, e o atual vínculo termina no fim de 2016.
As negociações de renovação entre CBDA e Correios também foram influenciadas por uma ação do Ministério Público Federal de São Paulo, que entrou com ação no dia 21 de setembro pedindo bloqueio de bens e afastamento de Coaracy Nunes, presidente da entidade esportiva desde 1988, por suspeita de fraudes em processos licitatórios envolvendo dinheiro público.
Depois de o escândalo ter sido deflagrado, os Correios enviaram mensagem à CBDA cobrando explicações sobre o caso e chegaram a cogitar rompimento unilateral do contrato.
“Aos poucos, vamos esvaziando as acusações. Eles vão migrando porque sabem que não está dando pé. Queremos esclarecer tudo porque quem não deve não teme. Queremos mostrar que é questão política”, disse Marcelo Franklin, do escritório Franklin Advogados, jurista contratado pela atual cúpula da CBDA.
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