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Campeões denunciaram fraude que prendeu cúpula da CBDA, diz procuradora

Coaracy (centro) é preso pela Polícia Federal nesta manhã de quinta-feira - JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Coaracy (centro) é preso pela Polícia Federal nesta manhã de quinta-feira Imagem: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Bruno Thadeu e Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

06/04/2017 13h06

O esquema de fraude que levou à prisão de Coaracy Nunes, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), e mais duas pessoas ligadas à alta cúpula contou com a denúncia de atletas importantes ligados aos esportes aquáticos.

Segundo a procuradora Thamea Danelon, do Ministério Público Federal, a investigação ouviu "campeões olímpicos e mundiais" durante a investigação, que colaboraram com denúncias. "Foram vários atletas ouvidos, inclusive campeões olímpicos e mundiais. Eles, unânimes, perceberam que tinham irregularidades, refletiam direto no desempenho. No sentido que quando iam para competições internacionais, não eram voos diretos, eram voos com muitas escalas, de classe econômica", disse a procuradora em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira.

Na história olímpica, o único brasileiro a conquistar medalha de ouro nos esportes aquáticos foi Cesar Cielo, ouro nos 50 m livre em Pequim-2008. Ele ainda conquistou seis medalhas de ouro em Mundiais de piscina olímpica (50 m), e teve mais dois triunfos em Mundiais de piscina curta (25 m). Porém, a procuradora não citou nominalmente o atleta. Indagada pelos repórteres se Cielo seria um dos denunciantes, a procuradora respondeu: "Prefiro não informar nomes".

Em entrevista concedida no Clube Pinheiros, nesta tarde, o nadador negou que tenha sido ouvido pela Procuradoria. "Eu não dei depoimentos mas soube que vários atletas foram chamados. Mas nunca recebi nenhum chamado do tipo. Só fiquei sabendo", explicou.

Os clubes brasileiros costumam receber atletas estrangeiros em competições nacionais, como a espanhola Mireia Belmonte, vencedora dos 200 m borboleta no Rio-2016, mas a Polícia Federal informou que apenas brasileiros foram ouvidos na investigação.

A procuradora informou que os desvios prejudicaram o rendimento dos esportes aquáticos nos Jogos Olímpicos. Atletas eram colocados em voos com diversas escalas e em classes econômicas, enquanto os dirigentes seguiam em cadeiras executivas.

"Atletas de 2m de altura que viajavam por diversas horas, não tinha acompanhamento médico ou de massoterapeutas, isso repercutia no treinamento e no resultado. O dinheiro deveria servir para fomento do esporte. Entre um dirigente viajar de classe executiva e um atleta, acredito que seja mais razoável que vá o atleta", explicou Thamea.

Na Olimpíada do Rio, o esporte aquático teve apenas uma medalha, com o bronze na maratona aquática com Poliana Okimoto.

Coaracy e mais 2 foram presos
A Polícia Federal prendeu três pessoas e encaminhou outras cinco de forma coercitiva para unidades da polícia no Rio de Janeiro e São Paulo. A Operação Águas Claras investiga desvio de verbas públicas que foram repassadas para a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).

Os detidos são Coaracy Nunes Filho, que deixou a presidência da entidade há duas semanas, depois de encerrado seu mandato, o diretor financeiro da entidade, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, e o coordenador de polo aquático, Ricardo Cabral. O gerente de natação, Ricardo de Moura, considerado o braço-direito de Coaracy, é o alvo do quarto mandado de prisão e está foragido.

Todos os detidos estavam no Rio de Janeiro e integravam a cúpula da entidade que rege a natação, polo aquático, nado sincronizado, saltos ornamentais e maratona aquática. Moura, inclusive, era cotado para ser candidato à eleição da entidade. No momento, a CBDA é presidida interinamente pelo interventor judicial Gustavo Licks.