Por mais que o ciclo olímpico até Paris seja mais curto do que o usual, de apenas três anos, Rafael Silva, o Baby, não pretende disputá-lo até o fim. Aos 34 anos, o judoca está em reta final da carreira e considera encerrá-la ainda este ano. O judô brasileiro, porém, depende dos resultados dele, e por isso tenta dissuadi-lo da ideia. Foi-se o tempo em que o Brasil era uma potência do judô. Paralelamente ao crescimento de países do leste europeu e da Ásia, principalmente no masculino, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) perdeu recursos e, consequentemente, resultados. Nos últimos 10 anos, em Mundiais, o Brasil até ganhou quatro medalhas no pesado em Mundiais, mas as outras categorias, somadas, faturaram só uma. Com Baby e David Moura, a categoria mais nobre do judô passava longe de ser uma preocupação para a CBJ até 2020. Mas David se aposentou depois de perder a corrida olímpica de Tóquio para Baby, e agora o veterano também fala em aposentadoria. Neste ano de 2022, ele ainda compete, mas a tendência é de aposentadoria depois do Mundial. Se isso acontecer, o Brasil pode inclusive ficar fora de Paris-2024 no pesado, o que significaria também acabar sem chance de medalha na prova por equipes. Aos 34, Baby já diminuiu o volume de treinamento e está naturalmente cansado, pensando no que vai fazer quando deixar de ser atleta. Caso ele não tope competir em alto nível até 2024, a CBJ quer que Baby pelo menos continue na seleção, ajudando a formar um substituto. Daniel Lemes, campeão pan-americano júnior e sétimo no Mundial Júnior do ano passado, seria um dos candidatos. Yuri Santos, 19 anos, foi observado até ontem, em um camping no Rio com o francês Teddy Riner, que pediu para vir treinar no Brasil. Neste ciclo até Paris, o Brasil deve ter três homens brigando entre os melhores do mundo: Willian Lima, 22 anos, campeão mundial júnior na categoria até 66kg, o medalhista de bronze olímpico Daniel Cargnin, agora uma categoria acima, na até 73kg, e Guilherme Schmidt, 21 anos, sétimo no Grand Slam de Paris na até 81kg. Claro que pode acontecer uma surpresa, mas desde maio de 2019 nenhum brasileiro que não esses três, Baby ou David Moura vai ao pódio em um Grand Slam realizado fora do país. Neste início de ano, a única medalha do masculino em Tel Aviv, de prata, veio exatamente com Baby. E há ainda uma preocupante limitação de orçamento. A CBJ, que já vinha perdendo patrocínios importantes desde 2016, agora ficou também sem o Bradesco. Para 2022 ainda há verbas já captadas via Lei de Incentivo ao Esporte, mas em 2023 a coisa vai apertar. Some-se a isso o fato de boa parte do calendário internacional acontecer em locais de difícil acesso a partir do Brasil, muitos perto da Rússia, a desvalorização do real e os custos com testes de covid. Nesse ciclo, a seleção vai viajar menos, com menor limite para testes. Em outras modalidades, isso tem significado apoio para quem já está no topo, mas menor investimento em quem está chegando à elite. A tendência é isso se repetir no judô. No feminino o Brasil deve ter Rafaela Silva e Mayra Aguiar em mais um ciclo olímpico. Maria Portela, que foi às últimas três Olimpíadas, também pretende continuar na seleção, mas ameaçada por atletas mais jovens, como Luana Carvalho e Ellen Santana. No pesado, Maria Suelen ainda não voltou a treinar depois de se lesionar em Tóquio e não está claro se ela continua no judô. De qualquer forma, o país estará bem servido com Bia Souza, que já é número 2 do ranking. PUBLICIDADE | | |