Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, Felipe Kitadai ainda não fez um anúncio oficial, mas já pendurou o quimono. O pós-carreira começou agitado: ele foi promovido a sexto dan, tornou-se pai na semana passada e está arrumando as malas para em breve embarcar para ser o novo técnico da seleção austríaca sub-21 de judô. Kitadai não estará sozinho na Europa. Outros dois grandes judocas brasileiros aposentados recentemente também assumiram cargos em seleções europeias: Luciano Correa e Erika Miranda são treinadores da Alemanha. E a lista deve aumentar, porque Leandro Guilheiro tem proposta da França, já viajou até Paris para entender como seria seu trabalho, e estuda a possibilidade. Ele também tem convite de Israel. Com quatro judocas brasileiros aposentados há pouco tempo assumindo responsabilidades em seleções rivais, há um movimento em curso. E um movimento inédito, porque outros atletas que também tiveram sucesso no judô, com conquistas internacionais, seguiram o pós-carreira no Brasil, em funções atreladas ao que conquistaram dentro dos tatames.Flávio Canto virou apresentador e criou o Instituto Reação; Aurélio Miguel e João Derly entraram para a política' Rogério Sampaio hoje é CEO do COB; Henrique Guimarães e Danielle Zangrando ocuparam cargos de gestão de esporte nas prefeituras de São Paulo e Santos; enquanto Carlos Honorato e Douglas Vieira viraram treinadores no Brasil. No caso de Erika, Kitadai e Luciano, os motivos que os levaram à Europa são diferentes, mas as razões que justificam o convite são as mesmas: a identificação de que eles têm muito conhecimento para compartilhar. Erika se aposentou de supetão em 2018, aos 31 anos, quando era quando ranking mundial, e foi morar no Canadá. Estudou gestão esportiva e não tinha convite algum para trabalhar no Brasil, quando veio a oferta de emprego na Alemanha. A seleção alemã tem como head coach Pedro Guedes, que chegou a ser atleta da seleção brasileira (era rival de Guilheiro), e fez carreira como treinador no exterior, passando pelo Canadá e pela Eslovênia até ser contratado para comandar o time masculino sub-17 da Alemanha, há cinco anos. Agradou tanto que virou o primeiro estrangeiro a comandar a equipe principal em mais de 50 anos. O país tem centros de treinamento regionais onde treinam atletas de todas as categorias, mas com uma especialidade. Erika é treinadora na região de Munique, onde a Alemanha tenta desenvolver as categorias femininas mais leves, apostando no conhecimento da brasileira. Campeão mundial em 2007, Luciano Corrêa chegou a ser técnico da equipe principal do Minas Tênis Clube, mas pediu demissão para morar na Bélgica com a esposa Joanna Maranhão, que foi aceita em um curso de mestrado lá. Uma vez na Europa, o brasiliense chegou a se juntar à seleção brasileira como treinador em competições e, se quisesse, continuaria ligado à Confederação Brasileira de Judô, que recentemente renovou as comissões técnicas. Mas optou por ficar na Europa e trabalhar com a seleção da Alemanha no centro de Potsdam. Kitadai nem anunciou o fim da carreira como judoca, o que acontecerá nos próximos dias, e já fechou como treinador da seleção sub-21 da Áustria, em um novo momento de sua vida pessoal, agora pai. Na semana retrasada, ele foi promovido a sexto dan, reconhecimento da CBJ aos medalhistas olímpicos aposentados (Erika e Luciano são quinto dan, por serem medalhistas mundiais), mas no Brasil ele teria que começar de baixo na carreira de técnico, o que naturalmente não garante um bom salário. O quarto a ir embora deve ser Leandro Guilheiro, que se aposentou no fim de 2020, quando assumiu a tarefa de consultor do Pinheiros — ele é treinador na prática, mas não tem formação em Educação Física, apesar de seu notório conhecimento. Na época, Tiago Camilo foi contratado como treinador principal, mas o também medalhista olímpico deixou o clube recentemente e Guilheiro foi promovido a, na prática, head coach. Mesmo em um cargo desejado no país, Guilheiro estuda convites de França e Israel. Camilo, que recentemente ocupava os postos de head coach do Pinheiros, diretor do Centro Olímpico de São Paulo (ligado à prefeitura) e presidente da Comissão de Atletas do COB, deixou todas essas funções e hoje se dedica à sua própria academia e a outros projetos pessoais. David Moura, aposentado no fim do ano passado, montou um núcleo do Instituto Reação em Cuiabá (MT) e tem atuado junto de Flávio Canto no comando do Instituto. Do grupo que recentemente se aposentou da seleção, a única contratada pela CBJ foi Sarah Menezes, e com um cargo importante. De atleta, ela passou direto à função de técnica principal da seleção feminina, substituindo Rosicléia Campos. No masculino, para o lugar de Luis Shinohara, foi contratado Antonio Carlos Pereira, o Kiko, técnico super vitorioso da Sogipa. PUBLICIDADE | | |