Todo Mundial é, de alguma forma, um termômetro para Paris-2024. Assim, o título é clichê — mas vale. O Mundial de Esportes Aquáticos, que começa sexta-feira (17) em Budapeste, na Hungria, é mais importante do que a simples avaliação de quem conseguirá bons resultados e, assim, entrará na lista de candidato a uma medalha na próxima Olimpíada. Historicamente, a imprensa (inclusive este colunista) trata o Mundial de Esportes Aquáticos como "Mundial de Natação". Economiza espaço em títulos, mas também diz ao leitor que estamos falando do Mundial em que a disputa mais importante é, pelo menos para o Brasil, a da natação. As outras modalidades, se muito, eram nota de rodapé. Ok, também tem nado artístico, saltos ornamentais e polo aquático, mas o que importa é a natação e, nos últimos anos, a natação em águas abertas, antes chamada de maratona aquática. Mas este Mundial, especificamente, também deve apontar uma nova balança de forças entre modalidades no Brasil. Por causa das provas de 50 metros em estilos, o Brasil pode beliscar algumas medalhas na natação. Mas, pensando apenas nas provas olímpicas, aquelas em que o Mundial serve como teste para Paris-2024, há tantas chances na piscina quanto nas águas abertas e nos saltos ornamentais. Na natação, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) projeta quatro possibilidades de medalha em provas olímpicas, com os quatro atletas que fizeram final em Tóquio-2020: Bruno Fratus (terceiro do ranking mundial dos 50 m livre), Fernando Scheffer (200 m livre), Leo de Deus (200 m borboleta) e Guilherme Costa (800 m livre). Além deles, Nicholas Santos é favorito nos 50 m borboleta, e João Gomes Jr e Felipe França têm boas chances nos 50 m peito e 50 m costas. "Mas a gente tem atletas jovens que podem crescer. Que se melhorar meio segundo em prova de 100 metros, ou um segundo em prova de 200 metros, entra na zona de medalha. Foi o que aconteceu com o Scheffer. É o que a gente gostaria muito", diz Renato Cordani, diretor geral de Esportes da CBDA. Neste caso, uma das esperanças é Matheus Gonche, 24º do ranking mundial dos 100 m borboleta. No Mundial passado, em 2019, o Brasil fez sete finais em provas olímpicas, ante seis em 2017. Para chegar ao mesmo patamar, vai depender dos revezamentos. No feminino, o país vai participar das três provas coletivas, em busca da segunda final na história — a primeira foi o 4x100 m medley de 2009. "A ideia é se aproximar das finais. Como são atletas jovens, elas podem melhorar os tempos com vistas em entrar na final olímpica em Paris", afirma Cordani. No feminino, Etiene Medeiros, medalhista nos últimos três Mundiais nos 50 m costas, prova não olímpica, estava machucada na seletiva e não vai a Budapeste. E o outro grande nome da natação feminina do país na atualidade, Viviane Junglubt, vai focar nas águas abertas. Ela até vai competir em piscina (as provas vão do dia 18 ao dia 25, de sábado a sábado), mas o objetivo será subir ao pódio nas águas abertas, que será nos dias 26, 27, 29 e 30. Nesse próximo ciclo até 2024 a gente optou por focar nas maratonas, onde a gente acredita que é um cenário de mais chance de uma medalha olímpica. Meu foco está nos 10 km. Tenho sentimento de que vou confiante, de que não devo nada para ninguém" Viviane Junglubt O grande nome da delegação é Ana Marcela Cunha, que tem cinco medalhas de ouro e um histórico de 11 pódios em Mundiais. Mas ela nunca ganhou nos 10 km, prova olímpica. Em grande fase, ela é a favorita a ficar com a medalha de ouro desta vez. Um pódio duplo com Vivi não será surpresa. Nova realidadeVale muito a pena ficar de olho também no que o Brasil vai conseguir fazer nos saltos ornamentais, a partir do dia 26, domingo. Se antes os brasileiros brigavam quando muito por semifinal, agora há chance real de pódio. E mais de uma. Kawan Pereira vai ao Mundial credenciado por uma final olímpica (foi 10º na plataforma), melhor resultado de um brasileiro na história, e por duas medalhas (um ouro e um bronze) no Mundial Júnior. Ele tem só 19 anos (faz 20 esta semana, aliás), e está em crescimento. No fim de semana, Ingrid Oliveira ganhou o Grand Prix de Calgary (Canadá) na plataforma, com a melhor exibição da vida e uma nota que valeria a ela o quarto lugar na Olimpíada de Tóquio. Ela sempre foi uma atleta fora da curva no Brasil, mas teve a carreira prejudicada, até aqui, por lesões e por falhas em momentos importantes. Em boa forma e confiante, como no Canadá, vira candidata a medalha. E o Brasil ainda tem o garoto Rafael Fogaça, de só 18 anos, que foi quarto colocado em Calgary no trampolim depois de se classificar em primeiro para as finais. Até Paris, a tendência é que diversas modalidades, como os saltos ornamentais, entrem na lista das que podem brigar por medalha, em um processo que afasta o Brasil do seu caminhão de expectativa em cima dos "carros-chefe" (judô, vela, vôlei, natação e atletismo). Só este fim de semana, além dos bons resultados nos saltos ornamentais, o Brasil teve um sexto lugar de Miguel Hidalgo na etapa de Leeds (Inglaterra) do circuito mundial de triatlo; João Victor Diniz e Ícaro Miguel com ouro no Luxemburgo Open de taekwondo; Caio Souza com quatro medalhas na Copa do Mundo de Osijek (Croácia) de ginástica artística, e Pepê Gonçalves com bronze no K1 extremo na etapa de Praga (República Checa) da Copa do Mundo de canoagem slalom. E não acabou: Davi Silva, de 18 anos, saiu do quali para ser vice no Aberto de Santo Domingo (República Dominicana) de badminton; o ouro em uma etapa três estrelas da Copa das Nações de hipismo saltos; Danilo Fagundes em sua primeira final em Copa do Mundo de pentatlo moderno (foi 12º em Ancara, na Turquia) e, claro, Bia Haddad Maia com seu primeiro título de WTA na grama. Se, entre toda essa galera, o Brasil faturar duas medalhas em Paris, vai estar ótimo. O momento, agora, é de identificar quem é de fato potencial medalhista, para focar investimentos. E o Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste vai ajudar neste processo. PUBLICIDADE | | |