Olhando os números gerais, o Brasil fez um bom Mundial na natação, em Budapeste. Chegou a 14 finais, superando as campanhas de 2017 e 2019, quando fez 12. O mais importante é que, dessas finais, 10 foram em provas olímpicas, ante 7 e 8, respectivamente, em cada uma das últimas edições. O número de medalhas em provas olímpicas se manteve: uma em cada Mundial. Neste, conquistou o bronze com Guilherme Costa, o Cachorrão, nos 400 m livre. Mas a campanha, em parte ajudada pela ausência da Rússia e de diversos atletas com covid-19, coloca sob discussão parte significativa do trabalho que vem sendo feito nos últimos anos por treinadores, pelos grandes clubes que concentram os principais nadadores, pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). Os atletas e as provas olímpicas em que historicamente o Brasil tem seus melhores resultados — e, portanto, onde se investia mais dedicação e dinheiro — quase não deram resultado. Nem mesmo Bruno Fratus, estrela da natação brasileira que vinha de três medalhas seguidas nos 50 m livre e foi bronze nos Jogos Olímpico de Tóquio, conseguiu se classificar à final. O Brasil, como seleção, apresentou evolução nas provas olímpicas (único objeto desta análise). Mas não pelos caminhos esperados. Na década passada, os melhores resultados do Brasil em provas olímpicas do Mundial se concentraram nas disputas masculinas e de maior velocidade (50 m, 100 m e 200 m livre, 100 m e 200 m borboleta, 100 m e 200 m costas, 100 m peito e 200 m medley), além dos 400 m medley. Deste grupo vieram todos os 10 melhores resultados nos Mundiais de 2011, 2013 e 2019, e oito dos 10 melhores em 2015 e 2017. O Brasil não esteve em nenhuma final que não fossem essas. Agora, na Hungria, o desempenho brasileiro foi muito diferente. Nas provas olímpicas de velocidade, o Brasil não conseguiu chegar a finais — os dois medalhistas olímpicos, dos 50 m e 200 m livre, foram eliminados na semi, mesmo nadando rápido em outras etapas da competição. Enquanto isso, dos 10 melhores resultados, cinco foram com mulheres, e seis em provas de meio e meio fundo, algo inédito na história recente do país. O fracasso dos homens nas provas de velocidade, de uma forma geral, é surpreendente, pensando na linha histórica da natação brasileira. Há quatro anos o Brasil festejava ter um grupo coeso, com pelo menos uma dúzia de atletas de até 22 anos especialistas nestas distâncias. Nomes como Gabriel Santos, Pedro Spajari, Vini Lanza, Brandonn Pierry.... Era uma geração para arrebentar em Tóquio e liderar a natação brasileira no ciclo até Paris. Mas só Fernando Scheffer e Guilherme Costa, o Cachorrão, atingiram em provas individuais o nível esperado para eles. O gaúcho foi bronze no Japão, enquanto o carioca fez final nos 800 m livre, fechando raia. Neste primeiro Mundial do ciclo, Cachorrão voou em três finais, com três recordes sul-americanos e uma medalha, e Scheffer acabou fora da final dos 200 m livre por pouco. Também é preciso destacar o desempenho de Vinicius Assunção, jovem de 20 anos do Fluminense. Ele não se classificou para competir em nenhuma prova individual, mas teve as melhores parciais do Brasil no 4x100 m livre (47s91 nas eliminatórias e 47s63 na final) e teve marca quase idêntica (1min46) a de seus colegas mais renomados no revezamento 4x200 m livre. Até nos revezamentos houve uma mudança de paradigmas. Se no 4x100 m livre masculino o sétimo lugar foi o pior resultado desde 2013 e no 4x100 m medley o Brasil ficou fora da final depois de um quinto e um sexto lugares nas últimas duas edições, no 4x200 m o país por pouco não ganhou uma medalha (ficou em 4º), depois de ficar longe das finais entre 1982 até 2019. No feminino, em que o Brasil só havia disputado uma final, em 2009, desta vez foram duas participações de revezamentos em disputas por medalha. De forma geral, a campanha feminina do Brasil foi muito acima do usual. Mesmo priorizando as águas abertas, Vivi Jungblut fez duas finais nas piscinais (800 m e 1.500 m). Bia Dizotti bateu o recorde brasileiro e ficou em sexto nos 1.500 m. Stephanie Balduccini, de 17 anos, participou de duas semifinais, sempre melhorando seus recordes pessoais, algo que, entre os homens, só Cachorrão conseguiu (cinco vezes, em três provas). Com a participação de Giovanna Diamante nos 100 m borboleta e de Lorrane Ferreira nos 50 m livre, foram sete semifinais no feminino em provas olímpicas (contando as provas de fundo, que têm final direta), contra seis dos homens. É verdade que o topo da pirâmide, o grupo que briga por medalhas, é formado só por homens. Mas o miolo dela, antes composto quase que exclusivamente por homens, agora tem predominância das mulheres, mesmo sem que elas antes tenham sido maioria na base. O natural é que, em um futuro breve, talvez já em Paris, elas também brilhem no topo. PUBLICIDADE | | |