Em qualquer outra seleção do mundo, a saída repentina de meio time campeão exigiria alguns passos atrás. Mesmo em um clube endinheirado, que pode resolver o problema contratando novos atletas, a solução demora. Mas, em uma seleção, é pior. É convocar quem antes não era convocado, escalar quem antes não era escalado, e tentar buscar desempenho do nível de quem já ganhou o mundo. A missão de José Roberto Guimarães era duríssima, ainda é, mas vem sendo bem-sucedida. Sem Natália, Carol Gattaz, Camila Brait, Fê Garay e Tandara, todas cotadas entre as melhores do mundo e peças-chave da seleção em Tóquio, e já tendo perdido também Thaisa ano passado, o treinador achou um novo time. Em 12 jogos na primeira fase da Liga das Nações, o Brasil venceu 10. Terminou em segundo, só atrás dos EUA, repetindo a classificação da Olimpíada do ano passado, quando mais da metade da equipe estava na casa dos 30 anos. Exceto Ana Cristina, que pouco jogou, ninguém tinha menos de 27 anos e dois ciclos olímpicos nas costas. Agora, de 18 jogadoras utilizadas, 11 têm 23 anos ou menos. É verdade que a fase de classificação da Liga das Nações é só um estágio para a fase final, na próxima semana, em Ancara, na Turquia. Por causa de um critério bizarro que beneficia a seleção dona da casa, transformada em cabeça de chave número 1, o Brasil vai enfrentar o forte time do Japão já nas quartas de final. Mesmo que não vença, mesmo que caia na semifinal, mesmo que termine sem medalha, mesmo assim o objetivo neste começo de ciclo olímpico da seleção feminina de vôlei parece cumprido. Zé Roberto se planejou por anos para o momento em que a renovação não seria uma opção. No seu time em Barueri (SP), onde muitas vezes tirou dinheiro do bolso para pagar salários e despesas das mais diversas, ajudou a lançar boa parte das meninas em que agora confia a seleção. Nyeme, Natinha, Kisy, Diana, Lorrayne, Lorena, Karina, Mayany e Lorenne passaram com destaque pelo projeto, saíram para clubes mais ricos, mas agora reencontraram o técnico na seleção. Ao longo de três semanas, o treinador rodou o elenco, deu boas oportunidades para todo mundo que tinha à disposição, e colheu os frutos. O time foi melhorando e saiu invicto da última etapa, na Bulgária — fase em que, é preciso reconhecer, enfrentou adversárias mais fracas. Em Sofia, Julia Kudiess, de 19 anos, fez seus primeiros jogos como titular. Foi bem em todos, e sentou na janelinha do time que deverá jogar a fase final, uma vez que Diana, por lesão, está fora. Julia Bergmann, de 21, também mostrou bola para ser titular, mas contra ela pesam a concorrência de Rosamaria, preservada por Zé Roberto, e o fato de que não estará disponível para o Mundial — ela vai ficar nos EUA terminando a faculdade. O desempenho mostra que o treinador acertou na estratégia de renovação. Contando com só cinco das mais experientes integrantes do time de Tóquio (Carol, Rosamaria, Macris, Roberta e Gabi), poderia ter corrido atrás de jogadoras de destaque do país, mas que até então estavam descartadas. Com esse perfil, só chamou Pri Daroit, de 33 anos, que havia pedido dispensa no passado, mas reconquistou a confiança do treinador. O sangue novo não apenas manteve o Brasil no topo, com derrotas para Itália e EUA na fase de classificação, como permitiu à seleção ser abraçada pela torcida, encantada com esse novo time. O momento é de olhos brilhando. Já na seleção masculina, a coisa não anda tão boa e as críticas são pelo contrário: a falta de renovação. O Brasil de Renan Dal Zotto é só sexto colocado, com cinco vitórias em oito jogos, e corre risco real de não se classificar para a fase final. Nesta semana, a seleção joga em Osaka, no Japão. Enfrenta a Alemanha (quarta, às 3h40 de Brasília), o Canadá (quinta, às 6h), a França (sexta, às 3h40) e o Japão (domingo, às 7h10). Franceses e japoneses têm campanha melhor que o Brasil, que precisa muito vencer alemães e canadenses. Alan, maior pontuador do time, rompeu o tendão de Aquiles do tornozelo direito no jogo contra o Irã e vai ficar fora das quadras por seis meses. Não joga o Mundial e desfalcará o Blumenau, que investiu uma bolada para contratá-lo, durante a maior parte, senão toda, a fase de classificação da próxima Superliga. PUBLICIDADE | | |