Começa na próxima sexta-feira, em Eugene (EUA), na pista da Universidade do Oregon, a 18ª edição do Mundial de Atletismo. E o Brasil, mesmo com crise financeira vivida pela redução de investimentos de clubes e prefeituras, tem grandes chances de fazer a melhor campanha da história. Apesar da tradição da modalidade no Brasil, que já ganhou cinco ouros olímpicos, o país tem um só título mundial: o ouro de Fabiana Murer, no salto com vara, em Daegu-2011. Esse tabu pode cair em Eugene. Pela primeira vez, o Brasil vai ao Mundial com duas chances reais de ouro, e cinco candidatos fortes a medalha. Alison dos Santos, o Piu, medalha de bronze em Tóquio nos 400 m com barreiras, é a maior delas. Se a prova — que tem eliminatórias às 17h20 (de Brasília) de sábado, semifinal às 22h03 de domingo e final às 23h50 de terça (19) — não tiver nenhuma grande surpresa, o ouro será disputado entre o brasileiro e o norte-americano Rai Benjamin, com favoritismo de Piu. Os dois já correram, nos Jogos de Tóquio, abaixo do que era até então o recorde mundial, mas foram superados pelo fenômeno Karsten Warholm, norueguês que já ocupa outra prateleira na história do esporte. Como Warholm se machucou na única prova que disputou esse ano, Piu e Benjamin dominam a temporada. O brasileiro tem quatro das melhores marcas de 2022. O americano, a outra, segunda do ranking. No único confronto entre eles no ano, deu Piu. No peso, Darlan Romani não é favorito ao ouro, nem sequer é favorito ao pódio, mas tem boas chances de chegar lá. Diferente de Piu, que foi a todas as etapas possíveis da Diamond League, o catarinense ficou boa parte da temporada no Brasil. Sua melhor marca, 21,70m, que valeu o ouro do Ibero-Americano, daria o quarto lugar na Olimpíada de Tóquio, posição que ele ocupou com 21,88m. O problema é que os três medalhistas do Japão estão em ótima fase. O americano Ryan Crouser tem incríveis 23,12m na temporada — nos últimos dois anos, ele fez oito das 10 melhores marcas de todos os tempos. Também americano, Joe Kovacs já fez 22,87m e o neozelandês Tom Walsh aparece com 22,31m no ranking. É uma boa distância para Darlan tirar. Mas o brasileiro já fez isso no Mundial Indoor, em março, quando foi ouro vencendo Crouser e Walsh. O arremesso de peso terá eliminatórias às 22h55 de sexta e final às 22h27 de domingo. A terceira chance real de medalha é na maratona. Daniel Nascimento, como revelou o Olhar Olímpico, chegou a se oferecer para se naturalizar chinês, mas o processo não avançou. A CBAt e o COB acertaram um apoio mensal a ele, que vai ao Mundial para representar o Brasil. Mesmo sendo o mais jovem entre os inscritos na maratona masculina, Danielzinho não deve nada a nenhum dos rivais. Mais rápido atleta não nascido na África (fez 2h04min51 em Seul este ano), ele deve duelar contra corredores da Etiópia e do Quênia, países que não selecionaram seus melhores para o Mundial, mas terão times de respeito. A Etiópia levará Tamirat Tola (2h03 como melhor da carreira, foi segundo em Boston), Mosinet Geremew (2h02, atual vice-campeão mundial, venceu Daniel em Seul), Deso Gelmisa (2h04, campeão em Paris este ano) e Seifu Tura (2h04, vem de vitória em Chicago). O Quênia escalou Geofrey Kamworor (2h05, tem cinco pódios em Majors), Barbanas Kiptum (2h04), Lewrence Cherono (2h03, foi quarto na Olimpíada). Em Mundiais, assim como em Olimpíadas, a maratona costuma ser mais tática do que rápida, o que pode aumentar as chances de medalha de Danielzinho. Basta ver que, em Tóquio-2020, o holandês (nascido na Eritréia) Hiskel Tewelde, e o belga Bashir Abdi (nascido na Somália) foram prata e bronze, mesmo sem nunca terem sido nem top 5 de uma major. Ambos também estão inscritos no Mundial, em prova marcada para as 10h15 de domingo. Thiago Braz também é boa aposta. Medalhista nas últimas duas Olimpíadas (ouro na Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020) e no Mundial Indoor deste ano (conquistou a prata), Thiago cresce na hora certa. Ele fez o segundo melhor salto da carreira ao ar livre em Estocolmo, na última competição preparatória para o Mundial — no Oregon, deverá brigar pela prata. Mondo Duplantis, sueco, tem enorme favoritismo pelo ouro (é o maior saltador da história), mas as outras posições no pódio estão abertas. Desde o início do ano passado, só Duplantis, muitas vezes, e o americano Christopher Nilsen, duas, saltaram acima dos 5,93 m que Thiago fez na Suécia. Sam Kendricks, americano que também poderia ser uma ameaça, está machucado. Se o brasileiro fizer o que está acostumado em grandes eventos e saltar acima de 5,85 m, deve chegar ao pódio, brigando diretamente com o filipino Ernest Obiena, seu colega de treino em Fórmia, na Itália. A prova terá eliminatórias na sexta, às 21h05, e final no domingo, às 21h25. Na marcha, Caio Bonfim já tem uma medalha em Mundial, (bronze em 2017), e vai buscar outra. O brasiliense vem de boa temporada, tendo ido ao pódio de todos os três eventos internacionais que disputou. Na República Tcheca, ganhou com a segunda melhor marca do ano, apenas um segundo atrás do que tem o japonês Koki Ikeda, prata em Tóquio. A prova, na sexta, às 19h10, não terá o atual campeão olímpico, o italiano Massimo Stano, nem o atual campeão mundial, o japonês Toshikazu Yamanishi, Nos 110 m com barreiras, o Brasil tem chance real de colocar pelo menos um atleta na final — mas podem ser três, o que seria um feito histórico. No Troféu Brasil, as marcas de Rafael Pereira, Eduardo de Deus e Gabriel Constantino teriam valido vaga na final olímpica de Tóquio. Mas uma medalha é improvável, ainda que possível. Rafael tem o melhor tempo de classificação (13s17), mas cinco americanos e um jamaicano têm marcas melhores que a dele. A prova tem eliminatórias no sábado às 15h25, e semifinal e final no domingo, às 21h05 e 23h30. Até hoje, em 17 edições do Mundial, o Brasil só ganhou mais de uma medalha em Sevilha-1999, quando trouxe duas pratas — com Claudinei Quirino, nos 200 m, e Sanderlei Parrela, nos 400 m — e um bronze com o revezamento 4x100 m masculino. Qualquer conquista além de uma medalha já será a segunda melhor campanha da história. PUBLICIDADE | | |