Prestes a completar um ano, essa newsletter nunca tratou de escalada esportiva. A coluna Olhar Olímpico está no UOL há quase seis anos e a escalada só apareceu no noticiário quando se esvaiu a última chance de um brasileiro se classificar para Tóquio-2020. Isso tem uma razão: o Brasil ainda engatinha na modalidade e, no primeiro ciclo olímpico da escalada como esporte olímpico, os brasileiros passaram longe de brigar por resultados expressivos. Esse cenário pode mudar com a chegada de um reforço à seleção brasileira. Nascida, criada e formada atleta na Suíça, Anja Kohler, uma garota de 19 anos, optou por alterar a nacionalidade esportiva para, a partir deste ano, competir pelo Brasil, pátria do pai e do avô. "Eu sempre quis aprender mais sobre meu segundo país natal, e acho que essa é uma forma de conhecer melhor a cultura do Brasil. Infelizmente eu não falo português, então também é uma forma de aprender a língua. É uma honra representar o Brasil e, sabendo que a escalada não é tão popular no Brasil, quero tentar ajudar a promover o esporte que eu amo e a inspirar crianças", disse ela, ao Olhar Olímpico. Anja vem de um país conhecido por suas montanhas, paraíso de escaladores. Na Suíça, como em boa parte do mundo, escalada esportiva e montanhismo são pensados de forma conjunta. Crianças começam escalando paredes, em ambiente controlado, antes de se arriscarem nas montanhas. A própria Anja disputou seu primeiro torneio aos 6 anos. No Brasil, os esportes não se misturam do ponto de vista organizacional. O país tem uma confederação de "montanhismo e escalada", mas o COB reconhece a Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE), fundada em 2014 e única 'confederação olímpica' do país que não é uma confederação, já que não é uma união de federações estaduais. Quando a escalada entrou no programa olímpico, depois da Rio-2016, o Brasil não tinha a menor expectativa de obter resultados expressivos do ponto de vista internacional. E nem no âmbito regional, já que a modalidade não entrou no programa nem do Pan nem dos Jogos Sul-Americanos. No Campeonato Pan-Americano, o melhor resultado foi um quinto lugar de Felipe Ho em 2021. Foi nesse contexto que Anja veio ao Brasil em setembro para disputar o Campeonato Brasileiro. Ela havia tido o primeiro contato com o time brasileiro em 2019, quando pediu uma camisa do Brasil durante o Mundial Júnior, e reencontrou a equipe em 2021. No ano passado, quando a seleção foi treinar na Suíça, ela aproveitou para passar uma semana junto com seus compatriotas. Para tentar entrar na seleção, veio a Curitiba para o Brasileiro. Estranhou o frio de setembro, mas venceu tanto no boulder quanto na prova guiada. E, aqui, vale uma explicação extra: em Tóquio-2020, a competição da escalada foi um combinado confuso de três provas: boulder, guiada (lead) e velocidade, que antes eram praticadas por atletas de características muito diferentes entre si. Para Paris-2024, esta última foi transformada em prova exclusiva e excluída do combinado. Tão logo terminar o ensino médio em Wila, na Suíça, no meio do ano, Anja, que tem família em Joinville (SC), promete se mudar para o Brasil. Até lá, deve ser concluído o centro de treinamento da seleção, em Curitiba, no Parque Olímpico do Cajuru. Uma parede de boulder já foi inaugurada em 2021, e foi lá que aconteceu o Campeonato Brasileiro. Anja, que foi 24ª e 27º nas duas provas olímpicas do último Mundial Júnior, diz que Paris é um "sonho", mas que seu objetivo é estar nos Jogos de 2028, em Los Angeles. Até lá, deve ganhar uma concorrente de peso na seleção. Mariana Hanggi, de 16 anos, ganhou os Jogos Sul-Americanos da Juventude do ano passado, e pinta como grande promessa do país. *** Por falar em "modalidades olímpicas sobre as quais pouco falamos", publiquei, na semana passada, um perfil do Gustavo Bala Loka, primeiro brasileiro a conquistar uma medalha internacional no BMX Freestyle. Recomendo vivamente. PUBLICIDADE | | |