O 21º melhor tenista de simples da história do Brasil, João Souza, o Feijão, nunca mais pode pisar em uma quadra profissional. Em 2020, ele foi suspenso por toda a vida pela Unidade de Integridade do Tênis (TIU), condenado por entregar partidas visando beneficiar apostadores. Feijão está longe de ser um atleta qualquer. Ganhou US$ 1,3 milhões ao longo da carreira e chegou ao 69º lugar do ranking mundial antes de ser pego manipulando resultados em jogos de simples e em duplas de um Challenger no México. Seu técnico, o também brasileiro Pertti Vesantera, foi suspenso por cinco anos por estar envolvido no esquema. É surpreendente que este caso não tenha voltado à tona agora que o país discute mais sério a manipulação de resultados, já que o crime chegou ao futebol. Ele demonstra que o problema vai muito além dos gramados. Não consta que os fatos que levaram o tênis a banir Feijão tenham sido investigados no Brasil, ainda que seja crime, por aqui, "solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado". A falta de uma investigação no Brasil nos impediu de saber se o esquema que envolvia Feijão e seu técnico abrangia também outros tenistas. No futebol, foi por ter sido investigada uma combinação de escanteios na Série B que se descobriu que jogadores de times grandes do país também influenciavam jogos da Série A em troca de propina. Do Ministério do Público de Goiás, o caso chegou à Polícia Federal e incentivou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara, que tem como escopo investigar somente manipulações de resultados no futebol. O olhar, porém, deveria ser mais abrangente. Quem nunca entrou em um site de apostas talvez não saiba, mas é possível apostar nas mais diversas competições esportivas realizadas no Brasil, não só no futebol. E, se é possível apostar, é possível manipular. Não há, em torneios de esportes coletivos como a Superliga e o NBB, apostas em indivíduos (que jogar A vai receber um cartão, por exemplo), mas é possível apostar, por exemplo, que uma equipe favorita vai perder o primeiro set, depois virar o jogo e vencer. E isso não só em torneios de primeira divisão. Há possibilidade de aposta até em estadual sub-17. Aposta-se em badminton, tênis de mesa, e em todo o circuito brasileiro de vôlei de praia, por exemplo. Em estaduais e torneios nacionais de handebol e futsal. E, claro, em tudo quanto é jogo oficial de tênis. Convenhamos que é muito improvável que a manipulação de resultados esteja restrita ao futebol e ao caso Feijão, de três anos atrás. Não é por que o futebol é um esporte com mais espectadores nas arquibancadas brasileiras que a manipulação no futebol seja mais ou menos importante do que em outros esportes. Crime é crime e precisa ser investigado. Não só pela CPI. A polícia também deveria ampliar seus horizontes. PUBLICIDADE | | |