Juca Kfouri viu e viveu de perto as glórias do basquete masculino brasileiro, bicampeão mundial, três vezes medalhista olímpico, que por três décadas permaneceu como uma das cinco potências globais. Daí a frustração com uma seleção que se despediu da Copa do Mundo, no domingo (3), classificada como a 13ª melhor do mundo.

Para ele, o basquete masculino do Brasil segue "uma piada de mau gosto". Em muitas áreas, de fato. Esta newsletter já comentou a forma como a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) sabota a modalidade. Mas penso que a campanha no Mundial não foi tão ruim assim quando posta diante da realidade.

Na última vez que o Brasil fez um bom Mundial, em 2014, terminando em sexto depois de vencer Argentina, Sérvia e França, a seleção tinha quatro jogadores de NBA (Nenê, Splitter, Leandrinho e Varejão), dois destaques do basquete europeu (Raulzinho e Huertas), e nomes históricos como Marcelinho, Alex, Marquinhos e Giovannoni.

Desde então passaram-se nove anos, e o basquete brasileiro perdeu força. Quem estava na NBA não está mais. Dois dos titulares jogam na liga japonesa. Caboclo e Yago até vêm de boa temporada na Europa, mas na Alemanha, um mercado secundário. Huertas era o mais velho do Mundial inteiro e Benite já não tem a arma da bola de três. Elenco por elenco, não havia como colocar o Brasil entre os favoritos a chegar às quartas de final, como de fato não chegou.

Vencer o Canadá, até então cotado ao título, e jogar 25 minutos de igual para igual contra a Letônia, time sensação do torneio, é, assim, mais do que se esperava do Brasil. Não que tenha adiantado muito. Caboclo ficou pendurado de faltas, por infrações bobas de ataque, a seleção não tinha um pivô do mesmo nível no elenco, e o Brasil caiu exatamente na fase em que se esperava que caísse.

Ainda assim, por uma bola não veio a vaga olímpica. Canadá e Espanha jogaram depois e a vitória foi dos canadeneses, por três pontos, depois de uma virada no fim. Tivesse dado Espanha, o Brasil se classificaria para Paris como segundo melhor do continente no Mundial.

Mas não deu, e agora o Brasil terá que, de novo, jogar o Pré-Olímpico. Um torneio cruel, realizado a poucos dias da Olimpíada, com grupos de seis times disputando uma única vaga. Em 2021, a seleção quase chegou lá. Perdeu da Alemanha na partida decisiva, e viu os Jogos de Tóquio pela televisão.

Agora, Paris aparece no fim do túnel. Não que o Brasil parta como favorito, mas os jogos do Mundial mostram que é possível vencer equipes do primeiro escalão. E essa chance aumenta à medida que este grupo, jovem, ganha experiência e reforços.

No Mundial, foi visível a falta de um pivôzão de força. Lucas Mariano seria esse cara, se não tivesse sido pego no doping. Suspenso por oito meses, volta em fevereiro, a tempo do Pré-Olímpico. Didi, fora do Mundial por não estar 100% fisicamente, também pode reforçar a equipe.

Raulzinho, que sofreu grave lesão no joelho, vai depender de ter uma recuperação acelerada, mas é bom não contar com ele. Reynan e Márcio, revelações de Franca, e Gui Santos, pouco utilizado no Mundial, terão mais um ano para ganhar rodagem. Sem dúvida, é um cenário que vai ficando mais iluminado.

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A era do esporte olímpico como sinônimo de esporte amador passou faz tempo no Brasil. Mesmo assim, Renato Cordani se despediu do cargo de CEO da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), ontem (4), sem nunca ter recebido salário.

Não por ser um abnegado, mas porque a confederação não teve, nos últimos três anos, condições financeiras para arcar com o salário dele. As modalidades aquáticas até recebem um bom montante de recursos do Comitê Olímpico do Brasil (COB), mas de forma direta, sem que o dinheiro passe pela CBDA.

Ainda por causa das dívidas deixadas pelas gestões Coaracy Nunes e Miguel Cagnoni, ambos mortos recentemente, a CBDA não pode receber dinheiro do COB para pagar suas despesas administrativas, incluindo salários. Cordani, por isso, trabalhava de graça, com uma dedicação rara até entre os dirigentes remunerados do esporte olímpico brasileiro.

Uma dedicação desmedida que, por diversas vezes, gerou dor de cabeça para Cordani, para a CBDA, e para interlocutores. Ele sempre dizia que uma hora ia ficar de saco cheio e deixar o cargo. Essa hora chegou, o que é uma péssima notícia especialmente para a natação, esporte que ele acompanhava mais apaixonadamente, e mais de perto.

Os resultados esportivos da 'gestão Cordani' podem não estar bons (e não estão mesmo, como escrevi aqui), mas podem ficar ainda piores sem ele lá. Os atletas de ponta (leia-se Bruno Fratus, Ana Marcela e Cachorrão) continuarão abraçados pelo COB. Os demais devem se preocupar.

Vôlei - Renan Dal Zotto continua como técnico da seleção brasileira masculina de vôlei apesar da derrota em casa para a Argentina, que pôs fim à hegemonia do Brasil como campeão de todas as edições que participou do Campeonato Sul-Americano. Mudança, só abaixo dele. Sai Carlos Schwanke, com a desculpa de que precisa se dedicar ao Farma Conde/São José em pleno Paulista, e entra Marcos Miranda, técnico do time feminino do Sesi/Bauru.

Levantamento de Peso - Começou ontem para o resto do mundo e começa sexta-feira (8) para o Brasil o Mundial de Levantamento de Peso, na Arábia Saudita. A delegação brasileira tem só quatro atletas, todas mulheres. A primeira a competir é Eduarda Souza, 18 anos, grande promessa do país, que não vai a Paris por uma lambança da CBLP.

Taekwondo - Edival Pontes, o Netinho, foi prata no Grand Prix de Paris na categoria até 68kg, que é olímpica. O resultado é um dos melhores da temporada para o taekwondo brasileiro. Ele só perdeu para o campeão olímpico Ulugbek Rashitov, do Uzbequistão. Maicon Siqueira (80kg) também estava bem, mas foi nocauteado ilegalmente, desmaiou e precisou se retirar da competição. Ele precisava dos pontos porque é o quinto do ranking olímpico que, até o fim do ano, vai classificar cinco para Paris-2024. Netinho é oitavo e deve subir.

Triatlo - Quem também sobe no ranking olímpico é Djenyfer Arnold, quarta colocada no Pan de Triatlo no fim de semana. O Brasil deve classificar dois homens e duas mulheres para Paris-2024, e a briga é interna. No feminino, Vittoria Lopes é 25ª, Djenyfer agora é 31ª e abriu vantagem sobre Luisa Baptista, a 42ª. Entre os homens, Manoel Messias (11º) e Miguel Hidalgo (20º) aparecem muito à frente de Antonio Bravo Neto (91º), que foi só 13º no Pan.