Quase três anos atrás, um tuíte meu viralizou. As redes sociais entenderam que eu estava sendo condescendente com Gabriel Medina, que, naquele momento, estava no mesmo voo que a equipe do UOL em direção às Olimpíadas de Tóquio. "É triste o Medina, um dos grandes nomes do Brasil em Tóquio, viajar sozinho. Não falo por causa da Yasmin, claro. Mas não há comissão técnica, não há alguém para dar suporte. Todo mundo vai para a Olimpíada como um time. Ele tá sozinho", escrevi. O que me gerou um desconforto, ali, foi ver um atleta triste indo à Olimpíada. O corpo estava no avião, mas a alma havia ficado em qualquer outro lugar. O contexto todo mundo sabe, suponho: Gabriel rompeu com a família, incluindo o padrasto/técnico, tentou inscrever a então namorada Yasmin Brunet como staff, o COB não deixou, e a CBSurfe também não tinha uma comissão técnica. Volto a esse tuíte, a essa lembrança, porque o que vimos no fim de semana foi exatamente o oposto disso: um Gabriel Medina vibrante, radiante, na melhor forma da vida, se classificando à próxima Olimpíada. O surfista de Maresias vai ao Taiti como maior favorito ao ouro, e cercado de gente que parece gostar dele. Medina sempre mereceu ir à Olimpíada, e sempre fez por merecer, também. Foi sexto na WSL na temporada passada e só não carimbou passaporte porque a Federação Internacional de Surfe (ISA) desvaloriza o circuito mundial para dar algum valor ao seu único campeonato. No ISA Games, o surfista de Maresias disputou oito baterias e venceu todas, mesmo precisando sempre de um segundo lugar. E, mesmo assim, não dependia só de si para se classificar. Precisava que Filipe Toledo, já classificado, desse o sangue para que Medina ou Yago Dora, outro craque, se tornassem seus rivais na Olimpíada. Filipinho mostrou caráter, foi longe na competição, e permitiu que Medina chegasse com chances na final. Ali, precisaria de uma combinação: ouro para ele, prata para o marroquino Ramzi Boukihiam, e os franceses Kauli Vaast e Joan Duru em 3º e 4º. Foi exatamente isso que aconteceu, para enorme festa da seleção brasileira. Sim, porque a conquista foi de uma equipe, algo que nenhum surfista brasileiro teve em Tóquio — cada um levou um acompanhante, e ficou por isso mesmo. No feminino, a terceira vaga também veio. Tatiana Weston-Webb foi prata, deu ao Brasil o título por equipes, e o direito de Luana Silva se juntar a ela e a Tainá Hieckel no Taiti. A festa também foi cheia de emoção, porque Tati, a heroína de Luana, é também sua amiga e inspiração. As duas nasceram no Havaí, Tati foi a primeira a alterar a nacionalidade esportiva para defender o Brasil, e no ano passado convenceu Luana a fazer o mesmo. Agora, elas arrumam as malas para irem juntas à Olimpíada, com Tati com grandes chances, sim, de brigar por uma medalha. PUBLICIDADE | | |