O governo Lula 3 (PT) vai comemorar um recorde de beneficiados pelo Bolsa Atleta, um programa criado no governo Lula 1, mas o aumento verificado este ano tem muito a ver com um movimento puxado pelo bolsonarismo. O edital deste ano é o primeiro a contemplar atletas surdos, que passam a ser equiparados aos convencionais (olímpicos) e aos de modalidades paralímpicas. Essa proposta foi apresentada em 2020 pelo deputado Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF) e acabou incluída na Lei Geral do Esporte, que entrou em vigor no ano passado. Até então, poderiam pleitear o Bolsa Atleta esportistas medalhistas de ouro, prata ou bronze em torneios de nível escolar, nacional ou internacional (sul-americano, pan-americano e Mundial) em modalidades olímpicas ou paralímpicas, além dos atletas que de fato foram à última Olimpíada ou Paralimpíada. Agora também são elegíveis os atletas de competições para surdos, que nunca fizeram parte de políticas públicas. Tanto é que a última "Surdolimpíada", evento máximo, equivalente da Olimpíada, foi no Brasil, em 2022, e não recebeu nenhum centavo de apoio do governo federal, em plena gestão Jair Bolsonaro (PL). O torneio deixou muitas dívidas na região de Caxias do Sul — contamos aqui. Mas, desde 2021, tem crescido de forma visível o número de emendas parlamentares que beneficiam eventos para atletas surdos, não apenas a partir de repasses a federações estaduais e confederações, mais facilmente identificáveis por ferramentas de transparência, mas também para que diversas entidades executem projetos voltados a este público. Neste primeiro ano de Bolsa Atleta, só foram elegíveis, para os surdos, campeonatos brasileiros de futebol, futsal, vôlei de praia e basquete, além de um torneio pan-americano de badminton, um mundial de natação, e as Surdolimpíadas nacionais. Com o oferecimento de bolsas e fomento de eventos a partir de emendas, a tendência é que mais gente participe de mais competições, e mais atletas surdos sejam elegíveis para a Bolsa Atleta. Por isso, o total de beneficiados deverá continuar subindo. Do ano passado para este, o número de inscrições para o maior valor da bolsa, para atletas que disputaram a última Olimpíada, a última Paralimpíada ou a última Surdolimpíada subiu de 441 para 534 de 2023 para 2024. Como não houve Olimpíada nesse meio-tempo, a explicação só pode estar na inclusão dos surdos. Para a bolsa internacional houve até redução (de 1.474 para 1.448) e, para "atleta de base", o aumento foi mínimo, de 399 para 405. A diferença entre 2023 e 2024 está, assim, na bolsa nacional, que foi de 5.337 no ano passado para 5.990 agora. É exatamente onde se encaixam as competições elegíveis para os surdos. Também tem tido impacto no aumento no número de inscrições a criação de mais competições nacionais, sejam adultas ou para as categorias de base, especialmente pelo Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). PUBLICIDADE | | |