No discurso, seria a "Olimpíada da equidade", a primeira vez com mesmo número de atletas homens e mulheres. Na realidade, a maioria é, como sempre foi, masculina.
São cerca de 150 homens a mais do que mulheres, o que é a menor diferença da história, uma redução significativa na desvantagem que era de mais de mil indivíduos na Olimpíada do Rio, que foi outro dia.
Houve, sem dúvida, um avanço, muito tardio, nessa discrepância. Mas avanço não significa fim. O machismo é reduzido, mas ele nunca acaba. Não acabou em Paris e nada indica que vá acabar em Los Angeles.
Vejamos o Brasil: Luciana Diniz foi quem fez toda a diferença para classificar o país por equipes no hipismo saltos. Foi finalista olímpica em Tóquio (por Portugal), a melhor no último torneio classificatório, está com o cavalo voando (ganhou um GP no sábado). Mas não foi convocada para a Olimpíada, preterida por quatro homens. Dois desses conjuntos masculinos sequer disputaram provas cinco estrelas (nível máximo) no ano. Não há como explicar a convocação deles, e não dela, sem falar em machismo.
O hipismo é parte da explicação de por que a Olimpíada terá mais homens atletas do que mulheres. As vagas são de gênero aberto e os países escolhem levar eles ou elas. Adivinha quem é enorme maioria?
Mas parte da explicação vem também de um erro de comunicação do COI e de Paris-2024, que nunca tiveram controle para prometer número igual de homens e mulheres. O discurso deveria ter sido de número igual de vagas, não de indivíduos.
O Brasil como exemplo, de novo. Na canoagem slalom, o país poderia levar duas mulheres (uma no C1, outra no K1), mas optou por ter só uma, Ana Sátila, forte nas duas provas. Na velocidade, poderia fazer como em Tóquio: ter dois homens na canoa: Isaquias e Jacky, remando em duplas e na prova individual. Optou por levar um terceiro nome para competir só no C1.
São duas escolhas técnicas, que fazem sentido para o país, que transformaram o que poderia ser uma proporção 2 para 2, em uma 3 para 1.
Além disso, há o fato de haver, ao que me parece, uma concentração maior de vagas com grandes mulheres. Pelo Brasil, Mafê Costa, por exemplo, se classificou em três provas individuais na natação.
Mas a suposta equidade de atletas é só a ponta do iceberg. O grande problema está abaixo. Continua havendo um número incomparavelmente maior de homens treinadores, médicos, preparadores, etc, do que de mulheres. Dirigentes, então, nem se fala. PUBLICIDADE | | |