Candidato ao Senado italiano, Fittipaldi rechaça elo do partido com fascismo
Candidato ao Senado da Itália pelo Fratelli d'Italia, um partido de extrema-direita, o bicampeão mundial de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi nem sequer pensava em entrar na vida pública há cerca de três semanas.
No entanto, um convite do deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato, correligionário do ex-ministro do Interior Matteo Salvini na Liga e bolsonarista convicto, abriu as portas da política para o ex-piloto de 75 anos.
Candidato à reeleição na Câmara, Lorenzato chamou Fittipaldi para concorrer a uma vaga de senador pelo partido Irmãos da Itália (FdI), líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 25 de setembro, no colégio eleitoral da América do Sul —os italianos elegem representantes no exterior desde 2006.
Em entrevista à ANSA, o ex-piloto conta que resistiu à ideia inicialmente, mas acabou convencido por um telefonema da própria Giorgia Meloni, presidente do FdI e candidata a se tornar a primeira mulher premiê na Itália.
"Estou muito feliz de participar desse momento com a Giorgia", afirma Fittipaldi. O bicampeão, no entanto, diz não conhecer uma das principais propostas do FdI, que é impor um bloqueio naval contra migrantes no Mediterrâneo, e rechaça a associação da sigla ao fascismo.
O partido de Meloni nasceu de uma costela da extinta legenda pós-fascista Movimento Social Italiano (MSI), que havia sido fundada por egressos da República de Salò, o governo fantoche encabeçado por Mussolini e instituído nos territórios da Itália controlados pela Alemanha Nazista em 1943. Até hoje, o FdI exibe em seu distintivo a chama tricolor que simbolizava o MSI.
"O fascismo foi uma tragédia para o ser humano. O nazismo foi outra tragédia. Eu estou muito feliz, é um partido que não tem nada a ver com o fascismo. As pessoas querem trazer hoje uma coisa que foi enterrada", ressalta o ex-piloto.
Confira abaixo a entrevista, na qual Fittipaldi também detalha algumas de suas ideias e revela que ainda não tem previsão de vir para a América do Sul para a campanha.
O que o levou a se candidatar a senador na Itália?
Foi uma surpresa. O Lorenzato, que é deputado, me ligou umas três semanas atrás e falou: "Emerson, como que você tá? Olha, se você quiser, eu gostaria de te convidar para ser senador pela América Latina". Minha primeira pergunta foi: "Mas que partido que é?". Ele falou: "Olha, é o partido de centro-direita". E eu perguntei: "Mas é um partido cristão?". Porque eu sou muito cristão. Eu conhecia de nome a Giorgia Meloni, aí ele foi me contando como que opera, e eu falei: "Puxa vida, deixa eu dar uma pensada". Eu falei com minha mulher que era um desafio novo na vida. Aí me ligou a Giorgia Meloni, e ela me convenceu. E foi assim, uma coisa muito de repente.
Já tinha pensado em se candidatar a algum cargo público, inclusive no Brasil?
Fui convidado várias vezes, mas nunca tive vontade. Nessa fase da minha vida, estou mais na Itália pela carreira do meu filho [Emmo Fittipaldi], que corre no campeonato italiano de Fórmula 4. Aí falei com a Giorgia: "Vou aceitar". Com o conteúdo que eu tenho de esporte, o conhecimento que eu tenho de esporte, vou poder agregar muito para a nova geração, incentivar o esporte. As novas gerações são muito ligadas na tecnologia e desligadas do esporte. O esporte traz autoconfiança, trabalho de equipe, disciplina, preparação física, mental.
Onde fica sua residência atualmente?
Em São Paulo.
O senhor pretende vir ao Brasil para a campanha?
Eu estive há duas semanas aí em São Paulo, e agora o meu filho vai testar em Roma, segunda e terça. Na quarta-feira, estou indo para o Grande Prêmio de Spa [de F1], na Bélgica, depois tem outro teste do Emmo, vou estar no Grande Prêmio da Itália. E aí entre Spa e o Grande Prêmio da Itália, vou participar de um evento muito legal de carros clássicos em Portugal, de 1º a 5 de setembro. Então eu viajo o tempo todo. Depois do Grande Prêmio da Itália, estou indo para Miami, porque estou fazendo lá um evento beneficente, depois vou para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, em Austin, México, Brasil, e mais as corridas que o Emmo vai fazer...
Então, por enquanto, não tem previsão de vir ao Brasil?
Coincidentemente, a minha agenda vai estar totalmente tomada.
Isso não pode prejudicar sua campanha, já que não estará presente com a comunidade italiana no Brasil?
Hoje em dia, com a tecnologia, usar o lado bom da tecnologia... A comunicação é fantástica, a gente consegue falar com o mundo rápido, tudo acontece muito rápido, então não estou preocupado.
Uma das principais propostas do seu partido é o bloqueio naval para impedir que migrantes forçados cheguem à Itália através do Mediterrâneo. Concorda com esse plano, que é uma das bandeiras da Giorgia Meloni?
Olha, nem sabia, nem pensei, vou estudar nos próximos dias, não posso te responder sem ter um fato atualizado. O que eu acho é que o partido em que eu estou entrando é um partido de centro-direita, cristão, porque eu sou muito cristão, é um partido que acredita na família, então estou muito feliz de estar nessa coalizão, que vem com o apoio do Berlusconi. Estou muito feliz, muito feliz de participar desse momento com a Giorgia.
O senhor citou o Irmãos da Itália como sendo de centro-direita, mas esse partido tem muitas posições de extrema-direita e foi fundado por antigos membros do extinto partido pós-fascista Movimento Social Italiano, que havia sido criado por integrantes do regime de Mussolini. Esse passado não o incomoda?
Historicamente, o fascismo foi enterrado com uma tragédia, e o nazismo foi enterrado com uma tragédia. Não existem mais. Eu acho que a sua análise... Uma coisa que não existe há muitos anos... O fascismo foi uma tragédia para o ser humano. O nazismo foi outra tragédia. Eu estou muito feliz, um partido que não tem nada a ver com o fascismo e que, graças a Deus, é um partido de família, que respeita o ser humano. Eu estou muito feliz de estar com a Giorgia Meloni, que é uma pessoa de alto respeito.
As pessoas querem trazer hoje uma coisa que foi enterrada, não existe mais. É a mesma coisa que o comunismo. Respeito quem é comunista, mas, se você pensar, quais são os países que andaram para a frente quando tinham o regime comunista? Eu não conheço.
A atual legislação italiana dá apenas uma vaga no Senado para o colégio da América do Sul e, historicamente, o candidato mais votado sempre é ligado à Argentina, onde o número de eleitores é maior. Seu partido foi claro com o senhor sobre as dificuldades para ser eleito? Eu acho o seguinte: todos os oriundi [pessoas de ascendência italiana nascidas no exterior] que vivem na América Latina deviam exercer mais o direito de voto. Os argentinos têm um poder de voto maior porque eles são mais atuantes que nós brasileiros. Espero que os brasileiros votem mais. Brasil e Argentina têm uma união muito grande no automobilismo, eu tenho muitos fãs na Argentina e espero ter muitos votos na Argentina também.
O senhor teve carros e bens penhorados pela Justiça no Brasil e é alvo de cobranças de dívidas na casa dos milhões de reais. Agora como candidato a um cargo público, quando espera resolver essa questão?
O assunto está sendo resolvido, como eu prometi há quatro ou cinco anos, eu estou muito feliz, é um momento muito bom. Já tenho encerramentos de muitos [processos], já liquidei 92% do que eu devia, então, graças a Deus, estou numa situação muito segura, muito sólida, comparado ao que eu estava. Essa história dos carros, isso aconteceu há uns quatro anos, estão lá comigo no museu, tá tudo certinho. Estou supertranquilo nisso, o timing é perfeito para mim.
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