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OPINIÃO

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Fora da Olimpíada, basquete brasileiro descobre que poço é mais fundo

Alex enterra no Pré-Olímpico de Basquete - Divulgação/Fiba
Alex enterra no Pré-Olímpico de Basquete Imagem: Divulgação/Fiba

04/07/2021 16h56

O basquete brasileiro experimentou algumas vezes nos últimos anos a sensação de que havia chegado ao fundo do poço. Ficou fora de três Olimpíadas seguidas no masculino, precisou pegar dinheiro emprestado para comprar vaga em um Mundial, se atolou em dívidas, viu até o feminino perder sua hegemonia na América do Sul. Mas agora a impressão é que o buraco em que a modalidade se meteu é maior do que nunca.

Com a derrota para a Alemanha, hoje (4), na final do Pré-Olímpico de Split (Croácia), a equipe masculina deixou escapar a última chance de se classificar para a Olimpíada. O feminino também não havia conseguido a vaga. E, novidade: em Tóquio o basquete 3x3 estreia como modalidade olímpica e, nos dois naipes, o Brasil também não conseguiu se classificar.

Isso significa que o basquete do Brasil não vai à Olimpíada do Japão. Desde que a modalidade entrou no programa dos Jogos, em 1936, essa é somente a segunda vez que o Brasil fica fora. A primeira foi em Montreal-1976, quando o basquete feminino estreou no programa. Agora são quatro competições, e o Brasil não conseguiu vaga para nenhuma delas. Sem meias palavras, trata-se de um vexame.

Mas, pior do que não ter Brasil para torcer durante as competições de basquete em Tóquio, o que o torcedor supera facilmente assistindo os times de outras modalidades, é o impacto disso no futuro.

A começar pelo financiamento. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) recebe recursos da Lei Agnelo/Piva e repassa para as confederações, dividindo o bolo a partir de critérios esportivos (em sua maioria) e burocráticos (transparência, prestação de contas, etc).

Hoje o basquete não atende praticamente nenhum dos critérios esportivos, exceto ter ganho medalha no Pan (o time feminino foi ouro). Entre dar verba para o pentatlo moderno ou para o basquete, por exemplo, a prioridade é o pentatlo. Hoje a fatia do basquete já é pequena e, fora da Olimpíada e sem resultados até na base, será ainda menor nos próximos anos.

Além disso, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) segue com problemas financeiros. Guy Peixoto foi eleito prometendo um patrocinador master, que nunca veio. No ano passado a confederação arrecadou menos de R$ 1 milhão em patrocínios e, fora da Olimpíada, a tendência não é um cenário muito melhor daqui para frente. Sem dinheiro não há campings de treinamento, não há sequer como pagar um técnico caro, como é o caso do croata Petrovic.

Some a isso o fim (ao que tudo indica, agora sim) da geração de Marquinhos, Alex, Varejão e Huertas e a falta de confiança na geração mais nova. Georginho, melhor jogador das últimas duas edições do NBB, sequer foi utilizado no jogo decisivo contra a Alemanha, apesar da péssima atuação de Benite, que afundou o Brasil. Petrovic preferiu os air ball's do ala-armador mais veterano do que dar uma chance ao ex-jogador do São Paulo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL