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Olhar Olímpico

Melhor velocista do país vai sem técnico a Tóquio e reclama: falta respeito

Paulo André costuma comemorar resultados rolando na pista com o pai e treinador, Carlos Camilo - Ricardo Bufolin/ECP
Paulo André costuma comemorar resultados rolando na pista com o pai e treinador, Carlos Camilo Imagem: Ricardo Bufolin/ECP

10/07/2021 19h47

Homem mais rápido do país nas pistas, Paulo André Camilo está irritado. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) divulgou na quinta-feira (8) uma lista de 20 treinadores que acompanharão a delegação da modalidade em Tóquio e deixou de fora o seu técnico, Carlos Camilo, que também é seu pai. A lista tem cinco técnicos de "velocidade", mas excluiu o treinador do melhor velocista do ciclo olímpico, prata no Pan de Lima nos 100m.

A convocação causou irritação em bastante gente do atletismo desde que foi divulgada, uma semana depois da convocação da equipe de atletas, mas as reclamações só vieram a público depois de os Camilo, pai e filho, procurarem a confederação em busca de uma resposta. Na falta dela, Paulo André reclamou pelo Instagram.

"Falta de mérito não foi! Na minha opinião pessoa faltou respeito e coerência ao te cortarem da lista, ainda mais da forma com que isso tudo foi conduzido. No Pan de Lima, em 2019, foi exatamente a mesma situação, onde cortaram você da mesma maneira, sem nenhuma explicação plausível e em tempos que não tínhamos pandemia. Coincidência, talvez?", postou Paulo André, como se estivesse escrevendo para o pai.

O velocista deixou claro que está bastante incomodado, afirmando que estava "cagando" para quem não entendia sua dor. "E podem falar o que quiserem. Que é 'chororô', 'bla-bla-bla', mas ninguém veste minha sapatilha para determinar o que eu sinto e deixo de sentir. Isso tudo vai além de um objetivo alcançado."

"Se o cara que me colocou no mundo, me criou, me educou, me inspirou, me incentivou a praticar o mesmo esporte que ele fez, e que fez de mim o melhor atleta de seu país, não está indo pra Oimpíada comigo, eu não consegui alcançar meu objetivo", afirmou. Nos stories, disse que tem aguentado tudo calado, mas que depois dos Jogos vai falar tudo que está entalado.

Nos comentários da postagem, Aldemir Gomes, que é o melhor brasileiro dos 200m, também reclamou da não convocação de sua técnica, Vania Valentino da Silva, conhecida como Vaninha. "Eu fico abismado com isso, cara, como pode? Chega a ser inacreditável. Os dois atletas da velocidade mais bem ranqueados no ranking olímpico e por pontos não terem seu treinador, como outros em tantas provas. Esse corporativismo é a única coisa que me enoja no atletismo", escreveu.

Ao UOL Esporte, a CBAt disse que vai levar cinco técnicos de "velocidade" para o Japão. Desses, três vão a Tóquio: Carlos Alberto Cavalheiro (que é o treinador chefe da equipe de atletismo inteira), Katsuhico Nakaya (técnico do revezamento feminino e de quatro atletas) e Felipe de Siqueira (do masculino e de cinco atletas, incluindo Alison dos Santos, cotado a medalha nos 400m com barreiras).

Os outros dois, Darci da Silva e Renan Valdieiro, vão participar da fase de preparação em Saitama e foram escolhidos, segundo a confederação, porque "orientam dois atletas cada um". Mas, quando anunciou a convocação, a CBAt informou que Darci e Renan eram, cada um, técnico de apenas um convocado.

Darci treina Felipe Bardi, que vai correr os 100m, mas, diferente de Paulo André, não fez índice — a vaga dele veio pelo ranking mundial. Mais tarde foi chamado outro atleta de Darci, Lucas Villar, pelo ranking dos 200m. Já Renan, segundo informou a CBAt na convocação, é treinador apenas Gabriel Constantino, que compete nos 110m com barreiras. Na verdade, ele treina também Rosângela Santos, mas a confederação atribuiu a preparação dela a um empresário.

A convocação de treinadores gerou atritos entre a CBAt e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) ao longo da última semana. Para evitar desavenças do tipo, a CBAt queria levar absolutamente todos os treinadores individuais dos 53 convocados para os Jogos, nem que fosse para participar da preparação em Saitama. O COB flexibilizou o número de credenciais, aceitando um número alto de 20 treinadores (contra seis na natação, por exemplo), mas a CBAt insistiu até o último minuto.

A convocação em tese é por "grupo de provas", mas há dois treinadores de salto com vara, por exemplo: o ucraniano Vitaly Petrov, só para Thiago Braz, e Henrique Martins, só para Augusto Dutra. Nos lançamentos de arremessos, o cubano Justo Navarro vai trabalhar só com Geisa Arcanjo e Darlan Romani, sendo convocado João Paulo Alves da Cunha para treinar os outros atletas desse tipo de provas.

Paralelamente a isso, a confederação foi cobrada pela convocação de João Falcão para o revezamento 4x400m medley. O técnico dessa equipe, Evandro Lazari, apontou Alexander Russo, melhor do ranking nacional de 2021 entre os elegíveis, mas a confederação chamou Falcão, que faz temporada ruim e ficou à frente de Russo no período de classificação entre 2019 e 2021.