Topo

Olhar Olímpico

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Medalha olímpica não é souvenir

Pedro Barros, prata no skate park nas Olimpíadas de Tóquio-2020 - Gaspar Nóbrega/COB/Gaspar Nóbrega/COB
Pedro Barros, prata no skate park nas Olimpíadas de Tóquio-2020 Imagem: Gaspar Nóbrega/COB/Gaspar Nóbrega/COB

05/08/2021 15h18

A medalha olímpica que Pedro Barros diz que é "simplesmente um souvenir" é, na verdade, a oportunidade que milhares, milhões de atletas ao redor do mundo têm de conseguirem um sustento através do esporte. Depois de ganhar a prata no skate park nas Olimpíadas de Tóquio, o brasileiro tratou de reduzir a importância do seu próprio feito, e acabou por desvalorizar o feito de tantos que o antecederam e outros muitos que virão depois dele.

Para Pedro Barros, especificamente, a medalha pode ser um simples souvenir. Ele já vinha indicando, há algum tempo, que está cada vez mais desconectado do skate esportivo, da competição, da busca por resultados. E pode fazer isso porque já conquistou fama e dinheiro antes mesmo de a modalidade dele ser olímpica. Status, em grande parte, derivado dos souvenirs que ele ganhou em outras competições, como os X-Games e Campeonatos Mundiais.

"Essa medalha aqui é simplesmente um souvenir, é uma dessas experiências que a gente leva para vida, que é algo muito maior. A vida é muito melhor do que qualquer objeto material. Essa medalha aqui não deixa de ser um objeto material, uma expectativa criada por outras pessoas", afirmou Pedro aos jornalistas.

O skatista tem patrocinadores poderosos, já fez seu pé de meia. Mas, para outros atletas, a medalha é a esperança de uma vida melhor. Abner Teixeira, bronze no boxe, por exemplo, viu na premiação que vai receber do Comitê Olímpico do Brasil (COB) pelo resultado, e no apoio futuro que deverá ganhar como medalhista olímpico, a chance de comprar uma casa própria para a mãe.

Como dizer para Abner que uma medalha é apenas um souvenir? Ou como afirmar isso a Darlan Romani, que superou uma estrutura precária de treinamento, hérnia de disco, distância do treinador, covid, internação da mãe e do irmão, e se preparou para tentar um pódio inédito, terminando em quarto, que medalha é somente um souvenir?

Que bom para Pedro Barros que ele atingiu um patamar tão alto na carreira, na vida, tanto espiritualmente quanto financeiramente, que a Olimpíada se torna menor. Mas o que faz da Olimpíada esse evento gigantesco, que atrai tanta atenção de tanta gente em tantos cantos do mundo é a competição, é o valor que se dá à medalha, é a gana (até exagerada) de um Djokovic de subir ao pódio.

Se dá na mesma ficar em terceiro ou em último, nem precisaria haver Olimpíada, não é mesmo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL