Quando caminhou em direção ao ringue, Abner Teixeira, 24 anos, tinha a cara que se espera de um boxeador que vai lutar por uma vaga na final olímpica. Estava compenetrado, concentrado, pronto para a guerra. Mas a música que escolheu para o momento não ornava com briga.
Os alto-falantes da Kokugikan Arena tocavam Eterno Aprendiz, de Gonzaguinha: "Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar... E cantar e cantar... A beleza de ser um eterno aprendiz..."
Abner teve liberdade para escolher a música e a estratégia de luta na semifinal. Com a trilha sonora deu tudo certo, já a tática para o combate teve destino diferente.
O plano era acertar bastante o corpo dele, ir minando e eventualmente achando os golpes na cabeça. Eu achei os golpes na cabeça, mas ele acabou enrolando um pouco a luta, bagunçando o plano por causa da experiência dele."
O adversário era o cubano Julia la Cruz, medalha de ouro no Rio-2016 e quatro vezes campeão mundial, que dominou a semifinal. No boxe, não há luta pelo terceiro lugar como no judô ou no taekwondo, e Abner ficou com o bronze e uma experiência.
"Um cara a que eu assisto há muito tempo, referência. O cara é campeão mundial desde 2011, então, estar dividindo o ringue com ele foi muito legal, uma experiência incrível. Infelizmente, na parte técnica e tática deixei a desejar um pouco, acabei perdendo a luta. Mas foi irado", disse o medalhista brasileiro.
Mais que uma experiência, Abner leva o bronze e está mais próximo de conseguir outro grande objetivo da vida: comprar uma casa para a mãe se livrar do aluguel. "Esta medalha me aproximou mais deste sonho. Eu tava caminhando para isso, juntando um pé de meia. Então, com certeza ajudou um pouco mais."
Para essa conta Abner já pode contar com, ao menos, R$ 100 mil. Esse é o valor do prêmio que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) pagará a todos os medalhistas de bronze em provas individuais.