Enquanto Alison dos Santos se aquecia para disputar a última prova da sessão matinal de atletismo nas Olimpíadas de Tóquio, dez brasileiros competiram no Estádio Olímpico. Todos foram eliminados de cara. Sobre Piu, a expectativa era outra. A responsabilidade também.
Depois de bater cinco vezes o recorde sul-americano dos 400m com barreiras só esse ano, havia chegado a hora do vamos ver.
Piu, naquela que foi uma das maiores provas da história do atletismo, em que os três medalhistas correram abaixo de um recorde olímpico que estava quase completando 30 anos e os dois primeiros colocados quebraram o antigo recorde mundial, o brasileiro foi só um menino. Um menino que passou os últimos minutos antes de entrar para a história "xavecando o momento".
Fiquei me divertindo, xavecando o momento, que é esse o meu foco. Quanto mais leve se estiver, mais leve a prova fica, melhor você fica. A pressão existe, mas você não deixa ela tomar conta de você".
Com a música "O menino que virou Deus", do funkeiro/rapper Kyan, na cabeça, Piu se posicionou na raia sete, ouviu o tiro de largada e passou a atacar as barreiras que apareciam à sua frente a cada sete passos. Desde a primeira, sempre atrás do norueguês Karsten Warholm e do americano Rai Benjamin. Quando cruzou a linha de chegada em terceiro, fez cara de espanto: 46s72 foi a quarta melhor da história e ele agora, mais do que medalhista de bronze nessa edição específica dos Jogos, mas o terceiro homem mais rápido de todos os tempos nos 400m com barreiras, atrás apenas dos que estiveram à sua frente hoje.
Mas o menino, ao olhar o telão, primeiro pensou que talvez estivesse na prova errada, tão incomuns que foram os tempos. Depois, abriu um sorriso e sentiu o gostinho da tubaína já adocicando sua boca.