Ausência do público e das famílias em estádios, ginásios e afins. O atleta pegando a medalha e colocando no próprio pescoço na cerimônia de pódio. O distanciamento e as máscaras escondendo a emoção. A organização das Olimpíadas estabeleceu protocolos sanitários tão rígidos para poder colocar os Jogos de Tóquio em pé no meio da pandemia de covid-19 que esfriaram o clima olímpico. Mas os competidores, vencedores e derrotados, trataram de mostrar que o evento é, acima de tudo, das pessoas. E com muito calor humano deixaram uma mensagem de esperança para o mundo.
Martine Grael e Kahena Kunze ganharam o ouro na vela e uma colocou a medalha na outra. O gesto foi repetido no pódio do futebol, com os jogadores da seleção homenageando os colegas ao lado. Na natação, a tão aguardada medalha olímpica de Bruno Fratus foi seguida de manifestação de amor: ele desceu do pódio e tascou um beijão de final de comédia romântica na treinadora e mulher Michelle Lenhardt.
Demonstrações de carinho foram vistas em delegações de vários países. Na Itália, por exemplo, Lamont Marcell Jacobs venceu os 100 metros rasos e abraçou meio mundo, incluindo jornalistas e o compatriota Gianmarco Tamberi, que ganhou a prova de salto em altura.
O querer estar junto faz parte da natureza do ser humano. O congraçamento entre os povos está nos princípios dos Jogos Olímpicos. Eles prevaleceram mesmo em época de crise sanitária. É contraditório, é questionável, mas faz sentido. O ser humano é uma espécie de hábitos coletivos, se reúne em tribos e clãs desde que fugia de feras na antiguidade.
Esse princípio humano de estar junto, de superar dificuldades, levou à construção de metrópoles como Tóquio. As Olimpíadas são a primeira tentativa de flexibilizar o distanciamento social. E também uma tentativa de reconciliar do ser humano com suas raízes.