Daniel Cargnin tinha 13 anos quando viveu a primeira grande reviravolta de sua vida. Ele treinava em uma pequena academia de Canoas (RS) e foi visto por Kiko Pereira, técnico do então campeão do mundo de judô João Derly. Alguma coisa no garoto chamou a atenção do experiente sensei, que perguntou o que ele buscava.
Eu perguntei o nome dele e o que ele queria ali. Depois de falar que era Daniel, não respondeu mais nada. Só ficou olhando para mim. Eu vi o olhar desse guri e pensei: 'é diferente'. E disse para ele: 'Tu quer ser campeão do mundo que nem o Derly, né?'".
Kiko reconheceu no menino um olhar que já tinha visto antes. O treinador gaúcho nunca foi a uma Olimpíada como técnico principal da seleção brasileira de judô, mas há poucos que conquistaram tanto quanto ele: já são cinco títulos mundiais e cinco medalhas de bronze olímpicas de atletas que passaram por suas mãos.
A segunda reviravolta aconteceu neste domingo (25). Depois de ter pensado em desistir quando perdeu o mundial por ter contraído o coronavírus, Daniel ganhou a medalha de bronze na categoria meio-leve nos Jogos Olímpicos. O resultado foi, sem dúvida, fruto daquela interação simples que uniu dois olhares —o da experiência e o da curiosidade.
Uma década depois do encontro, Daniel Cargnin é medalhista, feito que nem mesmo o ídolo João Derly conquistou.