Paris-2024 é logo ali

O que esperar do menor ciclo olímpico da história, com uma duração de apenas três anos

Demétrio Vecchioli e Denise Mirás Do UOL, em Tóquio e em São Paulo Aurelien Meunier/Getty Images

Daqui a exatos 1.080 dias, em 26 de julho de 2024, o fogo olímpico vai iluminar algum ponto da Cidade Luz. Em circunstâncias normais, poderíamos cravar que, por duas semanas e dois dias, a chama olímpica ficaria no Estádio Olímpico de Paris-2024, como é de costume. Mas a Olimpíada que está por vir não será uma Olimpíada normal.

A capital francesa, uma das cidades do mundo que mais mexe com o imaginário popular, promete realizar uma edição de colecionador, daquelas em todo mundo gostaria de estar. A começar pela cerimônia de abertura, que o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que vai acontecer às margens do Rio Sena, de forma a atrair milhões de pessoas, entre franceses e turistas.

"Queremos que a cerimônia seja verdadeiramente popular, aberta a todos, única como experiência, muito inovadora e que faça sentido para os franceses, que transmita uma mensagem ao mundo", disse Macron, sem dar pistas de como isso vai funcionar e dialogar com o endereço oficial da abertura, o Stade de France.

Depois de uma Olimpíada absolutamente fria, com pouca identificação com Tóquio, os Jogos de Paris prometem ser a cara da Cidade Luz: urbanos, intensos, vívidos, apaixonantes.

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Depois da "bolha" de Tóquio, uma Olimpíada na cidade

Diante das circunstâncias, é injusto fazer qualquer julgamento de valor sobre os Jogos de Tóquio. Mas não há como negar que a competição, em meio a pandemia, aconteceu à parte da cidade. Não só não havia público como não havia qualquer relação com o que acontecia do lado de fora da "bolha", exceto a passadinha rápida nas conveniências para comprar alguma refeição também rápida. Se toda a estrutura fosse transportada para qualquer outra cidade, ninguém perceberia a diferença.

Em Paris há de ser o oposto, se a disseminação do coronavírus for controlada até lá. O torneio de 2024 foi pensado para fazer parte da cidade. Três das áreas turísticas mais conhecidas serão sede dos Jogos: o Campo de Marte (gramado em torno da Torre Eiffel) vai receber o vôlei de praia; a região do Palácio dos Inválidos, o tiro com arco; a Praça da Concórdia, os "esportes urbanos" — ciclismo BMX, skate, breaking —; e o jardim do Palácio de Versalhes receberá o hipismo.

Se em Tóquio o transporte foi um problema, principalmente para os jornalistas que dependeram do sistema oficial de ônibus, em Paris a maior parte dos eventos vai acontecer em duas regiões: uma próxima da Torre Eiffel, às margens do Sena, e outra mais ao norte, em Saint-Denis, onde fica o estádio que foi palco da final da Copa do Mundo de 1998. É onde serão realizadas as cerimônias de abertura e de encerramento, e as competições de atletismo.

Richard Heathcote/Getty Images

No ciclo curto, uma corrida contra o tempo

O fato de faltar tão pouco também deverá fazer de Paris uma Olimpíada especial. A regra é um intervalo de quatro anos a cada edição, mas dessa vez serão só três. Daqui a pouco tempo, em outubro, já será celebrada a marca simbólica de mil dias para a cerimônia de abertura.

No esporte, isso faz diferença. Atletas costumam pensar em ciclos de treinamento, que têm como objetivo competições específicas. No atletismo, por exemplo, o ano seguinte aos Jogos Olímpicos tem um Mundial Indoor no início da temporada, e o Mundial de Atletismo de fato, em ambiente ao ar livre, é só dois anos depois da Olimpíada. Tempo de sobra para quem precisa tirar o pé do acelerador, descansar.

Dessa vez as coisas serão mais corridas. Nos próximos um ano e sete meses serão disputados nada menos do que três Mundiais, sendo dois indoor e o Mundial regular, nos Estados Unidos. E logo em seguida já deve começar a valer o período de classificação para Paris.

Na ginástica artística, a Federação Internacional decidiu não mudar a data do Mundial, previsto para outubro de 2021, também no Japão, mesmo com o adiamento da Olimpíada. A competição, que não terá provas por equipes, só disputas individuais, não vale muita coisa.

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COB já busca bases na França

O COB também não terá descanso. O Comitê Olímpico do Brasil já fez duas viagens para a França para avaliar as possíveis bases de aclimatação e de treinamento antes e durante os Jogos. Em outubro, já está marcada uma terceira viagem, para Marselha, com o objetivo de escolher a base da equipe de vela, já que as competições dessa modalidade vão acontecer lá.

Diferente de Tóquio, em que havia grande preocupação com fuso horário e adaptação à alimentação, em Paris as coisas devem fluir mais tranquilamente. Pela menor diferença no relógio e porque os atletas estão mais acostumados com a viagem e com as refeições na Europa Ocidental.

O Time Brasil deve fechar acordo com o Comitê Olímpico de Portugal para voltar a usar as instalações de Rio Maior (foto), onde aconteceu a Missão Europa, período de treinamentos dos brasileiros na Europa durante a pandemia. Além disso, o COB promete trocar figurinhas com as confederações e aproveitar as logísticas que elas já têm no Velho Continente.

Em Tóquio, foi tratado como grande acerto do COB o acordo para o uso de uma escola a menos de um quilômetro da Vila Olímpica como base para os atletas treinarem e se alimentarem com comida brasileira. O Comitê já discute opções para base semelhante em Paris.

Brasil precisa garantir dinheiro e renovação

As 21 medalhas conquistadas em Tóquio foram um recorde para o esporte brasileiro e, mais do que isso, conseguir uma campanha fora de casa ainda melhor do que uma Olimpíada em casa no ciclo anterior é feito raríssimo no esporte, que só a Grã-Bretanha, em 2016, havia alcançado.

Mas o cenário para Paris, ao menos por enquanto, é de que o Brasil terá grandes dificuldades de continuar evoluindo. Tanto como consequência da falta de apoio ao esporte por parte do governo federal, que acabou com o Ministério do Esporte e deixou de fazer convênios com confederações (com raríssimas exceções), quanto pela falta de renovação de atletas.

Um atleta costuma levar pelo menos oito anos para ser formado, sendo quatro no alto rendimento. Para ser medalhista em 2024 ele precisaria já ter se destacado em competições de base neste momento, em 2021, mas são poucos os casos assim.

Nos Jogos da Juventude de 2018, o Brasil só ganhou um ouro em prova olímpica, com Keno Marley, que não conseguiu subir ao pódio no boxe em Tóquio e tende a seguir evoluindo até Paris. Diogo Soares, que ganhou uma prata e um bronze em 2018, fez sua estreia na ginástica artística em Tóquio, pegou final no individual geral, mas não foi ao pódio. Ambos são apostas do COB.

Há outros nomes, como Eduarda Rosa, do judô, Lucas Vilar, do atletismo, Luiz Oliveira, do boxe, Murilo Sartori, da natação, e Leonardo Lustoza, do tiro esportivo. Ainda assim, é menos do que o número de atletas de ponta que tende, pela idade, a entrar em uma curva descendente da carreira. É o caso de Mayra Aguiar e Rafael Silva, do judô, Bruno Fratus, da natação, e Darlan Romani, do arremesso de peso. Não será surpresa se eles seguirem brigando por medalhas, pelas qualidades que têm, mas a tendência não é essa.

No boxe, o ciclo olímpico curto deve ajudar a manter no esporte olímpico Hebert Conceição, Abner Teixeira e Bia Ferreira, que podem ser os primeiros brasileiros com duas medalhas olímpicas no boxe — os demais, exceto Adriana Araújo, se profissionalizaram antes de tentar defender a medalha.

E há ainda os casos de atletas que têm idade para mais um ciclo olímpico e talento para continuarem a evoluir em busca do pódio. São os casos de Hugo Calderano, do tênis de mesa, Marcus Vinicius D'Almeida, do tiro com arco, e Larissa Pimenta, do judô, por exemplo.

Luis ACOSTA / AFP
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