O verdadeiro Dream Team

Time feminino de basquete dos EUA enfileirou medalhas de ouro nos últimos 25 anos

Thiago Braga Colaboração para o UOL, em São Paulo Tom Pennington/Getty Images

Como esquecer o feito do basquete masculino dos Estados Unidos nos Jogos de Barcelona, em 1992? É unânime a lembrança quando se fala do esporte nas Olimpíadas. De fato, a equipe que tinha, entre grandes nomes, Michael Jordan e Earvin "Magic" Johnson não levou apenas o ouro naquela edição. Eles conquistaram uma idolatria poucas vezes vista até então nos Jogos Olímpicos. As partidas pareciam apenas encontros protocolares e, muitas vezes, adversários foram vistos pedindo autógrafo para os ídolos do basquete americano, que levaram o país ao lugar mais alto do pódio com uma diferença de 43.8 pontos em média nas vitórias na competição.

Só que ainda mais espetacular do que os feitos alcançados pelo chamado "Dream Team", são as glórias conquistadas pela seleção feminina dos Estados Unidos. A virada na história do basquete feminino americano também aconteceria em Barcelona. A derrota por 79 a 73 para a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) —nome com o qual a extinta União Soviética participou dos Jogos Olímpicos de 1992—, foi a última derrota da equipe em Olimpíadas. Isso significa que, há 25 anos, o basquete feminino dos Estados Unidos é vitorioso.

Somando as duas principais competições de basquete, as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Basquete Feminino da Fiba, as americanas perderam apenas uma vez desde que venceram os Jogos de Atlanta em 1996. Isso aconteceu nas semifinais do Mundial de 2006, realizado no Brasil, quando elas foram derrotadas pela Rússia. Depois, bateram o Brasil e ficaram com o terceiro lugar.

Cinco anos atrás, as americanas passearam no Rio de Janeiro. Com desempenho irretocável, elas anotaram em média 102,1 pontos por jogo, cedendo apenas 64,9 pontos por jogo às adversárias. Venceram jogos por vantagens de 65, 46 e 43 pontos. Na final, a Espanha só esteve à frente do placar por duas vezes. E no primeiro quarto. No fim, domínio amplo e vitória por 101 a 72 para conquistar a sexta medalha de ouro seguida.

Assim, sem os holofotes dispensados aos astros da NBA, as mulheres americanas estão construindo uma dinastia poucas vezes vista na história do esporte, escorada em uma impressionante sequência de sucesso olímpico, que pretende desembocar no sétimo ouro seguido nos Jogos de Tóquio-2020. Dream team, meus caros, é isso aqui.

Basquete olímpico

O basquete foi inventado nos Estados Unidos nos anos 1880. E, quando o assunto é Olimpíada, os criadores do esporte não deixam margem para os adversários. Embora o basquete seja um dos esportes mais praticados e populares no mundo, o predomínio americano é impressionante.

A introdução do esporte no programa olímpico aconteceu nos Jogos de 1904, em St. Louis, como evento de demonstração. Foi apenas a partir das Olimpíadas de 1936 que o basquete foi disputado como evento de medalha. O basquete feminino, por sua vez, fez sua estreia 40 anos depois, em Montreal-1976. A União Soviética foi a primeira a conquistar o título olímpico ao vencer os Estados Unidos na final.

Em 1980, devido ao boicote, os Estados Unidos não participaram da Olimpíada de Moscou. Enquanto os soviéticos mantiveram a coroa em seus jogos em casa, as americanas conquistaram as medalhas de ouro nos dois jogos seguintes —Los Angeles-1984 e Seul-1988. Depois da derrota em Barcelona-1992, empilharam ouro sobre ouro: Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012 e Rio de Janeiro-2016.

Embora também tenha um desempenho espetacular de Barcelona-1992 até os dias de hoje, a equipe masculina de basquete dos Estados Unidos teve percalços ao longo desse caminho até Tóquio. Em Atenas-2004, a Argentina surpreendeu os americanos na semifinal. Em Mundiais, o time masculino também ficou pelo caminho em 2006 e em 2019.

Ned Dishman/NBAE via Getty Images

Expertise de Dawn Staley

Enquanto se prepara para estrear nas Olimpíadas diante da Nigéria, a equipe americana foi derrotada duas vezes em amistosos contra um time formado pelas estrelas da WNBA e para a Austrália. É a primeira vez que a equipe sofre duas derrotas seguidas desde 2011.

"Não estamos acostumados a perder. Essa preparação é ótima para nós, está nos colocando de volta ao chão e em posição de descobrir algumas coisas rapidamente. Você perde dois jogos e isso abala. Isso é estranho para elas. Sentimos um pouco de pressão", disse a técnica americana Dawn Staley.

Depois de conduzir o time ao título invicto da Copa do Mundo em 2018, Staley agora será a responsável por tentar elevar a seleção feminina de basquete dos Estados Unidos ao panteão dos maiores campeões olímpicos da história.

Ela substitui Geno Auriemma, que levou a equipe dos EUA às medalhas de ouro em 2012 e 2016. Embora Staley vá participar das Olimpíadas como técnica pela primeira vez, fato é que ela não é inexperiente em Jogos Olímpicos. Pelo contrário, Staley foi assistente nos Jogos do Rio de Janeiro-2016 e esteve presente em cinco das últimas seis conquistas de ouro olímpico da seleção feminina: como jogadora, foi ouro em 1996, 2000 e 2004. Além disso, conquistou mais duas medalhas como assistente, em 2008 e 2016. Ela mesma vai fazer história simplesmente por estar onde está, já que é a primeira mulher negra a comandar a seleção feminina americana de basquete.

A equipe, como sempre, mostra solidez e não demonstra fraquezas aparentes. A aposta é na mescla entre a experiência de Sue Bird e Diana Taurasi, que tentam em Tóquio a conquista do quinto ouro consecutivo, com as estreantes A'ja Wilson, atual MVP da WNBA, e a duas vezes All-Star da WNBA Napheesa Collier.

Stephen Gosling/NBAE via Getty Images

Explicação para a dinastia

Após o fracasso nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e no Campeonato Mundial da Austrália, em 1994 —quando perdeu a semifinal para o Brasil, que foi o campeão do torneio—, a federação americana resolveu promover uma renovação.

Para dar rodagem ao time, a entidade fez o time viajar mais de 100 mil quilômetros ao redor do mundo, enquanto se preparava para a disputa dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, que resultou em um retrospecto de 52 jogos de invencibilidade.

Presente tanto na semifinal do Mundial da Austrália, em 1994, e na final olímpica de 1996, a armadora brasileira Magic Paula recorda à reportagem como foi a decisão em Atlanta.

"Eu, particularmente, não pensei no momento em que jogamos a final olímpica que as americanas seguiriam conquistando o ouro em Olimpíadas. Mas acho óbvio quando falamos sobre a forma como elas conduzem a modalidade no país. Modelo em que a escola abraça a formação e a quantidade de garotas praticando basquete gera essa máquina de fazer títulos. É algo que está enraizado na cultura americana."

Ao mesmo tempo em que começou a consolidar a seleção internacionalmente, o basquete americano pôde pavimentar seu sucesso com a criação da WNBA, liga de basquete para os times femininos, no mesmo molde da NBA.

Assim, os Estados Unidos também abriram as portas do principal torneio nacional de basquete para as melhores jogadoras do mundo, contribuindo ainda mais para a evolução das suas jogadoras.

Quem vai lutar pela hegemonia

  • Ariel Atkins

    Atkins está fazendo não apenas sua estreia olímpica, mas também pela seleção adulta. A armadora do Washington Mystics tem experiência no basquete dos EUA nas categorias de base, ganhando o ouro com a equipe do campeonato FIBA Américas Sub-18 de 2014.

    Imagem: Ned Dishman/NBAE via Getty Images
  • Sue Bird

    A armadora de 40 anos é uma das lendas do basquete americano. Ela leva para Tóquio suas quatro medalhas de ouro e o retrospecto de nunca ter saído de quadra derrotada em uma Olimpíada. São 142 vitórias e 6 derrotas com Bird jogando e, além das conquistas olímpicas, tem também quatro medalhas de ouro na Copa do Mundo da Fiba e uma medalha de bronze.

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  • Skylar Diggins-Smith

    Diggins-Smith fez parte do time que venceu a primeira Copa do Mundo 3x3 da Fiba em 2012, mas fará sua estreia em um grande torneio neste ano. Diggins-Smith, que fará 31 anos em Tóquio, tem medalhas de ouro na base.

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  • Chelsea Gray

    Campeã da WNBA em 2016 com o Los Angeles Sparks, Gray participou de vários campos de treinamento e exibições da seleção nacional, mas nunca de um grande torneio vestindo o vermelho, branco e azul.

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  • Jewell Loyd

    Loyd segue para Tóquio com um título da Copa do Mundo de 2018 em seu currículo, bem como dois títulos da WNBA com o Seattle Storm. Loyd, uma armadora de 27 anos, também venceu a Copa do Mundo 3x3 de 2014 com a equipe dos EUA, tornando-a a primeira pessoa a vencer o torneio nos níveis 3x3 e 5x5.

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  • Diana Taurasi

    Uma das maiores jogadoras da história, Taurasi vai para a disputa de sua quinta Olimpíada, mas isso é pouco para definir a armadora de 39 anos. Taurasi também é três vezes campeã da Copa do Mundo, três vezes MVP da WNBA e seis vezes vencedora da EuroLiga. No quesito premiação individual, Taurasi também atingiu o ápice da carreira tendo sido eleita MVP da WNBA, MVP das finais da WNBA, MVP da EuroLiga. Ela também é a maior pontuadora da história da WNBA.

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  • Napheesa Collier

    Collier fará sua estreia olímpica em Tóquio 2020, mas Collier tem experiência internacional em 3x3 e 5x5, compilando um recorde total de 49 vitórias e 1 derrota em ambos. Ela foi uma das estrelas da WNBA e estreante do ano pelo Minnesota Lynx em 2019.

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  • Breanna Stewart

    Uma jogadora da seleção nacional voltando aos seus dias de colégio, Stewart, agora com 26 anos, está indo para sua segunda Olimpíada com a equipe dos EUA. A jogadora do Seattle Storm da WNBA está entre o grupo de 11 mulheres que ganhou uma medalha de ouro olímpica, medalha de ouro da Copa do Mundo da Fiba, título da WNBA e título da NCAA.

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  • A'ja Wilson

    Uma das jovens estrelas mais brilhantes da WNBA, Wilson fará sua estreia olímpica depois de ajudar anteriormente a levar a equipe dos EUA ao ouro na Copa do Mundo de 2018. Ela era o membro mais jovem dessa equipe e teve uma média de 10 pontos e 4 assistências ao longo do torneio.

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  • Tina Charles

    A pivô está de volta para uma terceira Olimpíada, na esperança de somar mais um ouro ao seu currículo, que já tem duas medalhas de ouro olímpicas e três medalhas de ouro na Copa do Mundo. Agora com 32 anos, Charles fez parte da seleção nacional adulta pela primeira vez em 2009 e foi eleita Atleta Feminina do Ano de basquete dos EUA naquela temporada.

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  • Sylvia Fowles

    Fowles se tornará apenas o sexto jogador de basquete americano, masculino ou feminino, a jogar em quatro Jogos Olímpicos. A pivô do Minnesota Lynx, de 35 anos, é conhecida como uma força defensiva.

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  • Brittney Griner

    Com presença imponente da equipe dos EUA, Griner, de 1,80 m de altura, está indo para seu quarto grande campeonato internacional aos 30 anos. Também medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016, Griner ajudou os EUA a obter títulos nas Copas do Mundo de 2014 e 2018.

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Ethan Miller/Getty Images

Vai dar jogo?

Com todo esse retrospecto, é pouco provável que a medalha de ouro não pare no peito das jogadoras americanas. Vice-campeã em 2016, a Espanha não demonstra ter a mesma pegada para encarar os Estados Unidos.

Bronze no Rio de Janeiro e campeã europeia, a Sérvia vem em ascensão, mas parece pouco ainda para bater de frente com as americanas. Quem torce contra o basquete feminino dos Estados Unidos, então, encontra maior esperança na Austrália.

Além de já ter derrotado as americanas nos jogos preparatórios para Tóquio —embora os Estados Unidos estivessem desfalcados de Sue Bird e Diana Taurasi—, as jogadoras australianas estão mais acostumadas a jogar contra as americanas.

Ezi Magbegor, Rebecca Allen, Leilani Mitchell, Alanna Smith e Stephanie Talbot jogam na WNBA. O grupo também conta com a experiência da WNBA em seu banco, já que a treinadora Sandy Brondello também é técnica do Phoenix Mercury, da WNBA.

Apesar de ter ficado fora do pódio no Rio de Janeiro, em 2016, a Austrália mostra um retrospecto de respeito, com três pratas e dois bronzes entre os Jogos de 1996 a 2012. Em 2018, foi vice-campeã mundial e agora espera dar o salto e entrar definitivamente para a história, quebrando uma das maiores hegemonias do esporte.

"No esporte tudo pode acontecer, mas, pelo que vi da convocação dessa seleção americana que está em Tóquio, não tem para ninguém", analisou Magic Paula, deixando claro que o favoritismo está com as americanas no Japão.

Jogadoras históricas

  • Dawn Staley

    Hoje técnica da equipe que vai em busca do sétimo ouro seguido, Dawn Staley foi presença constante nos times de basquete dos EUA em quase todos os anos entre 1989 e 2004. Nesse tempo, a hoje treinadora foi peça-chave para transformar o domínio americano em hegemonia. Além das medalhas de ouro olímpicas de 1996, 2000 e 2004, Staley esteve presente quando os EUA conquistaram duas medalhas de ouro no Campeonato Mundial da Fiba em 1998 e 2002.

  • Diana Taurasi

    Mais uma do seleto grupo de 11 jogadoras que ganhou pelo menos uma medalha de ouro na Copa do Mundo, uma medalha de ouro olímpica, um título da NCAA e um campeonato WNBA. Diana Taurasi jogou em duas equipes júnior dos EUA em 2000 e 2001 antes de ser chamada para a seleção americana adulta em 2004. Desde então, ajudou os EUA a ganhar quatro medalhas de ouro olímpicas, três medalhas de ouro da Copa do Mundo, ouro do Campeonato das Américas em 2007 e medalha de bronze da Copa do Mundo de 2006. Vestindo o uniforme da seleção americana, Taurasi tem 131 vitórias e apenas 7 derrotas.

  • Lisa Leslie

    Leslie ganhou quatro medalhas de ouro consecutivas como membro das equipes olímpicas de basquete feminino dos EUA em 1996, 2000, 2004 e 2008. Também conquistou medalhas de ouro nas Copas Mundiais da Fiba em 1998 e 2002. Ela é três vezes MVP da WNBA que ganhou dois campeonatos da WNBA ao longo de 11 temporadas da WNBA.

  • Tamika Catchings

    Tamika foi uma das defensoras mais tenazes de todos os tempos e vencedora em todos os níveis. Ela é uma das 11 mulheres que conquistaram campeonatos na faculdade e na WNBA, bem como medalhas de ouro nas Olimpíadas e na Copa do Mundo da Fiba. Quatro vezes medalha de ouro olímpica, Catchings encerrou sua carreira de jogadora no final da temporada 2016 da WNBA e deixou a liga como sua líder em roubos de bola em todos os tempos.

  • Sue Bird

    Os números falam por si quando se trata da carreira da armadora Sue Bird com a camisa da seleção americana. Ela fez sua estreia em 2002 e, de lá para cá, não para de impressionar. Desde então, Sue Bird ajudou os EUA a conquistar quatro medalhas de ouro olímpicas consecutivas com 8 a 0 em cada um dos Jogos Olímpicos de 2004 a 2016. Além disso, mais quatro medalhas de ouro na Copa do Mundo, entre outras conquistas.

  • Sheryl Swoopes

    Sheryl Swoopes era uma armadora considerada uma das maiores cestinhas de todos os tempos. Swoopes ganhou três medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1996, 2000 e 2004 e ouro nos Mundiais de 1998 e 2002. Em 102 jogos na carreira com a seleção americana, ela teve média de 11,9 pontos.

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