Quando os antepassados de Katsuhico Nakaya pensaram em viajar para o Brasil, fazia sentido. O Japão dos anos 1920 era um país pobre e sem muita perspectiva para quem ganhava o sustento com a terra. Mas ninguém imaginava que, ao chegar à Terra Prometida, como o Brasil era conhecido por lá, enfrentariam anos trabalhando em regime de semiescravidão nas lavouras de café do interior de São Paulo. Com a família de um dos mais premiados técnicos do atletismo brasileiro, aconteceu na região da Alta Paulista. Quando o próprio Nakaya começou a sua vida, encarou outra barreira: o preconceito. Quando ele tentou se tornar atleta, o então menino ouviu que "japonês não servia para atleta".
Katito, como era chamado pela avó, é nissei —filho de pais japoneses nascido no continente americano. Os avós por parte de pai vieram de Niigata; o pai Kunio nasceu em solo brasileiro e, na juventude, entre o trabalho nas plantações e a colheita do café, lutava sumô. Os antepassados por parte da mãe Sakiko partiram do Japão em 1927: vieram da região de Fukui Ken. As duas famílias chegaram iludidas pelas promessas de terras amplas, condições de trabalho e muita fartura.
"Meus avós contavam que o regime era quase de escravidão, moravam em casa de sapê", diz Katsuhico Nakaya, contando que todo o dinheiro prometido pelos donos de fazenda ia direto para a vendinha local, onde a família gastava apenas o necessário para sobreviver, sem nenhum excedente. Mesmo assim, Katsuhico virou atleta. E mais: olímpico. Defendeu o Brasil nos Jogos de Moscou e Los Angeles e foi técnico do time que foi medalhista de bronze no 4x100m feminino dos Jogos Olímpicos de 2008. Agora, será um dos integrantes da equipe técnica nacional que disputará as provas de atletismo em Tóquio.