Os barcos da classe 49er FX se amontoavam diante da linha de largada quando uma vela pintada com a bandeira brasileira se destacou na linha do horizonte. Martine Grael tinha tido uma ideia. Como timoneira, era sua missão encontrar os caminhos invisíveis por onde o barco navegasse com mais velocidade.
Instintivamente, conforme contaria depois, ela percebeu que havia uma correnteza em uma região distante na área de regata, viu que os ventos daquele lado pareciam mais promissores e avisou sua companheira, Kahena Kunze, que elas deveriam ir por ali. Kahena deu uns passos para o lado e, manejando os cabos que controlam a vela, ajustou os ângulos, fazendo o barco brasileiro se afastar rapidamente do restante da flotilha.
Quem olhava de longe poderia pensar que tinha acontecido alguma coisa errada com aquele barco solitário que se afastava dos demais. Mas com aquele movimento contra-intuitivo, Martine e Kahena puderam, por um tempo, pegar vento limpo, sem interferências, enquanto todas as suas adversárias disputavam o mesmo espaço.
Começavam ali a ganhar uma medalha de ouro pela segunda vez. Agora, nas águas tranquilas do Oceano Pacífico.
O barco da 49er FX tomba no mar se não houver ninguém em cima dele e por isso quem o veleja precisa usar o próprio corpo como contrapeso. Martine e Kahena pisaram sobre as asas do barco, chamado Tsuru, como se dançassem. Um passo de cada vez, saltos na hora certa, em sincronia com barco, vento e mar.
"Às vezes, o que fazemos parece com um balé", costuma dizer a carioca Martine. O balé da dupla já tinha garantido a elas o primeiro ouro olímpico da classe, no Rio de Janeiro, em 2016. Agora, na marina de Enoshima, elas dançaram para o bicampeonato e colocaram seu nome no topo do esporte olímpico brasileiro.