Às 2 horas da manhã no aeroporto de Doha, no Qatar, Gabriel Medina curvou a coluna para escorar os cotovelos em uma grade na frente do guichê da companhia aérea, à espera de seu voo para Tóquio. O brasileiro é o melhor surfista do mundo, o grande astro da estreia do surfe no programa olímpico.
Mesmo assim, seu acesso ao avião está fechado. O voo está atrasado e não há nenhum funcionário para orientá-lo. Ele está sozinho. Abduzido pelo telefone, é trazido de volta quando um jornalista o aborda, mas ele explica que não dará entrevistas porque está "resolvendo tretas".
A pandemia de covid-19, as restrições e protocolos que ela criou fizeram o favorito ao ouro olímpico viajar ao outro lado do mundo sozinho, sem nenhum amigo ou funcionário para ajudar no desembaraço burocrático que uma viagem dessas exige. Talvez pela primeira vez na vida. Talvez não pela última.
A chama olímpica se acenderá na manhã desta sexta-feira e dará início ao primeiro grande evento global desse novo mundo assolado por um vírus mortal em constante mutação. Serão 80 mil pessoas de todo o planeta reunidas em uma cidade de 20 milhões de habitantes, que teme um surto incontrolável. Os erros e acertos de Tóquio devem projetar as possibilidades dos próximos eventos, a começar pela Copa do Mundo do Qatar no ano que vem.