Rebeca Andrade já estava no meio de sua apresentação do solo quando Baile de Favela começou a tocar. Sentada no primeiro degrau da arquibancada lateral, ao lado de companheiras de equipe dos EUA, Simone Biles começou a bater palmas no ritmo que embalava a brasileira.
Sim, o maior nome da história da ginástica artística ouviu o funk 100% brasileiro e se empolgou. A maior parte dos assentos de madeira do Centro de Ginástica Ariake estava vazio, mas havia calor humano dentro do ginásio, vindo de ginastas, comissões técnicas, voluntários e jornalistas. Por alguns segundos, parecia que as Olimpíadas de Tóquio eram disputadas com público.
Biles deveria estar na área de competição, mas, por razões pessoais, estava na arquibancada, onde já havia aplaudido Rebeca Andrade nas barras assimétricas, em um gesto efusivo flagrado pela televisão. Na apresentação do solo, porém, a reação foi icônica. Um prêmio para uma garota preta como ela que realizava um sonho.
Um sonho sonhado por Daniele Hypólito, Daiane dos Santos, Laís Souza e Jade Barbosa, todas medalhistas em Campeonatos Mundiais, mas que não conseguiram o pódio olímpico. Ele, o pódio olímpico, demorou, mas veio. No peito de Rebeca Andrade que hoje é a segunda melhor ginasta do mundo, vice-campeã olímpica do individual geral.
O ouro foi para outra ginasta, a norte-americana Sunisa Lee, mas isso é o que menos importa. Porque Tóquio é Baile de Favela e Rebeca não deve parar de comemorar tão cedo.