Havia um descompasso entre as forças da natureza na baía de Sagami, na ilha de Enoshima, quando os barcos se posicionaram diante de uma linha imaginária no mar. O vento soprava em direção à praia, onde banhistas aproveitavam o domingo de verão, enquanto a correnteza fluía para o outro lado, na direção do coração do Oceano Pacífico.
O que velejadores como Robert Scheidt fariam numa situação dessas?
Não era a condição que ele tinha sonhado para a regata. Aos 48 anos, o mais velho entre os dez velejadores do grid hesitou. O comportamento do vento não era o problema. Scheidt deveria velejar contra ele, o que tem feito com tranquilidade desde que ganhou seu primeiro barco do pai, antes de completar 10 anos, e começou a guiá-lo pela represa de Guarapiranga, em São Paulo.
O que lhe causou surpresa foi o movimento incomum da maré, que o impulsiva ainda mais em direção à linha imaginária da largada. Faltavam menos de 30 segundos para o início da última regata das Olimpíadas, e se o barco de Scheidt fosse atingido por uma corrente ainda mais forte e inesperada, ele poderia queimar a largada.
E se você é o mais experiente velejador da flotilha, se você já foi duas vezes campeão olímpico e disputou sua primeira Olimpíada quando a maioria dos seus adversários ainda usava fraldas, você não quer queimar a largada.
Um helicóptero sobrevoava a região, aumentando o drama, assim como a locutora, que em inglês explicava a prova a quem assistia da marina:
"Representando o Brasil, Robert Scheidt vai tentar sua sexta medalha olímpica, ele que está na sua sétima participação nos Jogos", anunciou a locutora, enquanto a imagem do brasileiro aparecia em um telão instalado em uma plataforma no mar. "Uma verdadeira lenda!"