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Tatiana Weston-Webb cresceu no Havaí, mas se encantou com o Brasil e optou representar o país natal em Tóquio

Beatriz Cesarini Do UOL, em Tóquio Cait Miers/World Surf League via Getty Images

Tatiana Weston-Webb nasceu com o surfe circulando pelas suas veias. Filha da ex-bodyboarder brasileira Tanira Guimarães e do surfista inglês Doug Weston-Webb, Tati nasceu em Porto Alegre há 25 anos, mas se mudou com dois meses para o Havaí, nos Estados Unidos, onde não demorou para pegar as primeiras ondas.

"Minha primeira lembrança com o surfe é de quando era bem pequenininha. Tinha uns dois aninhos e meu pai já me empurrava na prancha. Lembro que era uma prancha laranja bem grande. Desde esse momento, amei o sentimento do surfe."

Como deixou o Brasil ainda quando era bebê, Weston-Webb tinha apenas a nacionalidade norte-americana. Apesar disso, sua terra natal nunca deixou seu coração e, quando o Comitê Olímpico Brasileiro propôs que ela passasse a competir pela bandeira verde e amarela, Tatiana não pensou duas vezes.

Desde abril de 2018, Tatiana Weston-Webb passou também a ter a nacionalidade brasileira e, segundo a surfista, a responsabilidade pela própria carreira aumentou. Hoje, ela é a quarta melhor do mundo e vai representar o Brasil, ao lado de Silvana Lima, nas Olimpíadas de Tóquio.

Cait Miers/World Surf League via Getty Images

Brincadeira virou coisa séria

Tatiana foi criada no berço do surfe mundial e sempre amou pegar ondas com o pai Doug, que a ajudava a ficar em pé nas pranchas. Quando completou oito anos e passou a surfar sozinha, ela começou a participar de torneios nacionais.

"Começou como uma brincadeira. Minha família sempre incentivou e acreditou em mim, desde o começo. No meu primeiro evento, eu fui bem mal. Mas eu falei para minha mãe: 'Ano que vem eu vou ganhar esse evento'. E eu consegui. Venci no ano seguinte", relembrou.

A havaiana-brasileira pegou gosto pela competição e foi participando de todos os torneios que podia. A mãe Tanira preferia esconder os resultados para não pressionar a filha, que ainda era bem jovem. Então, sem perceber, Tatiana conseguiu se classificar no Championship Tour (CT), o tour principal da Liga Mundial de Surf (WSL), aos 20 anos.

"Sempre amei surfar e gostava muito de competir. Segui os campeonatos nacionais e cheguei ao QS - a qualificação para o CT. Eu ia muito bem, mas minha mãe não contava que eu estava conseguindo bons resultados. Eu nem via a pontuação. No último evento do ano, minha mãe falou: 'Olha, se você ficar em segundo lugar, vai se classificar'. E eu: 'Mãe, por que você não me falou?'. Fiquei ainda mais focada e deu tudo certo. Se eu estou aqui hoje, é porque minha mãe me colocava nessas competições para me classificar", contou a surfista.

Minha mãe sempre acreditou em mim. Meus pais tiravam dinheiro do bolso para investir na minha carreira. E não era um dinheiro que estava sobrando. Eles sabiam que era difícil conseguir patrocínio no Havaí e gastaram acreditando que eu iria conquistar alguma coisa. Hoje penso: 'Eles colocaram muita fé em uma pessoa pequenininha'. Não acredito que eles fizeram isso por mim e sou super grata.

Tatiana Weston-Webb, sobre os pais Doug Weston-Webb e Tanira Guimarães, que seguem vivendo no Havaí

Pat Nolan/World Surf League via Getty Images Pat Nolan/World Surf League via Getty Images

Principais resultados

WSL / ED SLOANE

Aberto dos EUA (2016)

Em julho de 2016, Tatiana venceu a surfista havaiana Malia Manuel e conquistou o Aberto dos EUA, em Huntington Beach, na Califórnia. Foi a sexta etapa do Mundial de surfe.

Cait Miers/World Surf League via Getty Images

Margaret River Pro (2021)

Em maio deste ano, Tatiana venceu a australiana Stephanie Gilmore na final do Margaret River Pro, em Margaret River, na Austrália. Foi a quarta etapa do Mundial.

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Tudou mudou quando ela virou "brasileira de verdade"

Até 2018, Tatiana participava dos campeonatos representando o Havaí. Quando teve a oportunidade de competir pelo Brasil, a atleta contou que sua vida ganhou outro sentido. Assim que trocou de nacionalidade, o sentimento por seu país natal acendeu dentro do coração junto com o amor pelo surfista brasileiro Jessé Mendes.

"A gente sempre veio para o Brasil para visitar a família da minha mãe e passear por aqui. Comecei a namorar com o Jessé também e descobri o amor que sempre tive pelo Brasil. Foi uma coisa bem natural, porque sempre fui brasileira. Mas fiquei cada vez mais apaixonada pelo Brasil."

"Tudo mudou na minha vida. Estou representando o Brasil em si, mas tem muita coisa por trás disso: paixão, emoção, vontade, garra... Tudo isso está dentro do brasileiro e está aparecendo nas minhas ações, porque sempre esteve dentro de mim. Eu estou lutando muito mais, não só por mim, quero lutar por cada brasileiro" destacou.

Quando eu decidi virar brasileira de verdade, minha vida mudou. Eu estou representando mais do que um país, estou representando pessoas que sonham e lutam para correr atrás dos seus sonhos.

Tatiana Weston-Webb, sobre ter assumido a nacionalidade brasileira

Getty Images Getty Images

A havaiana mais brasileira que existe

Tatiana chegou a aprender português quando bebê, com a mãe, mas acabou esquecendo. Ela e o irmão mais velho Troy ficavam com o pai Doug enquanto Tanira ia trabalhar, mas a comunicação ficou difícil.

"A gente falava em português com ele, mas ele não entendia o que estávamos falando. Tipo, a gente pedia: 'Pai, quero ir para a praia'. E ele entendia que a gente queria 'papaya', que é mamão em inglês. Não funcionava muito bem. Aí, ele pediu para que minha mãe falasse em inglês com a gente. Então a gente começou a falar mais inglês do que português e crescendo nos Estados Unidos focamos no inglês."

Quando "virou brasileira", Tati estudou bastante para dominar o português. E sabe o que deu o maior empurrão neste sentido? O amor! Assim que o relacionamento com o brasileiro Jessé Mendes ficou sério, a havaiana se esforçou para se comunicar com os sogros do idioma deles.

"Comecei a namorar Jessé e falava com os pais dele, mas eles não falavam nada de inglês. Pensei: 'Agora, eu tenho que falar português, porque quero conversar com eles'. Além disso, eu queria muito conversar com as pessoas, ficar sozinha no país. Eu fui melhorando e agora estou evoluindo ainda, aprendendo. Português é realmente difícil, comparando com o inglês", comentou.

Reprodução/Instagram

Sorte no jogo e também no amor

Foi graças ao surfe que Tatiana encontrou a "melhor pessoa da sua vida". A atleta conheceu o surfista Jessé Mendes em competições, eles se apaixonaram e estão juntos desde 2014. Hoje, ele participa do QS e ela disputa o CT.

"Sentia que conhecia ele há muito tempo. É uma relação muito fácil, ele é uma pessoa com muita paciência. É a melhor pessoa da minha vida. E é super legal sermos um casal de surfistas. Curtimos muito. Treinamos juntos... É muito legal. Ele conhece meu surfe melhor do que todo mundo", comentou.

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"Surfe não tinha o respeito que merecia"

Na opinião de Tatiana, o surfe já sofreu muito preconceito, até mesmo no Havaí, onde era difícil conseguir patrocínio. A atleta contou que a visão mais profissional em relação à modalidade existia no estado americano da Califórnia, mas não no arquipélago do pacífico onde foi criada. Até por esse motivo, os pais precisaram ajudar ela com recursos próprios.

"O surfe não tinha um respeito que merecia. Agora, todo mundo está dando esse respeito ao nosso esporte, porque estão vendo o tanto que a gente trabalha bastante e luta muito para chegar onde está. Nós temos que surfar dependendo da natureza, e isso não é normal para qualquer esporte. Acho que as pessoas estão reconhecendo que surfe é um esporte que tem tudo a ver com as Olimpíadas", disse a havaiana-brasileira.

Chegar na Olimpíada é uma honra, especialmente na estreia no surfe em um evento tão importante como esse. Sempre amei esporte e sempre quis estar nas Olimpíadas, mas eu sabia que como eu tinha escolhido o surfe, não conseguiria participar de uma Olimpíada. Mas, hoje em dia, tudo mudou. A gente tem essa oportunidade gigante para ajudar o nosso esporte a crescer ainda mais. Isso é gigante.

Tatiana Weston-Webb, representante brasileira nos Jogos de Tóquio

Ed Sloane/World Surf League via Getty Images

Tóquio-2020 ajudou a dar mais foco à carreira

Tatiana Weston-Webb estreia na Olimpíada no dia 25 de julho, às 7h (de Tóquio), na quarta bateria, contra a francesa Johanne Defay, a japonesa Suzuko Amuri e a peruana Sofia Mulanovich. O adiamento dos Jogos por um ano por causa da pandemia de coronavírus acabou ajudando na evolução de sua carreira, segundo a brasileira.

"Sofri uma lesão em março do ano passado e, realmente, eu estava com medo de me prejudicar. Então quando anunciaram o adiamento, eu fiquei feliz. Depois disso, eu decidi ter mais responsabilidade pela minha carreira em relação aos treinos, nutrição e tudo. Desde o ano passado, o COB está me ajudando muito para me preparar fisicamente. Eu me sinto super preparada e animada. Não vejo a hora para as Olimpíadas."

Kirstin Scholtz/World Surf League via Getty Images Kirstin Scholtz/World Surf League via Getty Images
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