A história de Rui Katakura, 39 anos, é tão fora da curva que faz você duvidar. O ponto mais inacreditável é ele ter sido guarda pessoal do chefão da Yakuza da cidade japonesa de Toyohashi por três anos. Além de exigir porte físico e habilidades em artes marciais para bater em cinco pessoas ao mesmo tempo, o cargo levou este brasileiro de Marília (SP) ao submundo japonês e o tornou testemunha de seus rituais.
Rui assistiu a um mafioso cortar o próprio dedo como pedido de perdão à organização. Então, o brasileiro levou o toco decepado para benzer em um templo e pagou 30 mil ienes (R$ 1,4 mil) pelo serviço.
Você só está lendo esta matéria porque as histórias de Rui foram confirmadas. Jake Adelstein é um jornalista norte-americano baseado em Tóquio e especializado em Yakuza. Ele escreveu livros como "Tóquio proibida" e "O último Yakuza: a vida no submundo japonês". Foi com ele que a reportagem do UOL, que está no Japão para os Jogos Olímpicos de Tóquio, falou sobre Katakura.
Adelstein recebeu relatos fornecidos por Rui sobre as atividades, nomes de organizações, integrantes da máfia e seus cargos em Toyohashi. Afirmou que eles são verídicos. Acrescentou que o escritório da Yakuza do qual o brasileiro afirma ter feito parte não é o mais numeroso do Japão, mas nem por isso tem negócios inexpressivos.
Toyohashi é uma cidade de quase 400 mil habitantes com indústrias de peças automotivas que atendem Toyota, Honda, Suzuki e Mitsubishi. Há também extorsão, roubos e prostituição. Esta segunda parte acontece sob o controle da Yakuza. Katakura era responsável pela segurança do homem que comandava esta engrenagem delinquente.
Mais conhecido como Pezão, ele ressalta que foi parte da organização até 2012. Uma temporada na cadeia e o risco deportação o fizeram ajoelhar-se em frente ao patrão e pedir para deixar a Yakuza. Houve um acordo. Rui tem 10 dedos nas mãos.