Fim de contratos põem preparação brasileira em risco com Olimpíada em 2021
É unânime entre dirigentes do esporte olímpico brasileiro a certeza de que os cortes de investimento, que começaram ao fim das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, seriam mais profundos a partir do ano que vem. Com o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóqui, de 2020 para 2021, porém, o Brasil corre o sério risco de ver a reta final da preparação de seus atletas feita com ainda menos dinheiro do que o previsto. Num cenário de provável recessão mundial por causa da pandemia do coronavírus, some o fim de acordos longos de patrocínio para 2020.
A Caixa Econômica Federal é uma das preocupações. O banco estatal cortou investimentos no esporte olímpico/paraolímpico ao fim da Olimpíada do Rio, mas renovou três contratos, com redução nos repasses, com as confederações de atletismo (CBAt) e ginástica (CBG) e com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). Todos os contratos vencem no final de 2020 e precisariam ser renovados para cobrirem a preparação para os Jogos em 2021.
O problema é que a Caixa colocou o pé no freio com relação a patrocínio esportivo durante o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Dos contratos que venceram desde o início do mandato, nenhum foi renovado. O banco estatal deixou de investir em clubes de futebol, em corridas de rua, e, recentemente, decidiu não renovar com as ligas de basquete — NBB (maculino) e LBF (feminino). A tendência, ao menos até antes de o mundo virar de cabeça para baixo, é que os contratos com atletismo e ginástica não fossem renovados. Procurada, a CBG disse que o momento não é de pensar em patrocínio, mas de cumprir o período de distanciamento social, priorizando a saúde.
Os Correios já deixaram vencer, sem renovar, os contratos com handebol, tênis, rúgbi e esportes aquáticos. Na virada do ciclo, Banco do Brasil manteve, com redução de valores, o contrato com a Confederação Brasileira de Vôlei, que vence em março de 2021. Existe o risco concreto de, mesmo que o contrato venha a ser renovado, os valores envolvidos sejam expressivamente mais baixos.
"A CBV e o BB já iniciaram as tratativas visando à renovação. Preocupação existe, até porque temos agora um novo cenário de crise mundial, mas a excelente relação entre as instituições e o comprometimento da CBV em sempre honrar os compromissos com governança, ética e transparência nos faz otimistas na continuidade da parceria com o BB. A ausência de recursos implica na redução de investimentos em todos os segmentos, inclusive na preparação das equipes olímpicas, mas estaremos trabalhando ao máximo para evitar esse cenário", disse a CBV em nota.
Além das estatais, existe um risco concreto de o Bolsa Pódio deixar de existir, apesar de o governo afirmar que vai lançar novo edital no segundo semestre. O benefício, voltado a candidatos a medalhas olímpicas, faz parte do programa Bolsa Atleta, que custa cerca de R$ 140 milhões ao ano. No Plano Plurianual aprovado para 2020-2023, o governo federal reservou apenas R$ 70 milhões ao ano, inclusive para 2020. Para manter o pagamento até a Olimpíada em 2021, a Secretaria Especial do Esporte precisaria de uma injeção extra de orçamento, num momento em que o país provavelmente estará lutando contra uma recessão.
Os problemas não param por aí. Com as pessoas em casa, a tendência é que as Loterias tenham uma redução na arrecadação, o que significaria menos receitas da Lei Agnelo/Piva para o COB e para as confederações. Contratos privados também vencem, como o acordo entre CBAt e Nike e entre CBDA e Rede Globo, que é o que mantém a confederação de desportos aquáticos ainda operacional. O contrato entre CBVela e Bradesco também vence no fim do ano.
COB, CPB e confederações ainda precisam calcular o prejuízo com a pandemia do coronavírus e o adiamento dos Jogos. Isso porque a regulação da Lei Agnelo/Piva não permite que os recursos das loterias paguem multas. Caso haja multa para remarcação de passagens, por exemplo, elas precisam ser pagas com recursos privados, que são escassos.
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