"Uma tragédia anunciada", diz medalhista olímpico sobre Covid-19 em Manaus
Poucos esportistas no país representam tanto uma região como o velocista Sandro Viana. Ele teve de sair do Amazonas para construir sua carreira de medalhista olímpico, mas em todas as suas entrevistas, em qualquer reportagem ou conversa sempre fala de seu povo. Diante da calamidade que se abate sobre Manaus devido a pandemia do novo coronavírus, não seria diferente.
"Está péssimo. É uma tragédia anunciada. Cheguei de lá tem uma semana. Fiquei lá um mês e o clima nas ruas não era bom. Agora piorou".
Sandro esteve em sua terra e sentiu que o pior estava por chegar. Agora, ele está de volta a São Paulo onde, além de Herói Olímpico da Confederação Brasileira de Atletismo, ele atua como guia para atletas com deficiência visual dos 100 e 200 metros no Centro Paralímpico.
Aqui o seu depoimento sobre as mortes causadas pela pandemia na capital amazonense:
"Falar da situação que estamos vivendo na cidade de Manaus é muito triste, porque nós estamos vivendo o pior da nossa realidade. Uma realidade que estava prevista antes no sucateamento e nas péssimas condições do sistema de saúde local.
Uma situação que há 30, 40 dias quando surgiu o primeiro caso, a gente previu os dias difíceis que viriam. E foi o que aconteceu. E agora estamos vivendo uma situação bastante delicada, muito difícil. Eu até acreditei que nós conseguiríamos um êxito, porque no início, a sociedade, a população conseguiu aceitar o convite de fazer a quarentena, aceitar a proposta.
Essa proposta começou a ser executada, muito bem feita, mas logo vieram outras situações e a sociedade começou a ficar confusa, principalmente sendo motivada por falsas informações e informações negligentes que colocaram ainda mais dúvidas.
Eu cheguei a ver a cidade bastante vazia por onde andei e de repente, depois que começou a quarentena, passados em torno de 15 dias, três semanas mais ou menos, eu comecei a ver uma aglomeração muito grande. Ali me deu uma sensação ruim e entendi que a situação não ia demorar muito para ficar dificil, pra ficar muito aterrorizante e foi o que aconteceu.
E agora nós estamos vivendo uma situação muito difícil.
O esporte praticamente parou.
Parou na cidade.
O esporte deu seu exemplo e paralisou todas as suas atividades, mas é necessário que todos façam o seu papel. Mas infelizmente a situação já era precária e essa precariedade da saúde fez com que agravasse toda a situação. Agora nós estamos aqui esperando o pior passar sem saber quando teremos um recesso, um alívio, um respiro.
A sociedade não vai aguentar ficar confinada tanto tempo, existem situações distintas em que as pessoas precisam cuidar de seus afazeres, de suas responsabilidades, pagar contas, conseguir alimentos para dentro de casa, precisam se locomover. É praticamente inviável fazer que uma sociedade inteira fique praticamente parada.
E pelo contrário, em contrapartida, essa noção de única solução diante dessa polarização da situação, nós estamos aqui nessa situação deplorável e é lamentável ver pessoas perdendo suas vidas e a gente ver que não estamos vendo uma saída e sim um buraco que se cava, um buraco que se abre cada vez mais.
Então eu aqui, antes de ser atleta hoje, falando como cidadão comum, como um cidadão manauara, nascido e criado nesta cidade, eu estou muito triste com o que está acontecendo com a minha cidade. Vou fazer de tudo para que eu possa contribuir de alguma forma e orar, orar bastante para que toda essa situação ela tenha uma solução.
Hoje nós estamos vivendo uma situação que não tem um princípio, nem um meio e nem um fim. Nós estamos aqui, presos no tempo sem saber o que vai acontecer, o que vai acontecer amanhã e o que vai acontecer no próximo mês. Vendo a situação se agravar na nossa cidade, vendo o país em alguns lugares, até controlando a situação, enquanto nós caminhamos no sentido contrário.
Essa não é uma Manaus que eu queria ver, essa não é a Manaus que eu sei que cuida e que foi construída e criada com todo o trabalho para que a sociedade tivesse uma vida melhor, para que o manauara, que o manauense tivesse uma vida melhor.
Logo, é preciso fazer alguma coisa, é preciso seguir em frente, é preciso lutar, para tirar todos nós dessa situação. Alguém vai ter que fazer alguma coisa".
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