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Rebeca quer repetir Daiane e cativar torcida com Baile de Favela em Tóquio

Rebeca Andrade no Pan de Ginástica - Ricardo Bufolin / Panamerica Press / CBG
Rebeca Andrade no Pan de Ginástica Imagem: Ricardo Bufolin / Panamerica Press / CBG

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

09/06/2021 04h00

Quando começava o som do repique no ginásio, a torcida já arrepiava. Era o sinal de que vinha aí o "Brasileirinho", clássico do chorinho. Vinha aí o rebolado e o carisma de Daiane dos Santos. Quinze anos depois, outra ginasta brasileira quer reviver aquela história. Mesmo sem torcida na Arena Carioca 1, no Rio, a apresentação de Rebeca Andrade no Campeonato Pan-Americano de Ginástica Artística ao som de Baile de Favela, marco na criação do chamado funk paulistano, empolgou os fãs e fez a torcida relembrar aqueles bons tempos.

Animada por um remix da música do MC João lançada em 2015, a exibição que classificou Rebeca para a Olimpíada de Tóquio, em julho, aconteceu no sábado. Ontem à tarde (8), a ginasta de 22 anos já tinha ganhado mais de 14 mil seguidores no Instagram. A atleta do Flamengo ficou fascinada com a repercussão.

"Estou levando meu país literalmente comigo para o mundo afora. Isso é muito legal. O pessoal gosta mesmo, e a música fica na cabeça, né? Em Tóquio não vai ter público com pessoas de vários países, mas não consigo nem explicar direito a emoção. É um prazer as pessoas terem tido a Daiane como referência e agora me terem também", disse Rebeca, ao UOL Esporte.

Nascida em Diadema, na Grande São Paulo, a ginasta mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, para defender o vermelho e preto do Flamengo, clube que ela segue representando mais de uma década depois. Mais carioca do que paulista, na sua própria definição, está feliz com a música escolhida pelo coreógrafo Rhony Ferreira. "Estou levando São Paulo, o Rio, o Brasil inteiro comigo", vibra.

Mas a adaptação não foi fácil. "Estava saindo da [série com música de] Beyoncé de 2016 e achei muito diferente no começo. Hoje adoro a música, acho que combina muito comigo. Fiquei muito feliz que as pessoas gostaram também. Isso é muito importante na ginástica. Está sendo incrível", afirmou em entrevista coletiva.

Ansiedade controlada

Rebeca está aprendendo a viver um dia de cada vez, sem projetar muito o futuro. As três cirurgias de ligamento cruzado anterior do joelho, o LCA, pesadelo de qualquer atleta, deixaram cicatrizes não apenas físicas, mas também psicológicas. E atrapalharam o desenvolvimento da ginasta em momentos chave de sua carreira.

A primeira, em 2015, atrapalhou sua preparação para a Rio-2016, sua estreia olímpica. A segunda, em 2017, prejudicou sua ascensão ainda no começo do ciclo olímpico. E a terceira, em 2019, a impediu de participar do Mundial daquele ano e de ajudar o Brasil a conseguir uma vaga por equipes em Tóquio. Sem ela e sem Jade Barbosa (que se lesionou no início da competição), o país ficou sem a classificação.

Recuperada, Rebeca passou a brigar por uma vaga em Tóquio pelas Copas do Mundo por aparelhos. Estava em Doha (Qatar), classificada para a final de uma etapa, quando o esporte parou pela pandemia. A competição foi encerrada sem resultado e ela ficou sem a classificação, de novo. Aí restou a terceira alternativa, o Campeonato Pan-Americano, disputado no fim de semana, onde ela fez, no individual geral, nota que lhe daria bronze no último Mundial.

A ginasta, porém, não faz projeções. "Eu deixo essa parte de imaginar de como seria, meus resultados, com a equipe técnica. Eu chego lá e faço o que tem que fazer", diz. "Isso acaba causando uma ansiedade. Quando eu vou na minha psicóloga, a gente sempre pensa muito no presente. A gente quer medalhar, estar em Tóquio, mas isso te deixa ansiosa pela espera de resultado, joga uma pressão. Não quero isso para mim."

De forma geral, Rebeca não fala de planos, repetindo um discurso que é usado como mantra na seleção de ginástica. Mas ela disse que pretende brigar por cinco finais em Tóquio, o que significa que existe o plano de ela competir no salto. Nesse exercício, especificamente, cada atleta precisa fazer duas apresentações para ser elegível para uma final no aparelho. Por conta dos riscos de lesões, poucas atletas costumam arriscar.

Pela capacidade de competir bem em todos os aparelhos e pela explosão física, Rebeca é sempre comparada a Simone Biles, que ela vê como um ídolo. "Eu acho incrível o que ela faz, adoro ver ela explorando todas as possibilidades. Mas não vejo ela como rival. Eu sou minha maior adversária, não são as pessoas que estão ao meu redor. A única pessoa que pode me atrapalhar sou eu mesma", afirma.