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Dona de medalha feminina inédita, Ketleyn volta à Olimpíada após 13 anos

Ketleyn Quadros celebra sua medalha de bronze em Pequim - Paul Gilham/Getty Images
Ketleyn Quadros celebra sua medalha de bronze em Pequim Imagem: Paul Gilham/Getty Images

Letícia Lázaro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/07/2021 04h00

Treze anos depois de se tornar a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha olímpica em um esporte individual, a judoca Ketleyn Quadros se prepara para sua segunda Olimpíada e sonha com um novo pódio.

Em 2008, aos 20 anos, Ketleyn subia ao pódio Pequim para receber o bronze na categoria leve (até 57 quilos) e abria caminho para outras atletas brasileiras: desde então, sete mulheres já ganharam medalhas em esportes individuais. A judoca não sabia, mas naquele momento tinha acabado de se tornar o ponto inicial de uma grande mudança no judô brasileiro.

"Eu não tinha a dimensão do quanto isso foi importante para a nossa modalidade, para nós brasileiras. Todo dia em que estou treinando, todo o amor que eu tenho pela modalidade eu tento sempre retribuir. Com muita dedicação, com muita garra", contou Ketleyn ao UOL Esporte.

Hoje, aos 33 anos, mais madura e experiente, a judoca de Ceilândia, no Distrito Federal, conquistou vaga para a sua segunda Olimpíada, em Tóquio. Nesse período, o judô brasileiro feminino conseguiu mais alguns "ippons" e ganhou outras quatro medalhas olímpicas desde aquele primeiro bronze em Pequim.

Em Londres, em 2012, Sarah Menezes tornou-se a primeira judoca brasileira a conquistar um ouro olímpico, enquanto Mayra Aguiar conquistou um bronze. No Rio, em 2016, mais duas medalhas, com Mayra, que levou outro bronze, e Rafaela Silva, vencendo o ouro.

A melhora no desempenho das mulheres no judô está diretamente relacionada com a conquista de Ketleyn na China. "Tivemos mais credibilidade, abriu porta para patrocinadores, a gente teve um investimento maior de preparação. O número de mulheres e meninas praticantes na modalidade aumentou", afirma a judoca.

Aquela medalha também lhe trouxe ganhos pessoas. Com a vitória, veio a chance de melhorar sua vida financeira graças à visibilidade e melhor estrutura para treinar e competir. Também veio a pressão para se manter no topo. Apesar de não ter conseguido vaga nas duas últimas Olimpíadas, Ketleyn seguiu competindo em alto nível e, agora, tem mais uma chance.

Ketleyn Quadros durante Grand Slam de Abu Dhabi de judô, em 2019 - Roberto Castro/Rede do Esporte - Roberto Castro/Rede do Esporte
Ketleyn Quadros durante Grand Slam de Abu Dhabi de judô, em 2019
Imagem: Roberto Castro/Rede do Esporte

Judô em transição

O cenário atual é diferente do que levou Ketleyn a Pequim. As três últimas medalhistas olímpicas do judô feminino viveram situações que, de certa forma, obrigaram a modalidade a passar por uma fase de transição. Sarah Menezes acabou de ser mãe e hoje está em uma pausa na carreira. Já Rafaela Silva está proibida de competir após ter sido pega no antidoping.

Mayra Aguiar, a primeira mulher do judô feminino brasileiro a conquistar duas medalhas olímpicas, estará em Tóquio após sofrer uma séria lesão no joelho ano passado.

Com essas mudanças, a modalidade precisou se renovar. Dessa forma, o Brasil chega ao Japão com uma equipe bem mesclada, com atletas de diferentes idades.

"Toda transição tem as suas dificuldades da mudança. A gente está passando por essa transição em um período extremamente desafiador, que é a pandemia. Mas eu acredito piamente nessa renovação. É superimportante, tem que acontecer", afirma a judoca.

Ketleyn conhece seu papel dentro da equipe olímpica. Caminhando para a fase final de sua carreira, a atleta diz que a cultura do judô ajuda na evolução dos jovens que, desde cedo, têm a oportunidade de treinar com grandes ídolos do esporte.

"A gente entende que nossa carreira de alto rendimento tem um início, meio e fim. Toda vez que alguém esta próximo do fim, está sendo o inicio de alguém. Tem que ser assim."

A judoca afirma ter como um dos seus principais objetivos atualmente "retribuir" tudo o que o judô proporcionou a ela. Ela se vê preparada para assumir um papel de liderança no grupo, muito diferente do que aconteceu há 13 anos, quando era uma novata olímpica.

"É uma responsabilidade e uma obrigação de retribuir tudo aquilo que foi dado a você", disse. "Eu me sinto privilegiada e tento me esforçar todos os dias para realmente mostrar o quanto isso é importante para todos nós. Mas, por mais que eu faça tudo isso, eu acho que ainda vai ser pouco para demonstrar todo o amor."

"Me sinto melhor que 2008. Me sinto uma Ketleyn madura, mais consciente, com um mental melhor pra lidar com as adversidades", disse.

É difícil prever qual será o resultado de Ketleyn em Tóquio. Mas, independente do que aconteça, as marcas deixadas pela primeira mulher a subir no pódio no judô feminino estarão em todas as brasileiras que pisarem no tatame da Olimpíada.