Judocas brasileiros reverenciam o Budokan, templo das competições olímpicas
Um giboshi, gema em formato de cebola, fica no alto do teto octogonal do Nippon Budokan, para a proteção contra maus espíritos. Ali, judocas de todo o mundo competirão nestas Olimpíadas de Tóquio, prestando reverência como num templo sagrado. Ali, lutaram em 1964 os representantes do esporte que estreava no programa olímpico, e também passaram outras artes marciais e artistas com seus shows.
Será nesse lendário Budokan, no Parque Kitanomaru - coração da capital japonesa -, que os brasileiros irão competir, a partir de sábado (24). Por mais focados que possam estar na briga por medalhas, impossível não misturar sensações de reverência e honra, alguns dos valores do próprio judô.
Aos 34 anos, em sua terceira Olimpíada e com dois bronzes conquistados, Rafael "Baby" Silva (categoria +100kg) se sente parte de uma geração privilegiada, como ele mesmo diz, por ter lutado em casa nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e agora em sua "segunda casa", o Japão, berço do esporte que escolheu.
"É um baita privilégio. A gente fica vendo aquelas fitas VHS antigas e fotos de Tóquio-1964, quando foi a estreia do judô nos Jogos, o legado olímpico... E ainda ter a oportunidade de lutar em um lugar histórico. É muito emocionante. Foi em casa, no Rio, e agora no Japão."
Gabriela Chibana (48kg) confessa a expectativa de competir em um lugar sagrado, nas palavras dela. Depois de uma lesão em treino realizado em Portugal, procurou não se desesperar e ser objetiva para chegar aos Jogos Olímpicos.
"Eu me superei e me sinto grata. Buscar a medalha é meu sonho. Tive a Sarah Menezes como exemplo em Londres-2012 [a piauiense foi ouro na mesma categoria], onde tudo era mágico. Fiquei feliz de ajudar e agora ela me mandou mensagem desejando muita sorte. O judô é isso, um ajudando o outro", lembra Gabriela, contando da experiência de ter sido sparring de Sarah nove anos atrás.
A atleta de 27 anos agradece aos que construíram a história do judô brasileiro pela oportunidade dela mesma estar em Tóquio. Sua família é de Okinawa e, por isso, diz que tem ainda a sensação de pertencimento, de entender o significado da filosofia, saber da história de onde vem o judô. "Eu me sinto parte da cultura japonesa, tenho muito orgulho do nosso esporte e também de participar dos Jogos no Japão."
Eric Takabatake (60kg) ficou sem vaga na Rio-2016. Tirou disso a motivação para seguir na batalha e conseguir competir em Tóquio, aos 30 anos. Ele diz que já lutou no Budokan, que é um ginásio diferente (é oitavado - e esse formato sobe das oito divisórias das arquibancadas para o mesmo formato do teto), com um clima diferente.
"Claro que gostaria muito que tivesse público, mas não vai deixar de ser especial e incrível. É um sonho único lutar no Japão, pelos Jogos Olímpicos e no lugar sagrado do judô."
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