'Estamos muito bem preparadas', garante Pia Sundhage
Bicampeã olímpica, a técnica Pia Sundhage vê a seleção brasileira "muito bem preparada" para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A sueca, porém, reconheceu o favoritismo de outras seleções.
Aos 61 anos, Pia vai comandar a seleção brasileira no Japão em sua quinta Olimpíada. Ela conquistou o ouro com os Estados Unidos em Pequim 2008 e Londres 2012. Com a Suécia, conquistou a medalha de prata em 2016.
"Estou muito feliz com a forma como as jogadoras responderam. Demos o melhor de cada uma, e acho que estamos muito bem preparadas", disse ela em entrevista à AFP direto da cidade de Portland, nos Estados Unidos, onde se preparam antes de viajar na quinta-feira para a capital japonesa.
Com um elenco de 22 jogadoras, que mantém a base do time que foi eliminado nas oitavas de final pelas donas da casa na Copa do Mundo da França 2019, apoiado por jovens do campeonato brasileiro, Sundhage está entusiasmada com a possibilidade de conquistar o primeiro ouro pelo Brasil, embora ela destaque a força de suas rivais.
"As favoritas para ganhar medalhas no futebol feminino são os Estados Unidos. É claro que se fala do Japão e de duas seleções europeias: Holanda e Suécia. Mas direi uma coisa: se chegar às quartas de final, e estamos fazendo todo o possível para que assim seja, qualquer uma das oito seleções pode conquistar a medalha de ouro", garante a treinadora.
Nova aventura
Sem a maior artilharia dos Jogos Olímpicos, Cristiane (14 gols), ausente por decisão técnica, a seleção abre o Grupo F contra a China no dia 21 de julho. Holanda e Zâmbia completam a chave.
A estrela mundial Marta, de 35 anos, e a meia Formiga, de 43, vão liderar o Brasil em sua tentativa de desafiar a esmagadora hegemonia americana e europeia no futebol feminino.
"Marta é uma jogadora fantástica, mas ainda assim, ela precisa de um time", argumenta Pia.
Para Sundhage, considerada pela Fifa a melhor treinadora de 2012, o trabalho coletivo é a prioridade, mesmo quando a bola não rola. Ela ainda não é fluente em português, então as jogadoras que falam inglês passam suas ordens para as outras.
"O português é muito, muito difícil", brinca, com o mesmo carisma que exibe em vídeos engraçados sobre sua vida carioca, que compartilha nas redes sociais.
"Estamos falando de finais e medalhas de ouro, mas para mim é uma aventura, tenho que curtir a aventura", explica.
Mulheres contra o assédio
Além de uma carreira de sucesso como treinadora, que inclui o vice-campeonato mundial com os Estados Unidos na Copa da Alemanha 2011, Sundhage foi uma das primeiras expoentes do futebol feminino.
Com a Suécia, ela marcou 71 gols em 144 jogos, foi campeã da primeira Eurocopa feminina (1984) e disputou a primeira Copa do Mundo feminina (China 1991) além do primeiro torneio olímpico feminino (Atlanta 1996).
"Até agora tem sido uma jornada fantástica. Já treinei em vários países e o Brasil é uma nação do futebol, eu realmente percebo isso. Também sinto grandes expectativas", afirma.
Tóquio será sua estreia em uma competição oficial com a seleção brasileira, a quem dirigiu em 18 jogos, com onze vitórias, cinco empates e duas derrotas.
A pandemia, que atinge fortemente o Brasil, reduziu consideravelmente os jogos preparatórios. Estados Unidos, Holanda e Suécia tiveram a oportunidade de disputar mais partidas.
"Mas, por outro lado, fizemos algumas concentrações, tentamos dar o nosso melhor. Às vezes a vida não é justa, mas é preciso fazer alguma coisa a respeito", explica, após ter assegurado que está ciente da "preocupação" dos japoneses em receber um evento no meio de uma emergência sanitária.
A reta final para as Olimpíadas teve outra turbulência. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Rogério Caboclo, que a contratou, foi afastado temporariamente do cargo há um mês devido a denúncias de assédio sexual por parte de uma funcionária. O dirigente defende sua inocência.
No primeiro jogo que disputaram após o escândalo, um amistoso contra a Rússia na Espanha, a Seleção entrou em campo com uma faixa contra o assédio, em um dos últimos exemplos de protestos femininos que muitas vezes esbarram no silêncio dos jogadores.
"Seria ainda mais importante se os homens fizessem o mesmo, porque se trata da humanidade, do tipo de sociedade que queremos", conclui.
*Com informações da AFP
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