Além do esporte: atletas abrem mão das Olimpíadas por convicções pessoais
As Olimpíadas são o grande objetivo de todo esportista que compete em alto nível. Mesmo assim, às vezes, alguns atletas tomam a decisão de não participar dos Jogos Olímpicos por motivos que extrapolam a questão do esporte. Seja por motivações políticas ou de saúde pública, este ano, alguns atletas abriram mão de participar dos Jogos de Tóquio.
Protesto contra golpe militar
Em abril, o principal nadador do Mianmar, Win Htet Oo, desistiu oficialmente de competir na Olimpíada de Tóquio. Em comunicado, o atleta birmanês anunciou que não poderia realizar um dos seus maiores objetivos na vida: representar Mianmar, um país com pouca tradição olímpica, em um dos maiores cenários do esporte. O motivo? O golpe militar que ocorreu no país há cinco meses.
Win Htet Oo vive na Austrália e se recusou a disputar os Jogos por acreditar que utilizar as cores do país significaria representar um governo responsável por um golpe antidemocrático. Em fevereiro, forças militares do país asiático prenderam líderes políticos locais e tomaram o poder do então presidente eleito, Win Myint.
Depois do golpe, o nadador de 26 anos questionou a relação do Comitê Olímpico Internacional (COI) com o Comitê Olímpico de Mianmar que, segundo ele, aceitou ficar ao lado de um governo que fez a população birmanesa sofrer. O Comitê Local manteve sua posição.
"Depois de duas décadas, eu posso estar dizendo adeus a um sonho que tenho desde que aprendi a nadar. Não vou poder estar ao lado dos melhores atletas do mundo, mas eu também não vou marchar em um desfile com centenas de nações com uma bandeira que pisou no sangue do meu povo", escreveu Win Htet Oo em seu comunicado.
Em entrevista à Time, o nadador revelou que chegou a solicitar ao COI a permissão para competir sob bandeira neutra, o que foi negado. O Comitê Olímpico Internacional alegou que deveria se manter "politicamente neutro".
"Minha carreira esportiva não é nada comparada a tudo o que eles [população birmanesa] perderam. Eles perderam a chance de se estabelecer, ter uma família, uma carreira", disse Htet Oo, afirmando que não se arrepende da decisão.
Nadadora protesta contra "misóginos pervertidos"
A nadadora Madeline Groves, que ganhou duas medalhas de prata (200m borboleta e 4x100m medley) na Olimpíada do Rio, anunciou pelas redes sociais que não ia participar do torneio classificatório para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
"Você não pode mais explorar mulheres jovens e meninas, discriminar seus corpos e então esperar que elas representem você para que você possa ganhar seu bônus anual", disse a australiana, sem dar mais detalhes. A atleta afirmou em seguida que a desistência é um recado para os "misóginos pervertidos" no esporte.
De acordo com Kieren Perkins, presidente da Federação de Natação da Austrália, a atleta de 26 anos não fez uma denúncia formal sobre qualquer incidente ocorrido.
"A verdade é que tudo o que sabemos é o que está nas redes sociais", disse Perkins ao canal de TV australiano, Channel 9. "Em nenhum momento ela entrou em contato com a Federação. Não conseguimos falar diretamente com ela e não pudemos conversar sobre sua preocupações".
Ano passado, Maddie revelou no Twitter já ter recebido comentários inapropriados de um "treinador famoso", que fez um comentário ofensivo após um questionamento sobre seus estudos.
"Lembrei de uma vez que um treinador conhecido (não o meu) me perguntou sobre a universidade e eu disse a ele que uma das minhas matérias era 'Amor, Relacionamentos e Sexo'. Ele respondeu com uma voz assustadora: "oh, você sabe de tudo", relatou a atleta.
Depois da denúncia, a Federação de Natação da Austrália divulgou um comunicado afirmando que procurou Madeline para apurar o caso, mas que a nadadora teria se recusado a dar mais informações sobre o assunto.
Pandemia
A pandemia da covid-19 também foi motivo de preocupação por parte dos atletas. Alguns esportistas levaram em conta a situação atual do mundo na decisão de participar ou não dos Jogos Olímpicos. Este foi o motivo alegado pela tenista Bianca Andreescu para sua desistência.
Na última semana, a canadense, que é atual número 5 do mundo, anunciou a decisão "muito difícil" de desistir de competir nas Olimpíadas de Tóquio. Ela também deixou aberta a possibilidade de participar da Olimpíada em Paris, daqui a três anos.
"Tenho sonhado em representar o Canadá nas Olimpíadas desde que era uma menina, mas com todos os desafios que enfrentamos no que diz respeito à pandemia, sei que no fundo do meu coração, esta é a decisão certa a tomar ", escreveu Andreescu em seu Instagram.
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