Topo

Vaivém Olímpico: depois do Dream Team de Barcelona-1992, lá vem a Nigéria

O Dream Team, ouro em Barcelona 1992, com Michael Jordan escondendo a marca adversária debaixo da bandeira - Dimitri Iundt/Corbis/VCG via Getty Images
O Dream Team, ouro em Barcelona 1992, com Michael Jordan escondendo a marca adversária debaixo da bandeira Imagem: Dimitri Iundt/Corbis/VCG via Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, de São Paulo

19/07/2021 04h12

Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, Angola, o representante da África, enfrentou Michael Jordan, Magic Johnson, Charles Barkley, Larry Bird em seu primeiro jogo. Seu técnico, Victorino Cunha, disse aos jogadores que a meta era não perder por mais de 45 pontos. O Dream Team abriu 46 a 1 (o "1" foi por uma falta flagrante de Barkley) no início do jogo. E fechou o jogo em 116 a 48. Foram 68 pontos de diferença. Na coletiva de imprensa, Jordan disse, rindo, que "deixava" Barkley brilhar.

Quem chegava perto desses jogadores ficava impressionado. Não que a altura fosse enorme. Jordan e Barkley tinham apenas 1,98m, baixinhos para o parâmetro atual. Mas, mesmo com menos de dois metros de altura, o tamanho do corpo agigantado impressionava. Eu, jornalista, ao conversar com os "dreamteamers", olhava para o alto, com a cabeça na altura das barrigas daqueles jogadores.

Em quadra, onde a diferença de altura não era tão grande, os jogadores dos outros times pediam fotos, autógrafos... O deslumbramento era total.

E. se o Dream Team se divertia com tudo isso, os jornalistas norte-americanos especializados em NBA queriam mandar na sala de imprensa, no horário dos ônibus que deixavam o ginásio em Badalona (ao lado de Barcelona). Emburravam, mas ninguém dava a mínima.

Veio o ouro, Jordan desfilou com a bandeira dos Estados Unidos no ombro ao subir ao pódio ("patrioticamente" para esconder a marca Reebok do uniforme da delegação, porque tinha contrato com a Nike). No pódio, o Dream Team deu as costas para o rei da Espanha, Juan Carlos, que estava na tribuna. E para o ator Michael Douglas, com um quilo de "base" na cara.

Foram três medalhas de ouro seguidas até Atenas-2004, Naquela Olimpíada, o título foi da Argentina do técnico Rubén Magnano (que depois treinou a seleção brasileira), com Manu Ginóbili no comando do time. Esses argentinos tinham um belo "precedente": haviam derrotado os Estados Unidos no Mundial de Indianápolis 2002, para ficar com a prata, perdendo da Iugoslávia na final.

Foi o time de 2004, e aquela derrota para a Argentina, que fez com que os EUA voltasse a chamar seus melhores jogadores e recuperasse a medalha de ouro. Foram três desde então.

Essa introdução vem porque a história daqueles tempos é parecida com a atual.

No último dia 10, quando os EUA jogavam seu primeiro jogo-treino na preparação para as Olimpíadas de Tóquio, uma derrota surpreendente: 90 a 87 para a Nigéria.

Caleb Agada, da Nigéria, marca Kevin Durant, dos EUA, em amistoso de basquete - Ethan Miller/AFP - Ethan Miller/AFP
Caleb Agada, da Nigéria, marca Kevin Durant, dos EUA, em amistoso de basquete
Imagem: Ethan Miller/AFP

Mas quem são esses nigerianos?

Na Olimpíada de Londres 2012, os norte-americanos bateram a Nigéria por 83 pontos (!). Há cinco anos, em um amistoso, por 43. O time que venceu não só os EUA mas também a Argentina, no mesmo quadrangular amistoso, por 94 a 71, estão treinando juntos desde 27 de junho. Oito dos 15 "Tigres", como a seleção masculina da Nigéria se denomina, jogam na NBA. São treinados por Mike Brown, assistente técnico do Golden State Warriors, que assumiu a seleção da Nigéria no início de 2020.

Ike Diogu, talvez o jogador nigeriano mais famoso da última década, não está no time. Brown começou contra os EUA com três jogadores do Miami Heat (Precious Achiuwa, Chikezie "KZ" Okpala e Gabe Vincent —que "assina" Gabe Nnamdi na seleção), um do Minnesota Timberwolves (Josh Okogie) e Ike Nwamu, que nasceu nos EUA e joga na liga da Rùssia.

O time ainda tem Chimezie Metu, dos Sacramento Kings, Jordan Nwora, do Milwaukee Bucks, Miye Oni, do Utah Jazz, e Jahlil Okafor, do Detroit Pistons. Com 25 anos e também nascido nos EUA, Okafor faz sua estreia internacional pela Nigéria e, contra a Argentina, foi o líder de seu time. Somou 15 pontos em menos de 15 minutos, pegou sete rebotes e mostrou eficiência em quadra de 87,5%. Completam o time Michael Gbinjie e Ekpe Udoh, também com experiência na NBA, e Caleb Agada, que está em um time de Israel, mas deve jogar as ligas de verão pelo Denver Nuggets.