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Destaque contra Holanda, Barbra é "heroína" na Zâmbia e se destacou no boxe

Barbra Banda, jogadora da Zâmbia, no duelo com a Holanda, no primeiro dia de futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Tóqui - Koki Nagahama/Getty Images
Barbra Banda, jogadora da Zâmbia, no duelo com a Holanda, no primeiro dia de futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Tóqui Imagem: Koki Nagahama/Getty Images

Colaboração ao UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

21/07/2021 15h38

A seleção de futebol feminino da Holanda estreou nos Jogos Olímpicos com uma sonora goleada sobre a Zâmbia, mas um dos grandes nomes da partida foi Barbra Banda. A destemida atacante, e capitã, marcou os três gols da equipe africana na derrota por 10 a 3 e justificou o porquê de ter desembarcado em Tóquio sob expectativas positivas.

Considerada quase que uma heroína no país natal, Banda, inclusive, se destaca não apenas com os pés, mas também com as mãos. Um dos principais nomes da seleção da Zâmbia, ela, que se tornou a primeira jogadora do país a atuar na Europa, também se desenvolveu no boxe.

O esporte apareceu na vida de Barbra assim como na de muitos jovens que vivem em condições precárias e estão quase à margem da sociedade: um refúgio para uma busca por melhores conjunturas. Joyce Nkhoma, mãe da jogadora, conta que deu o impulso para que a filha seguisse um caminho diferente de outras jovens da comunidade em que morava, localizada na capital Lusaka.

"A razão pela qual coloquei a Barbra no boxe e no futebol é porque o esporte é bom, ajuda os jovens. As meninas na comunidade carecem de atividades esportivas. Muitas destas jovens consomem bebida alcoólica e são encontradas em clubes. Eu já a assisti várias vezes e vi os gols que ela marcou. Ela traz orgulho a mim e à comunidade", disse, em entrevista publicada pela BBC em dezembro de 2018.

Barbra deu os primeiros passos no futebol ainda em um campo de terra, na vizinhança. Sem poder ter chuteiras, jogava descalça. Depois, defendeu o Green Buffaloes, de Zâmbia, e esteve no EDF Logroño, da Espanha, quando se tornou a primeira do país a atuar em um clube europeu. Atualmente, esta no Shanghai Shenglin, da China.

"Comecei a jogar futebol e não tinha chuteira. Não foi legal ver meus amigos calçando chuteiras e eu brincando descalça. Normalmente, assistia ao futebol feminino e me inspirava muito em outros times do mundo. Fui ao futebol para mudar minha vida porque ficar sentada no complexo, às vezes, traz outros problemas para nós, meninas. Você entra em alguns outros abusos, como começar a beber cerveja", apontou ela, na ocasião da mesma produção.

A atleta lembra que, além das notórias dificuldades, ainda teve de driblar um outro obstáculo no esporte.

"Comecei a jogar futebol quando era muito jovem, entre seis ou sete anos. Na verdade, quando comecei, costumava jogar com meninos porque na academia em que eu jogava não tinha o time feminino. Mas, independentemente de quaisquer comentários que faziam, eu estava determinada a jogar futebol", contou, em entrevista à AFP.

Mais do que uma atleta olímpica, Barbra também é inspiração. Melisa Saili, ex-treinadora, além de ressaltar a determinação que a atacante sempre mostrou, indicou como a jovem é vista na Zâmbia.

"Tenho uma sobrinha de 14 anos que me diz 'Quero ser como Barbra quando crescer', porque Barbra é uma heroína para eles. É um exemplo brilhante de como as meninas devem se comportar", afirmou, à BBC.

Destaque no boxe

Barbra Banda, jogadora de futebol da Zâmbia, também já se destacou no boxe - Reprodução BBC - Reprodução BBC
Imagem: Reprodução BBC

Barbra também já destacou em outra modalidade. Ela treinou boxe e conquistou bons resultados em torneios amadores, e foi justamente as vitórias que, segundo a atleta, fizeram com que novas lutas ficassem mais difíceis de serem marcadas.

"Há uma lutadora de boxe na Zâmbia, Catherine Phiri. Eu costumava observá-la. Então me inspirei nela e tive de tentar boxe. Comecei a treinar como amador, mas, então, os boxeadores amadores começaram a se recusar a lutar comigo porque eu não tive perdas no boxe amador", contou.

Segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a camisa 11 venceu os cinco combates que teve profissionalmente.

Jovem determinada

Melisa Saili conta que, ainda no sub-17, Barbra já demonstrava ter muito foco. Para exemplificar, ela lembrou um episódio em que a jogadora quis atuar mesmo sem estar na plena condição física:

"Quando era minha jogadora no sub-17, o que a fez se destacar para mim, como treinadora, foi a determinação. Teve um jogo em ela estava machucada e falou: 'vou ignorar a dor, vou jogar pelo meu país'. E ela jogou aquela partida muito bem".

Classificação

Ao falar sobre a classificação aos Jogos Olímpicos de Tóquio, Barbra, por sua vez, pontuou que o futebol feminino na África tem a evoluir.

"Simplesmente trouxe felicidade ao país e, agora, todo mundo está falando sobre futebol feminino, porque na África não é tão desenvolvido. Eles estavam se concentrando apenas nas equipes masculinas, mas, agora, pelo menos, estão falando sobre as mulheres", salientou, à AFP.