Biles sobe ao "palco" pela 1ª vez, mostra elemento inédito e ganha aplausos
O nome é treino de pódio, mas o que Simone Biles fez hoje (22) no Ariake Gymnastics Centre foi um treino de palco. A estrela máxima dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ao menos até a competição começar efetivamente, testou um cenário em que todas as câmeras, todos os olhos, todos os flashes, estavam voltados para ela.
A simulação da competição é uma etapa importante de um torneio de ginástica e, por isso, faz parte da programação oficial. É a única oportunidade para se testar o local certo de começar a correr até o salto, a rigidez da barra, o quanto o solo joga a ginasta para cima.
É também a chance de Biles mostrar que sabe fazer o Yurchenko double pike, exercício dificílimo, e que ela não o executa durante uma competição nos saltos simplesmente porque não quer. O que limita a norte-americana é o risco de se machucar, que é maior do que o risco de perder uma competição sem fazê-lo.
Com um collant preto, Biles começou seu treino de pódio pelo solo. Era a primeira apresentação pública dela no ginásio de onde ela deve sair, daqui a dez dias, consagrada. A expectativa é que Biles ganhe as seis de medalhas de ouro possíveis na ginástica feminina: por equipes, no individual geral (em que todas as atletas disputam todos os aparelhos), e nos quatro aparelhos individualmente (solo, salto, trave e assimétricas). Na Olimpíada do Rio, ganhou quatro ouros e um bronze.
Havia ginastas de outras equipes se apresentando nos outros três aparelhos, mas quase todos dentro do local de competição viraram seus olhos para Biles. Um técnico da Austrália levantou e apontou o flash do celular para a norte-americana. Um treinador de Portugal passou a filmar o solo enquanto a portuguesa treinava na trave. Chilena, romenas, turca, todas se voltaram para a grande estrela.
Era só um treino, mas pelo menos 40 fotógrafos estavam espalhados pelo ginásio, aproveitando que, sem público, é possível ocupar posições antes inacessíveis, retratando Biles de ângulos diferentes. Na tribuna de imprensa, que ficou quase vazia depois do treino da norte-americana, imperou o silêncio, só quebrado por uma salva de palmas vinda de diferentes partes do ginásio, mas que outras ginastas não mereceram.
Quando chegou no salto, Biles fez a respiração do Ariake Gymnastics Centre ser prendida algumas vezes. A cada vez que ela se posicionava para uma corrida, vinha a expectativa pelo que apresentaria. Foram seis ou sete saltos fáceis (para os padrões Simone Biles) até finalmente executar o Yurchenko double pike, que só tem esse nome porque a americana ainda não o apresentou em uma competição da Federação Internacional de Ginástica (FIG).
Exibido apenas em um torneio local dos Estados Unidos, que tem outras regras, o Yurchenko double pike vai virar o quinto "Biles" quando a ginasta o executar em um dos poucos eventos FIG dos quais participa. Não deverá ser em Tóquio, pelo que indicou a treinadora dela na saída do tablado.
A presença de Biles também serviu para começar a testar o modelo de zona mista que está sendo implementado na Olimpíada. Normalmente os jornalistas se acotovelariam em uma grade, esticando seus braços para deixar o gravador, quase sempre um celular, mais perto da boca do entrevistado.
Em Tóquio, os jornalistas, separados por um metro dos demais, pela frente, por trás e pelos lados, depositam seus celulares em bandejas que são colocadas sob uma banqueta, que fica na frente do entrevistado. Mais de 20 repórteres esperaram Biles, que passou pela zona mista sem olhar para o lado. Não deu oi, nem tchau. A partir do seu silêncio, todos presumiram que ela não queria falar. Já vai ter que gastar saliva com entrevistas após cada medalha que conquistar em Tóquio. E deverão ser seis.
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