Contra sexualização, ginastas alemãs abandonam collants e usam calças
A competição de ginástica artística de Tóquio nem começou, mas as atletas da Alemanha já protagonizaram um momento para a história da modalidade e dos Jogos Olímpicos. Em fato inédito, elas se apresentaram no treino de pódio, realizado hoje (22), usando calças que cobrem as pernas, até o tornozelo, como forma de protesto contra os tradicionais collants que deixam a maior parte de seus corpos expostos.
O uso de vestimentas de corpo inteiro, conhecidas pelo termo em inglês full-body suit, não é proibido na ginástica. Seu uso é previsto no regulamento da Federação Internacional de Ginástica (FIG) com o objetivo de incluir atletas que não podem usar os collants cavados na virilha, normalmente por motivos religiosos. Mas o que as alemãs fizeram hoje foi um posicionamento político.
"Temos a ideia de que cada ginasta deve estar confortável com as roupas que usa, e por isso criamos essa vestimenta. É muito importante que cada mulher use aquilo que ela quiser", explicou, ao UOL Esporte, a ginasta Pauline Schäfer.
A iniciativa de competir com pernas, nádegas e virilha cobertas partiu da alemã Sarah Voss, que apareceu com um modelo assim na fase classificatória do Campeonato Europeu da modalidade, em abril, na Suíça. Na final da competição, Kim Bui e Elisabeth Seitz também apareceram vestindo a roupa de corpo todo.
"Foi particularmente importante para nós dar o exemplo, para encorajar outras mulheres, e especialmente as atletas mais jovens, a usar o que elas se sentem mais confortáveis. Este pode ser o amado collant curto ou o full-body suit. Nós, ginastas da seleção alemã, reservamo-nos o direito de decidir, dependendo da situação, como nos sentimos mais confortáveis. A nova possibilidade de autodeterminação quanto à escolha das roupas nos dará ainda mais forças no futuro", postou Voss no Instagram.
"Para nós, foi importante acima de tudo atingir as jovens atletas, porque muitas vezes elas não querem continuar no esporte durante a puberdade devido ao código de vestimenta. Queremos mostrar a elas que nós, atletas de competição, também usamos isso e podemos nos apresentar dessa maneira e que todos devem decidir o que querem vestir", afirmou a mesma ginasta em entrevista recente à Reuters.
Quando esse tabu foi quebrado, no Campeonato Europeu, a Federação Alemã saiu em defesa das atletas e afirmou que elas estavam se posicionando contra a "sexualização na ginástica".
A ginástica artística, afinal, tem tido que lidar com denúncias de assédio e abusos sexuais nos últimos anos, especialmente depois que vieram à tona as primeiras denúncias contra Larry Nassar. Enquanto médico da seleção norte-americana por duas décadas, ele abusou de mais de 140 meninas. Em fevereiro, um ex-técnico da seleção americana, John Geddert, foi acusado de 24 crimes, dois deles sexuais, e se suicidou antes de ser preso.
Na saída do treino de pódio hoje em Tóquio, as alemãs avisaram que não deverão repetir o uniforme na competição, que começa no domingo. Segundo Schäfer, elas preparam uma grande surpresa, sobre a qual não podem dizer nada. Ao UOL Esporte, ela contou que, na mala, estão tanto uniformes longos quanto cavados.
Na apresentação de hoje, a parte que cobria a perna era na cor roxa, o que evitou maiores polêmicas. É que no Europeu o uniforme das alemãs era preto nas pernas, o que é proibido na ginástica artística masculina pelo entendimento de que, sem contraste com elementos do ginásio, a vestimenta preta atrapalha o julgamento dos árbitros.
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