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Evaristo de Macedo viaja no tempo e curte Richarlison na estreia brasileira

Roberto Salim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/07/2021 13h47

Quando Richarlison marcou o segundo gol, aos 21 minutos do jogo contra os alemães no estádio em Yokohama, o velho astro Evaristo Macedo não deixou de sentir um friozinho na barriga. Afinal, há quase 70 anos, os brasileiros também começaram de forma fulminante a partida contra os alemães e acabaram eliminados dos Jogos Olímpicos de Helsinque. E Evaristo estava lá!

"Começamos ganhando deles por 2 a 0 também, mas..." — mas o Brasil acabou saindo da competição depois de sofrer o empate no finalzinho do segundo tempo. "O jogo foi então para a prorrogação e eles, que tinham jogadores mais fortes, mais bem preparados fisicamente, venceram por 4 a 2. Foi um jogo duro. E saímos da Olimpíada de 1952, que foi ganha pela Hungria de Puskas".

Ainda bem que nesta quinta-feira seo Evaristo assistiu a uma história diferente, pela televisão de seu apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro. O placar também foi 4 a 2. Só que para o Brasil. E com os três gols anotados, Richarlison o fez se lembrar de seus tempos de jogador artilheiro também. De atacante de 19 anos, ainda no time do Madureira.

"Na época, eu estava maravilhado com viagem internacional para a Finlândia, foi a primeira de minha carreira", relembra seo Evaristo, aos 88 anos. Ao ser convocado pelo técnico Newton Cardoso (filho de Gentil Cardoso) para compor a equipe brasileira, o menino Evaristo se surpreendeu. "Eu ainda era juvenil do Madureira e era a primeira vez que o Brasil ia disputar uma Olimpíada com o futebol. Os demais jogadores já tinham certo destaque".

Do grupo faziam parte Zózimo e Vavá, que seis anos depois foram campeões do mundo na Suécia.

"Eu tinha sofrido uma contusão em alguns amistosos preparatórios aqui no Brasil, mas ainda assim o Newton Cardoso me levou para a viagem. E participar do desfile olímpico de abertura foi emocionante. E lembro também que embora fossem Jogos de verão eu passei um friozinho lá".

Nas três partidas disputadas, Evaristo não marcou gols: 5 a 1 contra a Holanda, 2 a 1 com Luxemburgo e a derrota para os alemães por 4 a 2 (2 a 2 no tempo normal).

"Eu era o mais jovem do grupo e entrei nos três jogos, sempre no segundo tempo", recorda Evaristo. "Há alguns anos fizeram uma reportagem comigo na TV Globo e me levaram ao estádio onde disputamos as partidas em Helsinque: foi sensacional, pois o campo foi mantido e os vestiários foram preservados".

Da competição, Evaristo Macedo (jogador histórico de Barcelona e Real Madri) guarda até hoje a medalha de participação dos Jogos de Helsinque.

"Além da medalha e da emoção, a participação de meu pai nas Olimpíadas jogou luzes sobre sua carreira. No ano seguinte, ele deslanchou e foi para o Flamengo, onde brilhou e acabou indo se consagrar na Espanha", conta o advogado Pepe, um dos filhos do grande Evaristo, que só não foi para a Copa de 1958 porque a diretoria do Barcelona não o liberou para jogar na Suécia.